Descrição de chapéu Artes Cênicas

MITsp aposta na teoria decolonial e traz peças da África e da América Latina

Abertura acontece com 'Acorde Rompido', produção sul-africana que tematiza os horrores da época do apartheid

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São Paulo

A diversidade é o mantra da nona edição da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, a MITsp, que ocorre entre os dias 1º e 10 de março. Anunciada em entrevista coletiva nesta quinta-feira, a programação traz espetáculos da África, Ásia, Oriente Médio e América do Sul.

Peça 'The History of Korean Western Theatre', que integra a 9ª Mostra Internacional de Teatro de São Paulo
Peça 'The History of Korean Western Theatre', que integra a 9ª Mostra Internacional de Teatro de São Paulo - Luciano Gomes/Divulgação

A abertura acontece com a encenação de "Acorde Rompido", peça sul-africana concebida pelos artistas Gregory Maqoma e Thuthuka Sibisi. A obra é bem representativa do desejo que a mostra tem de explorar as relações entre dança e teatro, além de denunciar os impactos dos processos coloniais.

No caso de "Acorde Rompido", o engajamento político se manifesta com a tematização do apartheid, que ainda traz consequências para a sociedade sul-africana. "Estamos mais do que falando sobre decolonização, estamos construindo uma realidade decolonial", diz Antonio Araujo, diretor artístico da MITsp. "Queremos deslocar do centro aquilo que sempre esteve nessa mesma posição."

Também da África do Sul, a peça "O Circo Preto da República Bantu", de Albert Ibokwe Khoza, conta a história dos zoológicos humanos, que aprisiovam negros na Europa no século 19. Neste ano, a mostra ilumina a obra de Jaha Koo, jovem artista da Coreia do Sul. Ele encena uma trilogia, que aborda tensões entre a cultura ocidental e oriental.

Em "Lolling and Rolling", ele lembra, por exemplo, de um antigo hábito dos homens coreanos, que se submetiam a cirurgias em suas próprias línguas para falar melhor inglês.

Para os coreanos, há uma dificuldade de se pronunciar a letra "R". A trilogia se completa com "Cuckoo" e "A História do Teatro Ocidental Coreano", que tem natureza irônica ao ressaltar a excessiva
influência da cultura do Ocidente na cena teatral coreana.

Já em "Profético (Nós Já Nascemos)", peça de Nadia Beugré, artista da Costa do Marfim, o tom é alegre e satírico, quando as atrizes transexuais falam sobre as relações entre os corpos negros e o preconceito de diferentes formas.

"As artes deveriam fazer parte do projeto de todos os países", afirma Leda Maria Martins, poeta e curadora da mostra. Desse modo, a programação também busca incitar diálogos possíveis entre diferentes culturas, integrando a realidade brasileira às de outros países da América Latina.

Não por acaso, a mostra inclui dois espetáculos vindo da Argentina, que criticam, metaforicamente, o contexto socioeconômico do país, agora governado por Javier Milei.

Em "Perros - Diálogos Caninos", a atriz Monica Monelli firma uma parceria com os brasileiros Celso Curi e Renata Melo para abordar os afetos e também os confiltos do ser humano com os cachorros.

Tiziano Cruz, por seu turno, encena "Wayqecuna" —ou "Meus Irmãos", em português—, peça em que promove um retorno às origens. Como símbolo do regresso, estão os quipus, os famosos colares de algodão ou de lã de lhama tecidos pelas mulheres que vivem nas regiões andinas.

Mesmo com a vocação internacional, a Mitsp abre espaço para produções nacionais. Entre elas, está uma estreia do premiado diretor Felipe Hirsch, intitulada "Agora é Tudo Tão Velho — Fantasmagoria IV" e encenada pelo coletivo Ultralíricos.

Outros artistas brasileiros que terão espaço na Mitsp são Janaína Leite, Alexandre Dal Farra e Wagner Schwartz. Em paralelo à programação principal, a Mitbr —Plataforma Brasil faz um esforço para a internacionalização das artes cênicas brasileiras, consolidando o intercâmbio cultural, que distingue a mostra.

Foram analisados 446 trabalhos e, deles, escolhidos dez. Neste ano, a obra de Wilemara Barros, integrante da companhia Dita, de Fortaleza, a capital cearense, será examinada.

Ela apresenta o seu solo "Preta Rainha", em que lembra as suas memórias, desde a formação como bailarina clássica até a experiência como artista contemporânea.

9ª Mostra Internacional de Teatro de São Paulo

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