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Teatro Oficina lava muro do Grupo Silvio Santos em protesto à intervenção

Arcos do Beco da construção foram emparedadas na manhã de segunda-feira, surpreendendo integrantes da companhia

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São Paulo

Integrantes do Teatro Oficina fizeram um protesto na tarde desta terça-feira (6) ao fechamento dos Arcos do Beco, no fundo da arena teatral, no bairro do Bexiga, centro de São Paulo. O fechamento dos Arcos do Beco surpreendeu integrantes da companhia na manhã de segunda (5). O emparedamento da fachada posterior do edifício foi realizada por funcionários do Grupo Silvio Santos, que trava há anos uma disputa pelo terreno vizinho ao Oficina.

O ato começou por volta das 13h, quando integrantes da companhia saíram do teatro de mãos dadas convidando o público a entrar no local.

Ato no Teatro Oficina contra o fechamento dos Arcos do Beco pelo Grupo Silvio Santos - Rubens Cavallari/Folhapress

Ainda de mãos dadas, as pessoas entravam e seguiam em direção aos arcos emparedados. No local, elas mergulhavam as mãos numa grande panela com uma infusão de ervas e tocavam o muro erguido pelo Grupo Silvio Santos.

Enquanto isso, as pessoas entoavam músicas como a canção "Pra Ver a Luz do Sol": "Que meus inimigos /Tenham longa vida /Para ver de perto /A nossa vitória". Após a lavagem do muro, o público se reuniu de mãos dadas no entorno do teatro para encerrar o ato.

Marcelo Drummond, viúvo de Zé Celso, diz que o ato é importante para jogar luz sobre o que está acontecendo. "A gente quer informar as pessoas. Muita gente teve uma reação de querer quebrar o muro, mas não é nada disso. Não podemos e não vamos fazer isso. Não vamos partir para a truculência."

Para ele, a atitude do Grupo Silvio Santos foi uma resposta ao acordo da Prefeitura e do Ministério Público de destinar R$ 51 milhões para a criação do Parque do Rio Bexiga no terreno da empresa, pleito antigo de Zé Celso, que liderou o Oficina por mais de quatro décadas.

A verba é proveniente de um acordo judicial com a Uninove e deve ser usada de forma prioritária para a aquisição ou desapropriação do terreno de 11 mil metros quadrados. "É quase uma atitude desesperada de chegar e mostrar que eles têm poder."

"A gente não quer trazer marreta, a gente quer dialogar", diz Camila Mota, vice-presidente do Oficina, comentando a teatralidade do protesto. "Queremos fazer uma sagração, uma feitiçaria para que isso consiga tocar uma corporação, algo muito complexo. Mas acho que toda a questão contemporânea de proteção à natureza passa por um diálogo com o capitalismo, com corporações."

Além de emparedar os arcos, o Grupo Silvio Santos retirou uma escada azul de metal, que fazia a conexão entre o teatro e a área externa, que é de propriedade do dono do SBT. Técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan, e do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico, o Condephaat, farão também nesta terça (6) uma vistoria na obra.

A sede do Oficina é tombada em grau municipal, estadual e federal. Qualquer intervenção direta ou indireta no prédio ou no seu entorno deveria ter a aprovação dos órgãos de preservação, o que não ocorreu, segundo o Iphan e o Condephaat.

O Grupo Silvio Santos alega ter uma decisão judicial favorável, que entendeu que a escada não fazia parte do projeto original de tombamento do Oficina. "Para reparar o estado original de nosso imóvel, após longa e exaustiva discussão jurídica", diz o grupo. Não foi dada explicação sobre o fechamento dos arcos.

A vereadora Luana Alves (PSOL) diz, porém, que a decisão da Justiça não autoriza as intervenções feitas no Oficina.

"Esse grupo colocou uma série de tijolos às 6h da manhã sem deixar chance ao diálogo com as pessoas. Foi uma ação que desrespeita o patrimônio histórico", diz a parlamentar no ato. "Esse não é um ataque só ao Teatro Oficina, mas também um prejuízo público, porque o local é tombado."

A disputa pelo terreno no entorno do Oficina se arrasta há anos, tendo sido encabeçada por Zé Celso, que morreu em julho do ano passado. Por décadas, o dramaturgo tentou transformar o terreno no parque do Rio Bexiga, um espaço público com árvores e um córrego a céu aberto em plena região central de São Paulo. Silvio Santos, porém, não cedeu aos pedidos, argumentando ter o plano de construir prédios comercias na propriedade.

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