Descrição de chapéu câncer

Preta Gil diz que prepara 'volta cautelosa aos palcos' para superar 'sequelas profundas'

Artista, que enfrentou um câncer e participa do Festival Feira Preta, diz que o câncer mudou toda sua relação com a vida

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São Paulo

Preta Gil surge radiante em um maiô dourado com seu sorriso largo na capa de seu novo EP, "De Volta ao Sol". A cantora marca um recomeço não só de sua carreira, mas também de sua vida, após enfrentar no ano passado o tratamento de um câncer colorretal, do qual ela diz estar curada.

"Dá a volta por cima, você não tá sozinha, joga tristeza pra lá", diz a letra da canção que batiza o disco, que aponta para o futuro da cantora. Ela estreia na próxima segunda-feira (11) como apresentadora do TVZ, programa musical do Multishow, e prepara um livro sobre sua vida.

A cantora Preta Gil
A cantora Preta Gil - Moa Almeida

Preta vinha nos últimos meses se apresentando com sua família na turnê "Nós, a Gente", mas a volta aos palcos de fato aconteceu no Carnaval. A artista comemorou os 15 anos do Bloco da Preta em um show na Rio Arena, no Rio de Janeiro. Ela ainda se apresentou com o pai, Gilberto Gil, no Camarote Expresso 2222, em Salvador.

Preta, no entanto, se sentiu indisposta no último dia do Carnaval e preferiu descansar. Seu tratamento durou cerca de um ano, com sessões de quimioterapia, cirurgia para a retirada de um tumor na região abdominal e no útero, o uso de bolsa de ileostomia e outro procedimento cirúrgico para reconectar o intestino.

"Estou voltando aos poucos. Ainda tenho muitas limitações físicas em razão do tratamento, que deixou sequelas profundas em mim —não só físicas, mas emocionais", diz a cantora, que não tem feito grandes planos. "Essa minha reintrodução será muito responsável e criteriosa."

Um de seus planos é ser headliner do Festival Feira Preta, que acontece em São Paulo nos dias 4 e 5 de maio, quando ela também vai participar do C6 Festival. Em junho, ela ainda subirá aos palcos do Rock in the Mountain, em Petrópolis, no Rio de Janeiro.

O Festival Feira Preta, idealizado por Adriana Barbosa há cerca de 20 anos, é voltado para empreendedorismo, tecnologia, música e artes visuais, além de promover discussões sobre tendências produzidas por pessoas pretas no campo da economia criativa.

Agora no parque Ibirapuera, o evento quer entrar no calendário dos festivais de grande porte da capital paulista. Parceira da Feira Preta há anos, Preta vê sua participação como uma forma de se fortalecer, para além de fortalecer o evento.

"Tenho aceitado fazer muito pouca coisa, porque estou vivendo um dia de cada vez. Não posso ter uma agenda cheia de shows e compromissos, se meu corpo ainda não corresponde a isso. Mas nesse caso é o contrário, faz parte da minha reabilitação participar do festival."

A artista diz ver o espaço como uma plataforma de luta antirracista, o que ela considera uma de suas principais missões. Ela levará seu show, Baile da Preta, para uma plateia composta por pessoas majoritariamente não brancas, de diversas gerações.

"O que percebo é que o público, principalmente de pessoas pretas, LGBTQIA+ e as ditas minorias, que a gente sabe que não são minorias, querem não só ir a um festival, mas ter a sensação de pertencimento à narrativa."

A cantora é conhecida por seus posicionamentos políticos em defesa da pluralidade das identidades, de raça, sexualidade e gênero. Os discursos que ela fez nos shows com a família após cantar a música "Vá se Benzer", uma parceria com sua madrinha Gal Costa gravada em 2017, viralizaram nas redes sociais.

"Sou Preta Maria, tenho 49 anos. Sou uma mulher gorda, bissexual, tenho uma neta de oito anos. Acabei de vencer um câncer", enumera a cantora para logo em seguida convocar a plateia. "Diz aí quem é você."

"Aconteceu diversas vezes de as pessoas falarem ‘não sei quem eu sou’. Isso é um grande buraco em nós. A gente não saber quem a gente é. Essa é uma busca que devemos fazer diariamente, saber quem somos e dar propósito à nossa existência. Fico feliz em ajudar as pessoas nisso."

Preta, no entanto, diz que não quer ser uma referência. "Não tenho essa pretensão, isso para que eu não deixe de buscar as minhas próprias referências e evoluir. Seria um pouco arriscado para mim. Mas fico feliz de, ao longo dos meus 50 anos, poder inspirar pessoas, jogar luz sobre elas e colaborar com elas."

Seus últimos dias têm sido de boas notícias. A cantora compartilhou nas redes sociais uma atualização positiva sobre seu estado de saúde, mas descobriu uma hérnia de disco, que ela já está tratando.

Preta também esteve no centro do Roda Viva, da TV Cultura, nesta semana, onde contou que a doença e o apoio que recebeu de seu pai mudou sua relação com a morte.

"Ele tem uma maneira diferente de lidar com a morte. Na cultura ocidental, é um tabu. A gente não fala sobre a morte. Meu pai sempre falou. Inclusive tem uma música, ‘Não Tenho Medo da Morte’, que é muito forte", a cantora disse. "A morte não tira mais meu sono. Eu me cuido para que tenha uma vida longeva, até quando Deus quiser."

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