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Com Mel Lisboa, filme de frases pomposas e sem nexo lembra a Vera Cruz

Em 'Foram os Sussurros que Me Mataram', o diretor Arthur Tuoto fez o longa que quis e mostrou sua competência

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Foram os Sussurros que Me Mataram

  • Quando Em cartaz
  • Onde Nos cinemas
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Mel Lisboa, Otavio Linhares e Carla Rodrigues
  • Direção Arthur Tuoto

É possível que eu não tenha entendido nada daquilo que Arthur Tuoto pretendeu fazer em "Foram os Sussurros que Me Mataram", seu primeiro longa-metragem, escrito e dirigido por ele.

Mas à primeira vista era impossível —por certo distanciamento da realidade, pelas frases pomposas e mesmo pela aspiração à qualidade técnica— não evocar um velho filme da Vera Cruz. Lá está Ingrid, presumivelmente uma atriz famosa, trancada em um hotel, à espera de um programa (ao que parece um reality show) que ela deve conduzir ou, talvez, participar.

Cena do filme 'Foram os Sussurros que me Mataram', de Arthur Tuoto
Cena do filme 'Foram os Sussurros que me Mataram', de Arthur Tuoto - Divulgação

Ao redor —toda a ação se passa no interior de seu quarto de hotel— o mundo parece desabar. Ali estão os "radicais anarquistas" prontos a fazer atentados não contra a atriz, mas contra "a rede", quer dizer, o canal de TV.

Eles estão longe de ser a única ameaça: há também os fotógrafos atrás da estrela, os participantes que decidem abandonar o show se suicidando, os patrocinadores ameaçando porque a estreia do programa pode ser adiada, mais a rede, mais os contratos, ou qualquer outro motivo etc.

Por fim, esse mundo paranoico completa-se pelas imagens futuras que Ingrid prevê (pois é vidente) e encontra-se "caos midiático" a que alguém (suspeito que a própria Ingrid) se refere a horas tantas e pelo jeito deve ter algo a ver com os vazamentos de que a personagem suspeita.

Quem dá os tiros que se escuta de tempos em tempos —e que fazem parte dos ruídos ameaçadores? Não se sabe exatamente. A ameaça fica no ar. Entra um rapaz em princípio da turma dela (e/ou do programa). Ela autografa uma pilha de DVDs de filmes que estrelou, além de um revólver que o rapaz trouxe consigo.

A ameaça armada está em toda parte, menos ameaçadora, no entanto, do que os diálogos pomposos: "o modernismo nos fez desconfiar e desgostar de nós mesmos", diz alguém. A menos que faça referência ao caráter de "grande drama passadista metafísico" do filme, a frase surge do nada e vai para parte alguma.

Ou antes, talvez se conecte com outra afirmação tirada da algibeira sobre "a verdadeira vanguarda", que será a do irracional, do cruel, do implacável —seja o que for, é algo que não se demonstra no filme.

À parte a possibilidade de as intenções de Arthur Tuoto terem passado ao largo de minha compreensão, é preciso dar um crédito ao autor: ele fez o filme que quis, e nesse setor mostrou-se competente. Ele imprimiu o charme anacrônico, pré-moderno mesmo, que lembra as maluquices da Vera Cruz e misturou-o a temas contemporâneos, como uma violência que parece (só parece) não ter motivo nem finalidade. E, sobretudo, explorou e buscou favorecer sua atriz, Mel Lisboa, que, diga-se, se porta muito bem.

Não há como garantir que são os sussurros (de redes sociais?) que a afetam, ou a tensão do ambiente de TV, ou ambos. Também não é possível prever se, passado este exercício de afirmação no clube do "filme bem feito" e vencido o surto de pompa e circunstância adolescente, os trabalhos futuros venham resgatar o realizador, que não parece alguém desprovido de talento.

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