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Solo com Rodrigo Simas e montagem de Gabriel Villela veem que 'Hamlet' é infinito

Espetáculo 'Shakespeare Embriagado' completa tríade de peças em cartaz que exploram maior personagem do bardo inglês

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Natália Beukers
São Paulo

Poema ilimitado. É essa a alcunha que o crítico Harold Bloom deu a uma das mais importantes peças do teatro ocidental, o "Hamlet", de William Shakespeare. Prova de como o tormento e desejo de vingança que corroem o príncipe da Dinamarca são infindáveis, três peças em cartaz em São Paulo revisitam o clássico de maneira diferentes.

Cena da peça 'Primeiro Hamlet', com direção de Gabriel Villela
Cena da peça 'Primeiro Hamlet', com direção de Gabriel Villela - João Caldas Filho/Divulgação

Desde "Primeiro Hamlet", montagem de Gabriel Villela que recorre a uma primeira versão do texto; passando pela reestreia de "Prazer, Hamlet", monólogo estrelado pelo global Rodrigo Simas; e "Shakespeare Embriagado", com direção de Dagoberto Feliz, que busca uma integração entre a obra do bardo inglês e o público por caminhos etílicos.

Em "Primeiro Hamlet", um elenco de onze atores, com nomes Elias Andreato, Claudio Fontana, Chico Carvalho e Luciana Carnieli, encarnam 20 personagens. Sob grossos casacos que evocam o frio daquele reino podre e a cenogafia soturna e precisa de JC Serroni, a qualidade vocal dos intérpretes é o chamariz do espetáculo.

"Os atores têm um aparelho fonador capaz de dizer essas palavras, de narrar um texto épico, mesmo que esse épico tenha, no curso da história, virado um discurso interior", diz Villela.

"O maior personagem da dramaturgia ocidental talvez seja tão expressivo por conviver com dúvidas atrozes a respeito da identidade que carrega", diz o ator Chico Carvalho, que faz o protagonista. "Se assemelha ao intérprete que pisa ao palco tomado pelo desequilíbrio da dúvida para tentar, mais uma vez, comunicar algo a alguém. Ao disparar interrogações, o ator padece da mesma doença do personagem dinamarquês: não encontra uma imagem de si próprio que lhe possa satisfazer."

Villela traz uma versão inicial do texto menos conhecida, datada de 1603. Na adaptação, os monólogos de Hamlet são enxutos, resultando em uma trama mais direta. "Shakespeare dedicou a vida a escrever a versão metafisica de Hamlet que conhecemos. Mas, para isso, passou anos elaborando essas versões a partir de um rascunho", diz o diretor. "Aqui, tudo o que acontece é ação, e menos pensamento."

Em contraponto, "Prazer, Hamlet" aposta num solo, com texto e direção de Ciro Barcelos, remanescente do grupo Dzi Croquettes, trupe que revolucionou o teatro brasileiro nos anos 1970 ao adotar um visual transgênero e manter um caráter crítico nos espetáculos.

Rodrigo Simas —galã de novelas da Globo que há pouco estava na novela "Renascer", mas não fazia peças desde 2017— vive um intérprete que narra os percalços de encenar a tragédia e se desdobra em sete personalidades entre looks extravagantes, como um sobretudo vermelho ou uma camiseta rasgada no formato de uma caveira.

A peça, em cartaz até este final de semana, voltou a São Paulo após uma temporada no final de 2022, marcando a estreia de Simas nos monólogos, e chamou a atenção também por explorar a nudez, numa cena em que aparece apenas com uma espécie de tapa-sexo de couro preto, que representa um cinto de castidade.

"Medo e coragem são duas palavras que me representam nesse processo. Tirar Shakespeare do pedestal e dar as mãos para ele, me faz amadurecer e querer conhecê-lo mais", diz o ator, repercutindo a rebeldia de seu personagem. A peça segue para Belo Horizonte, em junho, e Fortaleza, em julho.

Cena da peça 'Shakespeare Embrigado', encenado no Espaço Manivela, zona oeste de São Paulo
Cena da peça 'Shakespeare Embrigado', encenado no Espaço Manivela, zona oeste de São Paulo - Divulgação

Já "Shakespeare Embriagado" promete um encontro inusitado entre atores e plateia —os artistas ficam, de fato, embriagados. "A ideia de fazer Shakespeare bebendo veio dos Estados Unidos", diz Michel Waisman, que interpreta Hamlet nesta versão, encenado no Espaço Manivela, zona oeste de São Paulo.

"Para nós, atores, o grande desafio é conseguir controlar os ímpetos que a bebedeira traz e, mesmo assim, contar bem a história. Afinal, o público também se diverte nos embriagando, mas sem o texto de Shakespeare nada teria sentido", afirma Waisman, lembrando que a plateia também intervém, incentivando improvisações.

Primeiro Hamlet

  • Quando Qui. a sáb., 21h; dom., 18h. Dias 7 e 8 de junho, sessões extras às 15h. Até 16 de junho
  • Onde Sesc Vila Mariana - r. Pelotas, 141, São Paulo
  • Preço R$ 60
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Chico Carvalho, Elias Andreato, Claudio Fontana
  • Direção Gabriel Villela

Prazer, Hamlet

Shakespeare Embriagado

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