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'Endless Ocean Luminous' é raso como uma piscina infantil

Game de exploração oceânica é muito repetitivo e insulta a paixão da ciência e o próprio filão de jogos para relaxar

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Endless Ocean Luminous

De porto em porto, Charles Darwin coletou e catalogou toda sorte de espécimes, entre plantas, rochas, insetos, lagartos, tartarugas e aves, como os célebres tentilhões na temporada em Galápagos. Quase duzentos anos e trocentos documentários da Discovery depois, não é mais preciso se arriscar para conhecer os mistérios do mundo animal pelo mar ou terra firme. Por essas e por outras, "Endless Ocean Luminous", para o Nintendo Switch, beira um insulto à ciência apaixonada.

Cena do jogo 'Endless Ocean Luminous', para Nintendo Switch
Cena do jogo 'Endless Ocean Luminous', para Nintendo Switch - Divulgação

Neste simulador de mergulho que promete sete mares de descobertas, para que o jogador conheça mais de 500 espécies de peixes —alguns deles exagerados e fictícios, para dar um gostinho—, a experiência se parece terrivelmente com uma piscina infantil.

O game é o terceiro de uma franquia pequena, que começou no Nintendo Wii, e conquistou um nicho pelo seu aspecto relaxante e contemplativo. Basicamente, você é um mergulhador que escaneia as criaturas marinhas do fictíco mar Veiled.

Ao se deparar com um cardume, pressionamos um botão e todos os peixes são escaneados, entrando para a lista de descobertas, com seu nome popular, científico e uma breve descrição enciclopédica de suas características e hábitos.

Dos tempos do Wii (os anos 2000 e 2010) para cá, relaxar virou moda entre as produções, sobretudo independentes, a ponto dessa moda ter se exaurido, não sem deixar pérolas como "Journey", "Unpacking" e "Abzû" —este último também uma bela aventura submarina.

Mas nesse novo "Endless Ocean", é difícil reagir diferente de um peixe morto. Os visuais simples e coloridos, dão conta de gerar uma boa impressão ao reproduzir fielmente as criaturas e partes do cenário marítimo. Mas por trás da maquiagem, paira um estranho comportamento muito pouco realista —cardumes vão e vem roboticamente, peixes menores não se assustam com os tubarões ou as baleias que balançam suas caudas ignorando a presença de um humano curioso das redondezas.

É evidente que o excesso de realismo, principalmente em jogos de sobrevivência, pode só atrapalhar a experiência, ou oferecer algo mais frenético, como no oceano alienígena de "Subnautica" ou na complexidade crescente de "Dave the Diver", para citar outros games do subgênero písceo.

Em "Luminous", a jornada pode ser instigante no começo, conforme o jogador tenta escanear mais e mais seres, descobre crustáceos escondidos, se depara com uma solitária baleia-jubarte e tira fotografias para guardar de recordação dentro do catálogo do jogo —e da própria galeria de imagens do Switch.

Mas pouco avança —o jogador nada com um botão e, com outro, investiga as criaturas. É preciso ficar segurando o botão até que o processo se conclua, depois navegar pela lista numa interface primária (numa tipografia grande e pouco atrativa) e com textos lidos numa narração monótona e computadorizada. Enfim, é preciso se esforçar para encontrar o encanto em meio a tanta repetição.

Tampouco há uma diversidade de modos de jogo —há o de exploração individual, em um mapa de médio porte, onde o jogador obtém pontos para desbloquear os capítulos de uma campanha dispensável. Cada um dos episódios traz um breve tutorial e um pedacinho de história, mas as fases são tão curtas (e tão demoradas para desbloquear) que nem compensa chegar ao fim.

O que salva um pouco do marasmo é o modo de exploração multiplayer online, onde vários jogadores se reúnem para encontrar a maior quantidade de seres num mapa, e desvendar as criaturas lendárias e míticas que habitam por lá.

Com a ajuda de outras pessoas, o processo é mais rápido, com recursos de interação por meio de avisos para itens importantes (para ganhar mais pontos) e criaturas novas para o catálogo (com o tempo, algumas podem começar a seguir o mergulhador), além de ter uma série de pequenas missões que dão ritmo à jogatina. Mas é preciso insistir, dar mais de uma chance para a coisa engrenar.

Enfim, sem incentivo e variedade nem estofo educativo o suficiente, "Endless Ocean Luminous" parece mais o protótipo de um mar raso, povoado de simulacros. É um desperdício do próprio trabalho técnico louvável de recriar, na tela, um mundo tão divino e misterioso.

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