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'A Noviça Rebelde' volta a SP com Larissa Manoela e telão que reproduz Salzburgo

Após sucesso no Rio de Janeiro, musical tem Malu Rodrigues no papel principal, vivido por Julie Andrews no cinema

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São Paulo

Investir em uma produção teatral cujo enredo encanta gerações desde 1959 pode parecer uma aposta certeira para o sucesso de bilheteria. Mas não para o diretor Charles Möeller, que estreia sua terceira montagem de "A Noviça Rebelde" na Vibra São Paulo, neste sábado.

"Estamos nos comunicando com uma plateia que mudou. Quando eu fiz o musical pela primeira vez, em 2008, os celulares não tinham esse poder de hoje", diz. "E queremos transmitir aos jovens um espetáculo sobre a burrice da guerra, a estupidez do totalitarismo. Você está abrindo os horizontes, porque é fácil sentar na sua casa e ver a Julie Andrews rodando naquela montanha, aquilo ali está embalado pelo efeito Hollywood."

A atriz Malu Rodrigues como Maria em cena do musical 'A Noviça Rebelde', na montagem de 2024 - Caio Gallucci/Divulgação

Após sessões esgotadas no Rio de Janeiro, com mais de 60 mil espectadores, a produção chega a São Paulo em curta temporada, com apresentações nos sábados e domingos, às 15h e 20h, até 28 de julho.

Se as colinas estão vivas ao som da música no filme de 1965, dirigido por Robert Wise, no palco, as montanhas também ganham alma e destaque de personagem.

A formação rochosa cenográfica com a qual a protagonista, a aspirante a freira Maria —aqui interpretada por Malu Rodrigues— se deslumbra no início do espetáculo, e que depois será a rota de fuga dos nazistas no encerramento, é turbinada por um painel de LED que traz paisagens da austríaca Salzburgo.

A paisagem bucólica, somada ao enredo no final dos anos 1930, numa promessa de vigor interrompida pelo horror da Segunda Guerra, é tão fundamental para a peça quanto a presença de Maria como governanta da família Von Trapp.

É também um processo de descoberta —a personagem, rebelde demais para os muros do convento, é enviada para cuidar dos sete filhos do capitão Georg. Nisso, Maria vai entender que sua verdadeira vocação não é a Igreja, mas o amor e a maternidade, enquanto o militar percebe que não ama de verdade a rica baronesa que corteja.

A tecnologia, trazida pela produtora Aventura em parceria com o cenógrafo Nicolás Boni, é o diferencial desta montagem, na visão de Möeller —é o que dá apoio para a passagem do tempo em toda a narrativa.

Além da profundidade do horizonte, o telão tem elementos em constante movimento, garantindo a fluidez de detalhes, como o vento nas folhas das árvores, as ondas em um lago e o um chafariz no quintal da família Von Trapp.

"É uma versão cinematográfica, para se sentir dentro do filme", diz Aniela Jordan, produtora do espetáculo. O público é convidado, por exemplo, a acompanhar pelas janelas da mansão a tempestade madrugada adentro, enquanto Maria e as sete crianças entoam "O Pastorzinho" até um amanhecer ensolarado.

"Esses compositores [Richard Rodgers e Oscar Hammerstein 2º] conceberam uma mudança significativa na dramaturgia, porque aqui, quando uma canção acaba, ela muda o estado dramatúrgico das coisas", afirma Möeller.

Com a supervisão musical de Claudio Botelho, responsável pela versão brasileira das músicas, e direção de Möeller, foi que Malu Rodrigues diz ter encontrado o tom certo para a protagonista.

"Eu gosto muito de falar nas canções, isso eu aprendi com a Julie Andrews e o Claudio foi meu mestre. É preciso interpretar a canção, a palavra tem que ser dita e não apenas cantada", afirma a atriz, que participou da versão de 2008, sob a pele das filhas Louisa e Liesl, a mais velha —agora, Larissa Manoela e Giovanna Rangel se alternam no papel— e, em 2018, como Maria.

Entre seus pontos favoritos do espetáculo, Rodrigues cita a química que conquistou com o par romântico —Pierre Baitelli, que interpreta o Georg, com quem já contracenou no musical "O Despertar da Primavera", em 2009.

Mas, para ela, as verdadeiras estrelas de "A Noviça Rebelde" sempre serão as crianças. No total, são 18 atores mirins que se revezam em três famílias. Por isso, a cada sessão, a energia na coxia é retomada.

"São três horas pulando e cantando. Eu fico exausta, mas aí chega uma nova família, e tudo se renova porque elas vêm com energia de 220V e se eu não correr atrás, não for que nem elas, eu vou ficar para trás e jamais elas respeitariam a Maria e seriam amigas dela", diz Rodrigues.

A cada montagem, a seleção das crianças fica mais difícil, diz a produtora Aniela Jordan. Desta vez, foram mais de 2.000 inscritas. Isso é visto com bons olhos por ela, pois é um exemplo concreto de mudança no mercado de musicais no Brasil.

"Eu senti essa diferença de 2003, quando a gente fez a 'Ópera do Malandro', que foi muito sofrido para fechar o elenco, para 2010, sete anos depois, quando a gente fez a audição para 'Hair', que tinha muita gente boa já", afirma. "Hoje em dia é raro o ator jovem que não faz aula de tudo, tanto dança como interpretação."

Nos seis anos que separam uma montagem e outra, Rodrigues diz perceber uma mudança positiva na recepção do público a musicais no geral, mas também afirma que este enredo tem muito a acrescentar.

"Especialmente depois da pandemia e um período difícil politicamente que passamos, muita gente teve questões psicológicas e emocionais. Estão precisando de afeto, amor e acolhimento e ‘A Noviça Rebelde’ fala sobre isso: a Maria acolhe todo mundo, as crianças acolhem a Maria."

A Noviça Rebelde

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