Descrição de chapéu Obituário Bill Viola (1951 - 2024)

Morre Bill Viola, pioneiro da videoarte que valorizava o tempo, aos 73 anos

Artista abordava vida e morte, com influência da mística cristã, do sufismo islâmico e do xamanismo arcaico

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São Paulo

Bill Viola, um dos videoartistas mais célebres do mundo, morreu nesta sexta-feira (11) aos 73 anos, em Long Beach, Califórnia. De acordo com Kira Perov, sua mulher, diretora de seu estúdio e colaboradora artística, o artista teve complicações da doença de Alzheimer, com a qual foi diagnosticado de maneira precoce.

O videoartista americano Bill Viola. - Beth Herzhaft/Reprodução do catálogo "Encounters - New Art from Old"/Beth Herzhaft/Reprodução do catálogo "Encounters - New Art from Old"

Pioneiro da videoarte, William John Viola Jr. ganhou destaque no início dos anos 1970, em Nova York, quando artistas começaram a trabalhar com vídeos, a exemplo de Wolf Vostell, Joseph Beuys e o movimento Fluxus. Tendo trabalhado como assistente audiovisual em museus e galerias, logo ele demonstrou grande habilidade com edição e gravação, explorando novas mídias nas artes visuais com suas instalações e performances.

O trabalho de Viola tem forte conexão com a mística cristã, o sufismo islâmico e o xamanismo arcaico, bem como a arte do Renascentismo. Suas obras têm inspiração humanista, explorando a noção de tempo, o poder e a consciência humana. Diante do ritmo voraz do cotidiano, ele desacelera e mostra como cada instante conta e merece atenção.

É o que mostra uma de suas obras mais recentes, "Mártires", de 2014. Nela, quatro pessoas passam por algum tipo de provação, seja uma tempestade de vento, seja uma violenta enxurrada, em velocidade desacelerada que dá um peso dramático aos corpos.

Uma dessas peças, criadas para a Catedral de São Paulo, em Londres, integrou a exposição "Bill Viola: Visões do Tempo", no Sesc Avenida Paulista, em abril de 2018, na inauguração da unidade.

Viola também capturava o ritmo da cidade, como em "Hino", de 1983, em que gravou uma menina de 11 anos parada na estação Union, em Los Angeles, enquanto grita. A montagem também inclui cenários ensolarados e de refinaria de petróleo, por exemplo.

O artista explora grandes momentos da vida, como nascimento, morte, agonia, êxtase e amor romântico. O rumo mais pessoal ficou nítido no início dos anos 1990, com a morte de sua mãe morreu e nascimento do segundo filho.

A instalação "Nantes Triptych", em 1992, mostra três painéis em vídeo, um mostrando uma mulher em processo de parto, outro um retrato da sua mãe no leito de morte e, no do meio, um homem flutuando na água —reforçando a presença constante de elementos naturais contracenando com os atores.

Exposição do artista Bill Viola, que inaugurou a unidade do Sesc na Av. Paulista, em 2018 - Adriano Vizoni/Folhapress

Grandes pintores renascentistas serviam de inspiração para Viola, que criava vídeos em tríptico —conjunto de três pinturas unidas por uma moldura tríplice. A conexão levou a Royal Academy, em Londres, a exibir desenhos de Michelangelo ao lado dos vídeos de Viola.

Desde cedo o artista tinha influências religiosas. Sua mãe, Wynne (Lee) Viola, que havia se mudado da Inglaterra para os Estados Unidos, era uma episcopalista e criou seus filhos na igreja. Mas o artista contou em uma entrevista para o Museu de Arte Moderna da Louisiana que seu despertar espiritual ocorreu aos seis anos, quando quase se afogou ao cair de uma jangada em um lago.

Ele foi criado no Queens, com mais dois irmãos. O pai era um gerente da companhia Pan American Airways, filho de imigrantes italianos e alemães.

Viola se formou na Universidade de Syracuse como bacharel em belas artes. Conheceu Kira Perov, em 1977, quando era diretora de eventos culturais na Universidade La Trobe em Melbourne, Austrália, e o convidou para expor alguns de seus vídeos lá.

Eles se casaram em 1980, passaram mais de um ano no Japão estudando o zen budismo e, depois, se mudaram para Long Beach, onde montaram um estúdio. Viola deixa ainda os filhos Blake e Andrei.

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