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Artes Cênicas

'O Contractador de Diamantes' se sustenta com seus bons cantores

Tenor Giovanni Tristacci e soprano Rosana Lamosa se destacam em ópera de Francisco Mignone, traduzida para o português

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O Contractador de Diamantes

É pertinente a ambientação da ópera "O Contractador de Diamantes", de Francisco Mignone, com libreto de Gerolamo Bottoni, que tem, nesta terça-feira, sua última récita no Theatro Municipal de São Paulo.

Cenas da ópera 'O Contractador de Diamantes', de Francisco Mignone

Ao reproduzir um teatro lírico no cenário, o diretor William Pereira enfatiza as contradições da formação social do país, que se espelharam, com o passar do tempo, no público frequentador das casas de ópera. Lugar próprio ao exercício da reflexão, os teatros mediaram as irreconciliáveis diferenças raciais e econômicas do povo brasileiro.

A montagem se ancorou, de todo modo, na qualidade dos solistas. A ópera se passa no século 18, em Diamantina, no interior de Minas Gerais, e narra a vida de Felisberto Caldeira, explorador de diamantes, interpretado pelo barítono Licio Bruno, que desafia o poder do Império português, representado pela figura do Magistrado, papel do barítono Douglas Hahn.

Ao mesmo tempo, o libreto conta a história de amor da sobrinha de Caldeira, Cotinha, vivida pela soprano Rosana Lamosa, e Camacho, personagem confiado ao tenor Giovanni Tristacci.

Os duetos de Tristacci e Lamosa foram os dois melhores momentos da ópera. Lado a lado, estavam ali um artista que de fato compreende a arte do tenor, tendo se estabelecido na cena lírica do país, e uma respeitada soprano, cujo domínio da dinâmica musical foi de precisão inequívoca.

Licio Bruno, por sua vez, mostrou instigante desenvoltura dramática, assim como o Coro Lírico Municipal, um dos destaques da temporada até aqui.

A Orquestra Sinfônica Municipal, agora regida por Alessandro Sangiorgi, superou os problemas de "Madame Butterfly", o primeiro título da temporada, e encontrou equalização sonora. Dito isso, "O Contractador de Diamantes" não oferece justificativas plausíveis para alguns pressupostos conceituais tomados pela montagem, que estreou, no ano passado, no Festival Amazonas de Ópera.

Composta há cem anos, a obra foi escrita em italiano, afinal Mignone a criara no período em que morou na Itália. A partitura foi restaurada, há três anos, pelo maestro Roberto Duarte. A montagem atual preferiu traduzir o libreto para o português.

Além de não haver razões para tanto, a tradução acaba por estremecer a relação entre palavra e música, tal como proposto por Mignone, dificultando o trabalho dos solistas. Tal visão não considera que a ópera pode ser cantada em italiano e conter nela elementos da cultura brasileira. Ademais, a montagem de Pereira tem um alongado prólogo de teor didático, uma praga na produção artística contemporânea. As contradições do libreto, é certo, já estão na obra de Mignone.

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