Renato Kramer: Gato por lebre

Foi então a "pequena notável" que recebeu do público a maior votação para tornar-se a campeã do "BBB11". A sorte sorriu para Maria. Às vezes ela até se faz, mas de boba ela não tem nada.

A noite da finalíssima do "BBB11" começou com a banda Jota Quest cantando "a macacada reunida...", de "De Volta ao Planeta dos Macacos". Bela banda. Belo som.

O apresentador Pedro Bial entrou em cena com ar de festa, até porque era dia do seu aniversário. Numa elegante camisa preta, tratou de dar ênfase e energia total em suas intervenções, com momentos de forte e aparente emoção.

Logo de início chamou todos os participantes do "BBB11" para acompanhar o último programa, como de praxe. Estavam todos lá. Alinhados, bem produzidos, sorridentes. Acompanharam toda uma retrospectiva costumeira dos melhores e piores momentos que passaram na casa. Câmeras registravam suas reações ao vivo enquanto rolavam as cenas vividas durante o confinamento.

Enquanto isso, Daniel, Maria e Wesley acompanhavam por sua vez lá de dentro, também com direito a reações ao vivo e a rever cenas dos mais diferentes matizes.

	Frederico Rozário/Divulgação/TV Globo
	Maria venceu o "Big Brother Brasil 11" na noite da última terça-feira

Foi quando Bial se animou e comparou o "BBB" à "ágora" grega --praça principal da polis (cidade) onde os considerados sábios se reuniam para "filosofar". E foi além: "O 'BBB' é a nova ágora onde se discute as questões da vida atual".

Mesmo que consideremos os participantes do programa como uma pequena amostragem da sociedade atual, numa escolha que não se conhece exatamente o critério, ainda assim essa afirmação resultou um tanto forçada. Parece querer enxertar elementos e valores que o estilo de entretenimento não comporta. E para quê? Afinal, o programa é o que é, e agrada ou não, do jeito que é. Não adianta querer incrementar a massa do bolo depois de já ter colocado a cobertura de chantilly. Não só é desnecessário como não funciona.

E continuou o apresentador numa veemente apologia à importância do "BBB" como um grande promovedor de quebra de tabus, de preconceitos e de abertura de discussões sobre assuntos de importância essencial para nossa vida social.

O que na verdade acontece é que temos sim, contato com uma grande diversidade de posturas e até culturas diferentes --mas não há um mediador para essa discussão. Não se chega a alguma conclusão racional e lógica entre as partes, e sim, ou alguém ganha no grito ou no puro e simples carisma popular. E isso não era exatamente o que os "filósofos gregos" faziam reunidos na "ágora", como teria sugerido levianamente o jornalista.

Para arrematar, Bial afirmou: "Os gregos iam "filosofar" na ágora porque não tinham televisão!". Tudo bem que o seu contrato com a emissora deve ser quase que milionário, mas aqui ele forçou bem. Viajou.

Francamente não vejo para que dar a impressão de querer vender gato por lebre. O "BBB" é assim como é, já teve 11 edições --com maiores ou menores surpresas, mas o cerne do programa é o mesmo-- assiste quem gosta e pronto. Não há nenhuma necessidade de buscar intenções filosóficas profundas num programa de entretenimento reconhecidamente raso. Para essas outras questões, melhor procurar pelo "Café Filosófico" na TV Cultura. "A César o que é de César".

"Decepcionado, Daniel?", perguntou o apresentador aniversariante ao terceiro colocado.

"Decepcionadíssimo!", respondeu o administrador pernambucano com um belo bico.

"E não lhe chamavam assim como tantas, Marias de santas, Marias de flor...seria Maria, Maria somente...e quem sabe a sorte lhe sorriria?", são alguns versos de "Maria, Carnaval e Cinzas", defendida no Festival de MPB por Roberto Carlos, em 1967. Boa sorte, Maria!

Ah, as incrições para o "BBB12" já estão sendo anunciadas.

A chamada é: "Venham filosofar com a gente!"