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Venezuelano Carlos Cruz-Diez diz que público só agora entende a arte cinética
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FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Aos 87 anos, o artista venezuelano Carlos Cruz-Diez tem trabalhado mais que nunca.
"Graças às novas gerações de artistas, parece que fui descoberto agora, tenho trabalhos programados em vários continentes, até mesmo na China vou inaugurar uma obra", diz, empolgado.
Um dos grandes nomes do que se convencionou chamar de arte cinética, aquela que provoca movimento ou a ilusão dele, Cruz-Diez diz que nunca se sentiu à vontade com esse rótulo.
"Cinético diz respeito a movimento, e o que nós buscávamos era mudar a noção de arte, mostrar que tudo é arte e, por isso, trabalhar com o ambiente", explica.
Radicado em Paris há 50 anos, onde, junto a outros latino-americanos, como seu conterrâneo Jesús Raphael Soto ou o brasileiro Abraham Palatnik estiveram inseridos, Cruz-Diez se diz compreendido apenas agora.
"As pessoas olhavam para nossas obras como se fossem algum símbolo, mas nós nos preocupávamos com o instante, nossa reflexão só se faz entender agora", diz.
Em parte, esse resgate ocorre quando novas gerações de artistas usam métodos semelhantes, caso de Olafur Eliasson, o mais renomado deles (leia quem são alguns dos novos cinéticos no quadro ao lado). "Gosto muito do Olafur, ele já me convidou para alguns projetos", conta o venezuelano.
Tal resgate vem ocorrendo de várias formas. Umas das polêmicas que sua obra gerou foi quando um mural seu dos anos 1970, com dois quilômetros, no porto de Caracas, foi destruído.
"A população local reagiu muito, o que surpreendeu a mim mesmo, e, desde então, o governo venezuelano está restaurando todas as minhas obras públicas", conta.
Elas são muitas e algumas monumentais, como a ambientação cromática para a sala de máquina, feita em 1986, na Central Hidrelétrica Raúl Leoni, do tamanho da Turbine Hall da Tate Modern.
Paula Giolito/Folhapress | ||
Retrato do artista venezuelano Carlos Cruz Diez, referencia na arte cinetica. |
INAUGURAÇÃO
Cruz-Diez encontra-se no Rio por conta de uma série de eventos programados pela Casa Daros. Na última segunda ele inaugurou um painel de 87 metros por 2,5 de altura, na frente do novo museu que está sendo construído em Botafogo e deve ser inaugurado no ano que vem.
"Indução Cromática em Dupla Frequência", o nome do painel, faz parte de uma pesquisa de décadas, pela qual, por meio da mistura de vermelho, verde e azul, ele cria novos campos de cor com efeitos óticos.
Ele também inaugurou, ontem, uma série de debates organizados pela Daros, denominada Meridianos, com duplas de artistas representados em sua coleção.
No primeiro, participou ainda o brasileiro Waltercio Caldas. Já no próximo sábado, no Museu de Arte Moderna do Rio, ele solta pipas coloridas, numa ação que lembra sua infância.
Atualmente, Cruz-Diez está em cartaz no Museu de Belas Artes de Houston, o mesmo que abriga a coleção Adolpho Leirner.
Essa mostra, a maior de sua carreira, irá seguir para Buenos Aires, Peru e, finalmente, São Paulo, no próximo ano, na Pinacoteca.
É em Houston, aliás, que está sediada a Fundação Cruz-Diez. "Eu já cedi 40 obras para a instituição e eles estão restaurando várias delas. Não fiz na Venezuela porque lá não há vontade", diz o artista, que mantém também um ateliê no Panamá, onde vive um de seus filhos.
O jornalista FABIO CYPRIANO viajou a convite da Casa Daros.
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