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12/10/2011 - 18h07

Clássico livro de culinária de Julia Child é adaptado para e-books

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JULIE BOSMAN
DO "NEW YORK TIMES"

Sujar um livro de receitas com gordura de bacon é uma coisa. Fazer o mesmo com o iPad é outra, inteiramente.

Isso talvez explique a razão de os livros de receitas terem demorado a ser incluídos na revolução dos e-books, ficando muito aquém de outras categorias, como a ficção, que ganharam grande adesão no formato digital.

Recentemente, porém, os livros de cozinha começaram a mostrar força no mercado de livros digitais, reforçados por editoras que vêm lançando edições eletrônicas de novos títulos simultaneamente com as versões em papel e convertendo para o formato digital livros de receitas mais antigos e clássicos.

A Alfred A. Knopf está lançando a edição eletrônica de um dos livros de culinária mais famosos do mundo: "Mastering the Art of French Cooking" (Dominando a arte da culinária francesa), de Julia Child, imortalizado no best-seller "Julie & Julia" e o filme que este inspirou, estrelado por Meryl Streep.

A inclusão de "Mastering..." na biblioteca eletrônica não é apenas um testemunho do status venerável desse livro e de sua popularidade duradoura, mas também da disposição da indústria de livros em aderir à edição digital, com todas suas peculiaridades, que, no caso dos livros de receitas, incluem medidas abreviadas como "2 cs de cebolinha bem picada", que aparecem em letra menor.

Associated Press
Achef de cozinha Julia Child mostra salada durante programa de TV americano em agosto de 1978
Achef de cozinha Julia Child mostra salada durante programa de TV americano em agosto de 1978

Enquanto a maioria dos romances e livros de não ficção pode facilmente ser convertida em e-books pretos e brancos, que podem ser lidos em aparelhos que vão do iPhone ao Nook ou ao Kindle, os livros de culinária não são tão simples.

"Os livros de culinária muitas vezes têm layout muito complexo", explicou Jennifer Olsen, gerente de produção digital do grupo editorial Knopf Doubleday. "Produzi-los como livros eletrônicos é bem complicado."

Knopf fez há mais de um ano sua primeira tentativa de converter em livro eletrônico "Mastering the Art of French Cooking", que Child escreveu em colaboração com Louisette Bertholle e Simone Beck e lançou em papel mais de 50 anos atrás. Não havia a tecnologia necessária para reproduzir o formato peculiar de duas colunas usado por Child, que permite ao leitor enxergar os ingredientes ao lado das instruções correspondentes na receita, passo a passo, em lugar do formato mais convencional no qual os ingredientes são listados no começo.

Judith Jones, a recentemente aposentada editora da Knopf que adquiriu "Mastering..." em 1961, foi uma das pessoas que fez objeções, argumentando que a editora deveria desistir da tentativa enquanto não fosse possível reproduzir o original fielmente em livro eletrônico.

Quando a Knopf tentou novamente, no verão americano deste ano, a equipe de produção mandou redigitar o livro inteiro, já que não existia arquivo eletrônico da obra. As ilustrações presentes em todo o livro --pequenos desenhos de frigideiras e cenouras cortadas em palitos-- foram scaneadas em alta resolução, para que pudessem ser transferidas para o e-book. E a editora conseguiu recriar o formato de duas colunas, exatamente como a versão original do livro.

Outros elementos são puramente digitais: links vivos permitem que o leitor salte para outras seções do livro, como quando Child sugere que o cozinheiro que estiver preparando a "Potage Velouté aux Champignons" deveria também ler a receita de "Fluted Mushroom Caps" (a primeira, uma receita de sopa de cogumelos, e a segunda, de tampas de uma variedade de cogumelo). E os leitores que não tiverem certeza do que é um "roux" podem clicar sobre a palavra e ter acesso ao verbete tirado de um dicionário (é um misto de manteiga e farinha).

Quando Judith Jones viu a nova edição eletrônica, se convenceu de que deveria ser lançada. "De repente eu enxerguei a diferença", disse. "É quase possível melhorar a leitura do livro."

Alguns elementos da edição em papel, que tem 752 páginas e já vendeu 2,5 milhões de exemplares, foram perdidos na versão digital. A fonte delicada usada no livro para anunciar receitas como "Fricassee de Poulet a l'Ancienne" e "Moules au Beurre d'Escargot" não pôde ser reproduzida na versão em e-book.

E o livro se lê melhor em tablets que em leitores de livros eletrônicos. Embora seja possível lê-lo em um Kindle ou Nook, em preto e branco, muitos dos elementos de design não podem ser vistos nesses aparelhos.

Mesmo assim, jornalistas de gastronomia saudaram o lançamento como "uma espécie de marco", como observou esta semana o blogueiro Cookbook Man. "Como Julia foi pioneira em levar a culinária à televisão, é apenas apropriado que seu clássico de 1961 ajude a levar os livros de culinária para a era digital", ele escreveu.

Ao preço de US$19,99, a versão para e-book de "Mastering" custa apenas alguns dólares menos que a edição em papel e capa dura, disponível na Amazon por US$22,74 (o preço sugerido da edição em capa dura é US$40).

Paul Bogaards, um porta-voz da Knopf, disse que o preço é condizente com algumas edições eletrônicas de outros livros de culinária da Knopf, como "Sunday Suppers at Lucques", de Suzanne Goin (US$19,99), e "The Mozza Cookbook", de Nancy Silverton (US$18,99). Livros de culinária mais curtos em formato eletrônico podem sair por tão pouco quanto US$12,99.

À medida que as editoras vêm lançando mais edições eletrônicas de livros de receitas, além de dezenas de apps para livros de receitas, a categoria como um todo vem acusando aumentos nas vendas digitais, segundo dados do setor. Kelly Gallagher, vice-presidente de serviços editoriais da Bowker, organização de pesquisas para a indústria de livros, disse que, embora os livros de culinária ainda estejam perdendo para outras categorias, como romance e mistério, eles vêm sendo comprados em grande número este ano.

No primeiro trimestre de 2011, mais ou menos 6% do total de vendas de livros de receitas foram em formato digital, disse Gallagher. No final do segundo trimestre essa parcela tinha saltado para 8,5%.

O número de livros de culinária --em papel e eletrônicos-- publicados aumentou de 2.643 em 2009 para 3.300 em 2010, segundo dados de Bowker. Nos próximos meses estão previstas vendas ainda maiores, graças à proliferação de tablets coloridos, mais recentemente com o lançamento, na semana passada, do Kindle Fire pela Amazon.

Sarah Rotman Epps, analista sênior da Forrester Research, disse que a Apple vendeu 28,7 milhões de iPads em todo o mundo no trimestre que terminou em julho. Segundo sua estimativa, esse número já chegou a 33 milhões.

Edward Ash-Milby, comprador de livros de culinária para a Barnes & Noble, disse que os livros de culinária que têm vendas fortes em formato digital tendem a ser aqueles cuja estrutura é mais narrativa.

Mas as vendas impressas ainda são fortes, acrescentou. "Os livros de culinária são uma categoria muito forte em nossas lojas", disse Ash-Milby. "Eles têm um grande futuro em papel."

Tradução de Clara Allain

 

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