Cristovão Tezza fala sobre seu encontro com o Nobel de Literatura J.M. Coetzee
"Uma pessoa muito discreta, uma figura silenciosa e, de certa forma, frágil." Assim o romancista Cristovão Tezza define a personalidade do escritor sul-africano John Maxwell Coetzee. Eles se conheceram no final de fevereiro deste ano, durante um encontro literário em Adelaide, na Austrália, onde vive Coetzee.
Em entrevista à Ilustríssima, Tezza --que assina crítica na edição de 27/6 sobre a trilogia autobiográfica de Coetzee--, formada pelos livros Infância, Juventude e Verão , fala das impressões do Nobel de Literatura sobre a cultura e a questão racial no Brasil.
Como conheceu J.M. Coetzee?
Ao chegar a Adelaide (Austrália), para participar do Festival de Artes que a cidade promove (o que inclui uma Semana do Escritor), recebi convite para jantar na casa dele, junto com os escritores Geoff Dyer e Marina Lewicka. Também estavam presentes a companheira de Coetzee, Dorothy Driver, e a italiana Arianna Dagnino, também residente em Adelaide, que havia lido nossos livros e foi uma ótima "apresentadora", comentando-os assim que sentamos à mesa. Tenho a sensação de que o próprio Coetzee pediu a ela que fizesse isso.
Que impressão ele lhe causou?
Ele me pareceu uma pessoa muito discreta, uma figura silenciosa e, de certa forma, frágil. Mas muito gentil. Em todos os momentos em que o encontrei no festival, ele sempre ouvia muito mais do que falava. Mesmo como moderador de várias mesas-redondas, restringia-se rigorosamente às frases protocolares de apresentação e o mínimo de palavras na condução dos debates.
Como foi o jantar?
Bem, o jantar era vegetariano, naturalmente --mas como eu já havia lido "A Vida dos Animais", estava psicologicamente preparado. Aliás, foi uma bela lasanha. O engraçado é que, pontualmente às 10h da noite, Coetzee levantou-se e nos perguntou, com a voz suave: "Seria muito rude se eu chamasse um táxi agora?"
Sobre o que conversaram?
Sobre muitas coisas, mas nada sobre literatura, e muito menos sobre a literatura dele. Como desgraçadamente não tenho nenhum talento de investigação jornalística, esse assunto acabou não entrando em pauta. Conversamos só sobre o filme "Desonra" [de Steve Jacobs, 2009, DVD Imagem Filmes], baseado no romance [homônimo] dele, com John Malkovich no elenco.
E sobre o Brasil?
O Brasil foi assunto por um bom tempo. Há uma imagem positiva, talvez mais exatamente "bem-humorada", sobre o país. Mesmo descontando o fato de que pelo menos quatro escritores ingleses participantes do festival (entre eles, Geoff Dyer) confessaram que haviam sido assaltados no Rio de Janeiro. Coetzee ressaltou dois pontos: o que ele chamou de "grande autonomia" da cultura brasileira e a originalidade da questão racial no país. Num momento, perguntaram-me (acho que o Geoff Dyer) se a palavra "mulato" era pejorativa no Brasil. Acabei recorrendo a Gilberto Freyre, que me salvou.
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
- Sociólogo discute transformações do século 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade