Leia poemas da argentina Alejandra Pizarnik nunca publicados no Brasil

Dois livros da escritora têm lançamento inédito pela Relicário Edições, em abril

Alejandra Pizarnik tradução Davis Diniz

SOBRE O TEXTO Os poemas desta página integram as obras "Árvore de Diana" (1962) e "Os Trabalhos e as Noites" (1965), que têm lançamento inédito pela Relicário Edições, em abril. A imagem, "Je me rappelle le vent" (eu me lembro do vento) (1962), será publicada em julho, nos EUA, em "The Galloping Hour: French Poems of Alejandra Pizarnik" (a hora galopante: poemas franceses de Alejandra Pizarnik), com edição e tradução de Patricio Ferrari e Forrest Gander, pela editora New Directions.


desenho em papel bege
Ilustração - Alejandra Pizarnik

ÁRVORE DE DIANA

6

ela se desnuda no paraíso

de sua memória

ela desconhece o feroz destino

de suas visões

ela tem medo de não saber nomear

o que não existe

.

16

construíste tua casa

emplumaste teus pássaros

golpeaste o vento

com teus próprios ossos

.

terminaste sozinha

o que ninguém começou

.

20

disse que não sabe do medo da morte do amor

disse que tem medo da morte do amor

disse que o amor é morte é medo

disse que a morte é medo é amor

disse que não sabe

.

A Laura Bataillon

23

uma mirada a partir da sarjeta

pode ser uma visão do mundo

.

a rebelião consiste em olhar uma rosa

até pulverizar-se os olhos.

.

33

alguma vez

.                 alguma vez talvez

eu irei sem ficar-me

.                 eu irei como quem se vai

A Ester Singer

.

OS TRABALHOS E AS NOITES

Encontro

Alguém entra no silêncio e me abandona.

Agora a solidão não está a sós.

Tu falas como a noite.

Te anuncias como a sede.

.

Os trabalhos e a noite

para reconhecer na sede meu emblema

para significar o único sonho

para não sustentar-me nunca de novo no amor

.

eu fui toda oferenda

um puro errar

de loba no bosque

na noite dos corpos

.

para dizer a palavra inocente

.

Mendiga voz

E ainda me atrevo a amar

o som da luz em uma hora morta,

a cor do tempo em um muro abandonado.

.

Em meu olhar eu perdi tudo.

É tão longe pedir. Tão perto saber que não há.

.

Quarto só

Se te atreves a surpreender

a verdade desta velha parede;

e sua fissuras, arranhaduras,

formando rostos, esfinges,

mãos, clepsidras,

seguramente virá

uma presença para tua sede,

provavelmente partirá

esta ausência que te bebe.


texto e ilustração: Alejandra Pizarnik (1936-72) foi uma escritora e poeta argentina.

tradução: Davis Diniz, 36, é tradutor e doutor em teoria da literatura e literatura comparada pela UFMG.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do informado, Alejandra  Pizarnik já havia sido publicada no Brasil, com "A Condessa Sangrenta" (Tordesilhas, 2011). Sua obra poética, porém, ainda não foi editada em livro.

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