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Alon Feuerwerker

Hamas cometeu erros múltiplos ao atacar Israel

Grupo terrorista e seus apoiadores acreditaram excessivamente na própria propaganda

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[RESUMO] Autor escreve que a recusa em reconhecer o direito de Israel existir é a raiz dos demais erros e das seguidas derrotas dos palestinos. Os apelos à solução de dois Estados, afirma, não sairão do plano dos desejos até que essa negação seja corrigida.

O 7 de Outubro em Israel foi resultado também de uma catastrófica falha da inteligência israelense. Não é inédito.

Uma catastrófica falha de inteligência fez a URSS ser surpreendida pela invasão nazista em 1941. Poucos meses depois, outra falha de dimensão semelhante permitiu aos japoneses o fator surpresa no ataque a Pearl Harbor. E o 11 de Setembro? Como os americanos deixaram aquilo ser organizado e executado sob o nariz deles?

Camas representando o número de reféns israelenses mantidos pelo Hamas desde 7 de outubro em Jerusalém - Ahmad Gharabli - 30.out.23/AFP

Falhas assim costumam ter uma característica: subestima-se a hipótese de o adversário cometer, ele próprio, um erro catastrófico. Os exemplos descritos alinham-se nessa categoria. Hitler achava que sua ação militar faria ruir o governo bolchevique. O Japão imperial achava que, destruída a frota dos EUA no Pacífico, os americanos teriam de negociar a divisão das esferas de influência na Ásia.

Conhecemos como acabou.

O que Osama bin Laden acreditava que aconteceria depois do ataque às torres gêmeas? Nunca saberemos com certeza. Pena.

Para todos esses exemplos, com sua imensa carga de tragédia, há sempre a tentação de aplicar o meme "como começou, como está hoje". Vale também no conflito que agora opõe Israel e o Hamas. Começou com um ataque que, além de tomar território israelense e aterrorizar a população civil, com o claro objetivo de limpeza étnica, imaginava levar os combates ao interior de Israel por um longo período, provocar um levante na Cisjordânia, unir o mundo árabe e muçulmano e fazer o Hezbollah abrir uma segunda frente, na fronteira do Líbano.

A variável ainda fluida é esta última, mas até agora o que se tem na fronteira libanesa são escaramuças. Até agora.

No mais, e segundo a doutrina militar israelense, o ataque ao sul foi rapidamente contido ali mesmo, os invasores foram derrotados e o conflito foi transferido para a Faixa de Gaza. Não houve levante na Cisjordânia nem choques armados dentro de Israel. O que começou sob as consignas de "Do rio ao mar" e "Vamos riscar Israel do mapa" agora transformou-se em pedidos de cessar-fogo e apelos humanitários.

Onde o Hamas errou na avaliação? Foram erros múltiplos. Subestimou a coesão da sociedade israelense e da diáspora judaica quando o inimigo coloca em questão a sobrevivência do país. Fez a leitura errada, talvez influenciada pelos fatos recentes, do potencial de divisão interna em Israel. E subestimou quanto a coesão israelense e judaica seria reforçada em resposta ao barbarismo de 7 de outubro.

O Holocausto é geralmente associado aos campos de extermínio da solução final. Mas, antes da Conferência de Wannsee, o mais comum era a ação dos grupos de extermínio nazistas, os "einsatzgruppen". É notável a semelhança da ação dos "einsatzgruppen" e do que fizeram os comandos de extermínio hamasistas em 7 de outubro. Qualquer um medianamente informado notou.

Para quem não conhece a história, existe um documentário bom: "Einsatzgruppen: The Nazi Death Squads".

O Hamas também superestimou o isolamento internacional de Israel, subestimou a importância e o papel de Israel no cenário geopolítico, sem falar na subestimação do poderio militar israelense, cuja capacidade de dissuasão está exposta como talvez nunca antes.

Mas o erro estrutural do Hamas e seus apoiadores, antigos e novos, abertos ou disfarçados de humanistas piedosos, está no que nunca se deve fazer em política: acreditar excessivamente na própria propaganda.

Israel não é um Estado colonial, é fruto de um movimento de libertação nacional, como outros tantos do século passado. Não há apartheid em Israel, os árabes-israelenses gozam de todos os direitos. Há, sim, um impasse político que envolve as áreas de Gaza e Cisjordânia e que já estaria resolvido faz tempo se o mundo árabe e muçulmano aceitasse Israel como Estado judeu.

Essa é a condição preliminar e indispensável para haver dois Estados ali.

Se há Estados islâmicos, por que não pode haver um Estado judeu? Não é tão difícil saber a resposta.

Israel jamais aceitará um Estado palestino que se apresente como "etapa" para destruir o Estado judeu. O assunto guarda alguma semelhança conceitual com a recusa da Rússia a aceitar uma Ucrânia na Otan e voltada a servir de instrumento para a mudança de regime em Moscou. Ou, pior, para o desmembramento da Rússia.

Mas é evidente que a esquerda que exige uma Palestina autorizada a aliar-se militarmente ao Irã, um Irã que explicita a cada dia seu objetivo estratégico de riscar Israel do mapa, não está preparada para debater o óbvio paralelismo entre as duas situações. Faz parte da cegueira que a arrasta a dividir as nações em dois grupos: as que têm e as que não têm o direito de existir. Para este segundo caso, há até intelectuais disponíveis para negar que sejam nações.

Todos os demais erros dos palestinos, e suas seguidas derrotas, decorrem desse erro, tão estrutural quanto catastrófico. Até que seja corrigido, os apelos à "solução de dois Estados" servirão de lenitivo para as consciências, mas não sairão do plano dos desejos.

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