Site mostra como foi a Independência em cada província

Projeto é resultado de parceria do Senado com o Projeto República (UFMG)

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Belo Horizonte

Engana-se quem pensa que o grito do Ipiranga resume todo o processo de independência do território brasileiro em 1822.

Como diz a historiadora Heloisa Starling, coordenadora do Projeto República (núcleo de pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG), essa independência "pacífica" e "consensual" foi construída sob a ótica de um projeto monarquista vitorioso que precisou garantir a unidade de um império emergente. "Para isso, [esse projeto] precisou apagar aquilo que significou o diferente, a discordância", ela ressalta.

No intuito de retomar histórias muito pouco lembradas ao longo desses 200 anos, o recém-lançado site Itinerários Virtuais da Independência apresenta uma série de acontecimentos e movimentos que, nas primeiras décadas do século 19, consolidaram diferentes facetas das lutas pela liberdade no território brasileiro.

captura de tela evidencia como era o brasil nas primeiras décadas do século 19, dividido em 19 províncias. Sob um fundo preto, está esse mapa, onde estão destacadas, de verde, as províncias do Maranhão, Pernambuco e São Pedro do Rio Grande do Sul
Página principal do site, lançado pelo Senado Federal e pelo Projeto República da UFMG - Divulgação

O projeto foi desenvolvido pela UFMG, por meio do Projeto República, em parceria com o Senado. Colaboraram ainda a PUC-Rio e a Associação Rio Memórias. Seu lançamento integra a agenda organizada pela comissão do Senado para celebrar o bicentenário da Independência.

"Existiu um ciclo revolucionário da Independência, com protagonismo dos povos originários em várias províncias e levantes de escravos", conta Starling, professora do departamento de história da UFMG.

"Pense na batalha que ocorreu no Piauí, a Batalha do Jenipapo [deflagrada em março de 1823]. Foram 200 brasileiros mortos ali, a tiro de canhão. Nós não conhecemos essa história", afirma. "A gente conhece pouco a importância da luta pela independência na Bahia. E os brasileiros que foram sufocados no porão de um navio, lá no Grão-Pará?"

Na sexta (3), foi lançada uma versão com dois percursos possíveis. Além da história das lutas pela independência nas províncias existentes à época, contada com o auxílio de imagens e outros recursos, o projeto também apresenta as outras independências na América Latina.

A proposta busca investigar de que modo os processos de emancipação da Argentina, da Colômbia e do Haiti, por exemplo, conversam com a realidade histórica brasileira.

Já estão disponíveis para navegação as narrativas das províncias do Maranhão, Pernambuco e São Pedro do Rio Grande do Sul. Fora do Brasil, o visitante também pode conhecer um pouco mais das lutas no Vice-Reino do Rio da Prata, região que englobava os territórios atuais da Argentina, Paraguai e Uruguai.

A ideia é liberar novos conteúdos quinzenalmente, a fim de manter o site em atualização até setembro, mês do bicentenário.

Acompanhando cada texto, há pinturas, gravuras, documentos e mapas históricos, além de trechos de filmes ou músicas. Para aprofundar as narrativas, também foram produzidas videoaulas. A primeira delas é conduzida por Marcelo Cheche, professor do departamento de história e geografia da Universidade Estadual do Maranhão, que conta como se deram as lutas pela independência por lá.

mapa antigo da ilha de são luiz, no Maranhão, em sépia
Mapa da ilha de São Luís do Maranhão datado de 1820, de autoria de Joaquim Cândido Guilhobel - Acervo Biblioteca Nacional Digital

O site reúne ainda podcasts. Entre os já publicados, estão um que apresenta a história do pernambucano Frei Caneca, líder Confederação do Equador, e outro que destaca a circulação de ideias no período revolucionário.

Duas páginas ainda estão em desenvolvimento. Uma pretende evidenciar os ideais e eventos que, ocorridos dentro ou fora do Brasil, alimentaram noções de soberania e liberdade. Outra vai apresentar como a Independência foi lida e apreendida ao longo do tempo. "Como ela foi comemorada em 1922, por exemplo? Como o teatro e o cinema trataram esse tema?"

Ineditismo

De acordo com Heloisa Starling, é provável que esse projeto, por conta de seu detalhamento e da sua extensão, seja inédito frente aos demais que propuseram narrativas da Independência.

"Alguns historiadores lançaram livros aprofundando alguns recortes. Mas nós provavelmente estamos fazendo uma coisa nova, com esse olhar sobre como foi em cada um desses lugares", ela conta.

em primeiro plano, um homem de farda e chapéu branco está sentado, perto de um casebre. ao fundo, dois homens aparecem: um montado num cavalo, usando um poncho, e um homem negro que o acompanha a pé
Cena da província de São Pedro do Rio Grande do Sul, registrada em gravura de Jean-Baptiste Debret, de 1823 - Museu Castro Maya

Ao longo de um ano, um time de professores e estudantes de diferentes universidades e instituições de ensino brasileiras se debruçou sobre diversos estudos e documentos para tornar a narrativa o mais bem referenciada possível.

"É muito importante ter a produção de conhecimento novo, criado na universidade, sendo devolvido para o povo brasileiro", diz a historiadora.

Outras iniciativas

Demais sites e projetos foram criados para lembrar a história da Independência neste ano do bicentenário. Conheça alguns a seguir:

  • Bicentenário da Independência do Brasil: campanha e site do Governo Federal, lançados pela Secretaria Especial da Cultura;
  • Agenda Bonifácio: plataforma criada pelo estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, que reúne a agenda comemorativa do Estado, pílulas históricas, curiosidades e perfis de personagens do período;
  • "Guerra Literária: Panfletos da Independência (1820-1823)": publicada em quatro volumes pela Editora UFMG e disponibilizada gratuitamente pela Fundação Biblioteca Nacional, a obra reúne 362 panfletos que registram o debate em torno da Independência, tanto no Brasil quanto em Portugal;
  • Blog das Independências: apresenta, semanalmente, textos escritos por especialistas sobre temas relacionados. O site é produzido por meio de uma parceria entre a Associação Nacional de História (Anpuh), a Revista Almanack e a Sociedade de Estudos do Oitocentos;
  • Portal do bicentenário: iniciativa construída em rede por professores, pesquisadores, instituições de ensino e pesquisa, movimentos sociais e demais entidades, principalmente voltado para professores e estudantes da educação básica.
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