Rubens Valente
Brasília

A Polícia Federal investiga operações financeiras realizadas pelo Postalis, o fundo de pensão dos funcionários dos Correios. Há suspeita, segundo a PF, de que uma organização criminosa estaria desviando recursos do fundo.

 Segundo a PF, ações iniciadas nesta quinta-feira (1º) continuarão pelas próximas 48 horas em São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Alagoas.

Ainda de acordo com a polícia, auditorias encaminhadas pelo Ministério Público Federal identificaram má gestão, irregularidades e impropriedades na aplicação dos recursos do fundo, que hoje tem deficit de cerca de R$ 6 bilhões --o que obrigou o aposentados e funcionários dos Correios, além do Tesouro Nacional, a aumentar a contribuição previdenciária. A Folha não teve acesso às auditorias referidas pela PF, pois o caso está coberto por segredo de Justiça, que deve ser levantado nas próximas horas.

Foram emitidos em torno de 100 mandados judiciais contra pessoas físicas --em especial empresários em suposta articulação com gestores que estariam envolvidos nas fraudes e dirigentes de uma instituição financeira-- e jurídicas, entre elas empresas com títulos em Bolsas e instituições de avaliação de risco.

A Folha apurou que um dos investigados na operação é a unidade brasileira do banco norte-americano BNY Mellon, com o qual o Postalis mantinha um contrato para gestão de investimentos. 

 Outro foco da operação é o lobista Milton Lyra, ligado ao MDB, que já foi alvo de buscas e apreensões em outra operação da PF, a Sépsis, deflagrada no ano passado.

Em nota, o Ministério Público Federal no DF afirmou que há três investimentos sob foco da Operação Pausare: uma aplicação de cerca de R$ 223,4 milhões no FIP (Fundo de Investimento em Participações) ETB, relativo "ao projeto Nova Bolsa (que vislumbrava a criação de uma nova bolsa de valores no Brasil), vinculado às empresas Marco Poli Inc e Vistrix Partners", as emissões de CCI (Cédulas de Crédito Imobiliário) da Mudar Master II Participações S/A, no valor de R$ 109,8 milhões, e investimento de R$ 190 milhões no FIP Energia, vinculado ao Grupo Canabrava, do Rio de Janeiro. Sobre o FIP ETB, o Ministério Público disse que o fundo de pensão "financiou o investimento praticamente sozinho, com aproximadamente 98,33% do aporte total inicial e ficou com apenas 25% do empreendimento". 

"Em razão da dimensão dos desvios investigados, da complexidade dos crimes e do volume de documentos que se projeta encontrar, a PF optou por utilizar na Operação Pausare uma doutrina que dá maior ênfase à multiplicação das oportunidades para a investigação policial, realizando a análise da pertinência dos documentos e mídias, além de outros atos de apuração, nos próprios locais de busca, criando novas possibilidades investigativas e aumentando a agilidade, eficácia e a transparência do trabalho de investigação policial", informou a polícia.

A PF diz que o nome da operação "faz referência ao infinitivo presente do verbo latino pauso --pausare-- palavra empregada com o sentido de aposentadoria".

Em nota, o banco BNY  Mellon afirmou que a PF esteve no escritório da instituição "em decorrência de uma investigação em curso, que entendemos envolver uma séria de outras instituições. Estamos cooperando integralmente com as autoridades".

Em nota, o Postalis afirmou que "não tem outras informações sobre a operação Pausare, deflagrada hoje [ontem] pela Polícia Federal, além daquelas publicadas no site oficial da própria PF."

"O Postalis está sob intervenção da Previc (Superintendência Nacional de Previdência Complementar) desde outubro de 2017 e tem todo interesse de que os fatos investigados sejam esclarecidos com a maior brevidade possível", afirmou o fundo de pensão.

Em nota, Milton Lyra afirmou que "não é e nunca foi intermediário de qualquer repasse a congressistas. Tampouco teve qualquer tipo de negócio com o fundo Postalis. O empresário é o principal interessado na conclusão das investigações, para o que colabora integralmente no esclarecimento das falsas acusações das quais tem sido vítima."

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