Descrição de chapéu Itaú

Cade aprova compra da XP pelo Itaú com limitações

Conselheiros divergem, porém, sobre efeitos de operação neste mercado

Guilherme Benchimol, presidente da XP,  corretora que teve uma parte vendida ao Itaú
Guilherme Benchimol, sócio-fundador da XP Investimentos - Danilo Verpa - 15.mai.17/Folhapress
Mariana Carneiro Julio Wiziack
Brasília

A maioria dos conselheiros do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovou a compra da XP Investimentos pelo Itaú. A conclusão da operação, porém, ainda depende do Banco Central.

Por cinco votos a dois, a aquisição foi autorizada com limitações à atuação do Itaú sobre a corretora até a conclusão da venda, em 2024.

No acordo, a corretora deverá manter sua plataforma de distribuição de investimentos aberta para qualquer interessado, sem discriminação, como antecipou a Folha.

Não será permitida exclusividade a gestores e emissores de papéis. O Itaú deverá se abster da inclusão de qualquer produto de investimento na XP —inclusive sobre as condições comerciais. O banco não poderá interferir na gestão, mas poderá indicar de dois a três representantes no caso conselho de administração.

A corretora também não poderá exigir exclusividade de agentes autônomos.

O acordo terá validade até 31 de dezembro de 2022. Depois disso, o Cade exigirá que Itaú e XP apresentem novamente pedido para a próxima etapa da operação: a compra do controle.

DIVERGÊNCIA

Dois conselheiros, no entanto, levantaram problemas à operação. Em votos contrários, Cristiane Alkmin e João Paulo de Resende apresentaram preocupações sobre a sobrevivência do mercado independente de distribuição de investimentos, por meio de novas plataformas tecnológicas, do qual a XP Investimentos faz parte.

O principal argumento é que o Itaú, como maior banco privado do país, está sofrendo a competição de novas empresas de tecnologia, como a própria XP, na oferta de opções de investimentos. 

Com isso, muitos clientes de elevado poder aquisitivo estão deixando os bancos para investir por meio dessas plataformas, que funcionam como um supermercado de investimentos.

Ao comprar a concorrente, segundo os conselheiros, o Itaú engole a competidora. 

"O Itaú quer conter a sangria migratória de clientes para a XP" afirmou Alkmin. "A reprovação tem que ser feita neste momento. Caso não, os demais bancos terão carta branca para comprar novas empresas que surgirem neste mercado."

Segundo a conselheira, isso põe em risco o futuro do mercado de fintechs (startups da área financeira).

"O salutar desenvolvimento do mercado de capitais será freado de forma abrupta", disse. 

"O Itaú quer acabar com o competidor chato e inoportuno. Como se tivesse que acordar com os latidos de um terrier [cachorro de pequeno porte]. Pena que o miúdo cão seja engolido por Zeus, o maior dog alemão do mundo", afirmou.

Resende recorreu à analogia com o mercado de tecnologia para demonstrar preocupação com o futuro das fintechs. Ele lembrou a compra do WhatsApp pelo Facebook. Até hoje, afirmou ele, nenhuma outra empresa de mensagens instantâneas entrou no mercado. Tampouco o Facebook promoveu inovações para competir com o Whatspp, o que freou melhorias aos usuários. 

"Existe um mercado rico e inovador florescendo e que, no nascedouro, sofre risco de extinção", disse Resende. "Acredito que esse movimento virará tendência, com as demais plataformas sendo adquiridas por grandes bancos."

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