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Desilusão leva ao populismo, diz Ramírez

Presidente da rede Cinépolis afirma que candidatos apelam às fórmulas fáceis na América Latina

Presidente da Cinépolis, maior rede de cinemas do México e segunda maior no Brasil, Alejandro Ramirez - Adriano Vizoni / Folhapress
Nelson de Sá
São Paulo

Num ano de eleições presidenciais em países como México e Brasil, a América Latina vive um ponto de inflexão, de mudança, e "vemos o surgimento de líderes populistas, demagógicos", também na região.

É o que afirma Alejandro Ramírez, 47, presidente da Cinépolis, maior rede de cinemas do México e segunda maior no Brasil, e um dos copresidentes do Fórum Econômico Mundial para a América Latina, em São Paulo.

É parte de uma tendência global, acredita ele, e deriva do fato de que em toda parte "os cidadãos estão muito desiludidos com as instituições, principalmente com as instituições públicas, do Estado".

Ramírez vê as disputas na região sendo protagonizadas por políticos "que tratam de se aproximar do eleitorado com fórmulas fáceis", como aconteceu antes nos Estados Unidos e na Europa, "com muita propaganda".

São canditados "anti-establishment" que até em países estáveis como a França conseguem deixar para trás os partidos históricos, levando ao segundo turno "uma ultra-direitista, populista, demagógica como Marine Le Pen".

MÉXICO

Ele vê o que acontece em seu país como representativo de toda a América Latina.

"No dia 1º de julho, será a maior eleição da história do México, de presidente, nove governadores, todo o Senado, toda a Câmara de Deputados, mais de 1.500 prefeitos", relata.

Uma eleição "imensa" e marcada pelo "descontentamento com as instituições". Cita pesquisas recentes mostrando que todas sofreram queda na confiança e enfatiza que a aprovação do presidente Enrique Peña Nieto "é só de 21%".

O empresário lamenta que "não se reconhecem muitos avanços" alcançados nos últimos anos por Peña, inclusive nove reformas estruturais.

"A mais importante foi a da educação, que obriga os professores a serem avaliados", afirma Ramírez.

A reforma energética abriu o setor para investimentos privados, a trabalhista flexibilizou o regime de emprego, vai listando Ramírez, para acrescentar por fim que "a única que já deu resultados tangíveis para a população é a das telecomunicações".

A reforma enfrentou o predomínio do grupo de Carlos Slim, permitiu mais concorrência entre os provedores de serviços de internet e "resultou em custos de telefonia móvel mais baixos, em preços menores", o que foi percebido pelos eleitores.

VIOLÊNCIA

Além de reformas que precisariam de mais tempo para mostrar seus efeitos, houve "temas muito próximos à população em que não houve avanço".

Em segurança pública, pelo contrário, 2017 terminou como o ano com mais homicídios na história do México.

E esse "é um problema para toda a América Latina", alerta Ramírez, citando ranking da organização mexicana Conselho Cidadão para a Segurança Pública, que afirma que a região tem 43 das 50 cidades mais violentas do mundo.

Apesar dos avanços estruturais e econômicos recentes na América Latina, avalia, "eles não são reconhecidos porque o estado de direito na região é muito frágil". Uma fragilidade que se reflete não só na violência, mas em outras áreas.

"Uma segunda coisa em que o México se assemelha ao Brasil é que no país também houve corrupção", diz o empresário.

"A percepção de corrupção piorou, o que gera muito descontentamento. Não só corrupção, mas impunidade."

O resultado é que quem encabeça a intenção de voto é "um líder anti-establishment, demagógico", Andrés Manuel López Obrador.

Ramírez ressalva porém que "não quer dizer que ele vá ganhar, falta toda a campanha formal, que começa em 1º de abril".

Economista formado e com pós-graduação em Harvard, ele acrescenta: "É preciso que reconheçamos que por muitos anos nos concentramos em aprovar as reformas estruturais, necessárias para ter uma macroeconomia estável, mas faltou uma série de políticas complementares, mais inclusivas".

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