Descrição de chapéu Abilio Diniz Pedro Parente

Acionistas confirmam Pedro Parente na presidência do conselho da BRF

A votação atrasou mais de oito horas depois de solicitação da CVM para que voto fosse múltiplo

Pedro Parente, que também comanda a Petrobras, foi escolhido como o novo presidente do conselho de administração da BRF - Pilar Olivares-28.fev.2018 / Reuters
Raquel Landim
Itajaí (SC)

Depois de meses de intensa disputa, o conflito entre os principais acionistas da BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, parece pacificado com a confirmação do executivo Pedro Parente para a presidência do conselho de administração da companhia.

Nesta quinta-feira (26), três dos principais protagonistas da disputa - Abílio Diniz, Francisco Petros e Luiz Fernando Furlan - voltaram juntos para São Paulo no avião particular de Abilio.

Eles passaram o dia em Itajaí (SC), sede da BRF,  resultado da fusão de Sadia e Perdigão, participando da assembleia de acionistas que referendou o nome de Parente e dos demais nove conselheiros.

Além de Parente, Petros e Furlan, os novos membros do colegiado são Augusto Cruz, Walter Malieni, Flávia Almeida, Roberto Rodrigues, Dan Ioschpe, José Luiz Osório e Roberto Mendes. Abilio deixou o conselho.

Os eleitos fazem parte da chapa de “consenso” acordada previamente entre os maiores acionistas após semanas de intenso vai e vem nas negociações.

Nos bastidores da assembleia, havia a expectativa de que as famílias Furlan e Fontana, herdeiras da antiga Sadia, elegessem para o colegiado o consultor Vicente Falconi. Ele, no entanto, não alcançou votos suficientes.

O motivo da carona de Petros e Furlan no avião de Abilio foi o atraso de mais de oito horas para o início da votação, por conta de uma exigência da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

A CVM pediu à BRF que mantivesse a escolha dos conselheiros vaga a vaga - o chamado voto múltiplo. Na quarta-feira (25), a empresa havia anunciado que teria apenas uma chapa única.

A mudança no sistema de votação ocorreria porque o fundo britânico Aberdeen retirou sua solicitação de voto múltiplo, mas a CVM entendeu que a chapa única adotada de última hora prejudicaria os interesses de acionistas cujos votos já haviam sido enviados e que representavam cerca de 13% do capital.

Por conta da exigência da autarquia, a BRF foi obrigada a reformular o sistema de contagem de votos.

Além disso, um advogado presente na assembleia teve dificuldade de distribuir os votos dos acionistas que representava entre os diferentes conselheiros.

A confirmação de Parente marca o fim do período de Abílio à frente da BRF. Depois de uma saída turbulenta da rede varejista Pão de Açúcar, que pertencia a sua família, o empresário assumiu o conselho da BRF em abril de 2013.

Na época, ele disse que a gigante de alimentos era mal administrada e prometeu levar as ações a R$ 100 em cinco anos. Nesta quinta-feira (26), os papeis fecharam cotados a R$ 26,00.

A BRF vem sendo fortemente penalizada pelos investidores por conta do prejuízo de R$ 1 bilhão registrado no ano passado, das investigações da Operação Carne Fraca, e pelo conflito entre os acionistas. O antigo CEO, Pedro Faria, chegou a ser preso preventivamente pela Polícia Federal, mas foi liberado.

Os fundos de pensão Petros (Petrobras) e Previ (Banco do Brasil), que juntos detém 22% do capital da empresa, estavam insatisfeitos com a gestão de Abilio, que possui quase 5% das ações. O empresário contava com o apoio do fundo Tarpon, outro relevante acionista com 7%.

Nas últimas semanas, foram frequentes os embates acalorados entre Abilio e e o vice-presidente do conselho, Francisco Petros, representante da Petros. Nesta quinta-feira (26), os dois conversaram tranquilamente numa sala reservada, enquanto aguardavam a contagem dos votos.

Furlan - herdeiro da Sadia e um dos articuladores da fusão com a Perdigão - vinha preocupado com o embate na empresa. Segundo apurou a reportagem, ele foi estimulado por Abilio a se colocar como opção para o comando do conselho, sem saber da articulação em torno do nome de Parente. 

Para dissipar qualquer mal-estar, Furlan tomou a palavra ao fim da assembleia e pediu que Pedro Parente, que também comanda a Petrobras, fosse escolhido como chairman da BRF por aclamação.

O novo conselho de administração da BRF toma posse nesta sexta-feira (27) e seu primeiro desafio será escolher um CEO - o quarto em cinco anos. O executivo José Aurélio Drummond, que ocupou o cargo por poucos meses, pediu demissão no início desta semana.

Conforme pessoas que acompanham o assunto, ele percebeu que não teria suporte para continuar após um encontro com Parente. Drummond havia sido escolhido com apoio de Abilio, mas contra a vontade de Petros e Previ.

Os maiores acionistas já discutem opções de executivos para CEO, mas a escolha será do novo conselho de administração e a opinião de Parente promete ser decisiva. Pelo menos, ao que tudo indica, o escolhido terá um conselho mais harmônico ao qual se reportar.

 
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