Marfrig compra fatia da National Beef e se torna 2ª maior empresa de carne no mundo

Brasileira adquiriu 51% das ações da americana e abriu mercado no Japão e na Coreia do Sul

Bois em confinamento de gado que terceirizam para a Marfrig em São Paulo
Bois em confinamento de gado que terceirizam para a Marfrig em São Paulo - Gastao Guedes/Divulgação
Joana Cunha Danielle Brant
São Paulo

A Marfrig, segunda maior empresa do setor de carnes do país, retoma seu projeto de expansão, sem a ajuda do BNDES, que deu suporte ao modelo de crescimento adotado na última década.

A companhia anunciou nesta segunda-feira (9) um acordo para comprar 51% das ações da americana National Beef, por US$ 969 milhões (R$ 3,3 bilhões).

Com um faturamento combinado superior a R$ 43 bilhões e capacidade de abate em torno de 35 mil, ela passa a ser a segunda maior processadora de carne bovina do mundo, atrás apenas da JBS.

Sediada no Missouri, a National Beef responde por cerca de 13% da capacidade de abate no mercado americano e traz uma experiência de sociedade com produtores que não existe no Brasil.

Após a operação, 15% da National Beef permanecerá nas mãos da associação de produtores US Premium Beef, num modelo que produtores brasileiros têm interesse em copiar.

O negócio acontece em um momento em que a indústria de carnes brasileira tenta se reerguer da crise de imagem provocada pela operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal no ano passado. Embora a Marfrig não tenha sido citada na Carne Fraca, o escândalo que atingiu os concorrentes BRF e JBS prejudicou a imagem do mercado brasileiro como um todo, segundo Martín Secco, presidente da Marfrig.

"A Carne Fraca e eventos posteriores são coisas de que nós cuidamos com muita atenção. A Marfrig não se envolveu, mas se preocupa como país", afirma Secco.

A National Beef exporta para 40 países, incluindo Japão e Coreia do Sul, mercados hoje fechados às exportações de carne brasileira.

O Brasil segue enfrentando algumas barreiras consideradas técnicas para exportar carne bovina in natura para os Estados Unidos, devido aos problemas sanitários do ano passado.

"Temos desafios grandes de voltar a exportar carne para os Estados Unidos. Quando falo de acesso ao mercado de EUA, 80% da comercialização da National Beef é mercado local, além de a National Beef ser o principal exportador de carne americano", afirma o executivo.

BANCO PRIVADO

A compra da National Beef será financiada por um banco privado, o Rabobank. Ao BNDES --que na década passada, nos governos petistas, proporcionou a expansão da Marfrig e outros frigoríficos brasileiros na política dos campeões nacionais-- caberá apenas aprovar a operação.

Na condição de acionista da Marfrig com 33,74%, o banco tem um prazo de 30 dias para assinar o acordo.

A operação também precisa passar por órgãos de defesa da concorrência.

Um dos principais objetivos do negócio é reduzir o grau de endividamento da Marfrig, cuja dívida total correspondia a 4,55 vezes seu Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) no ano passado. Esse indicador cai da para 3,35 vezes com a aquisição.

A ideia, porém, é levar esse número para 2,5 vezes até o fim de 2018.

Para isso, a Marfrig tomou a decisão de vender a Keystone, gigante do mercado de carnes processadas que a Marfrig adquiriu em 2010.

"Depois da conclusão da venda da Keystone, queremos ser a empresa com a melhor saúde financeira do setor e reforçar que essa transação não muda nossa disciplina financeira e nosso caminho de desalavancagem", diz o presidente da empresa.

Em relatório, analistas do BTG Pactual consideram que a operação, à primeira vista, surpreende, considerando as metas agressivas de desalavancagem da Marfrig.

CAPACIDADE

Fundada em 1992, a National Beef faturou, segundo a Marfrig, US$ 7,3 bilhões (R$ 24,3 bilhões) no ano passado e tem capacidade de abate de 12 mil cabeças por dia.

A empresa é sediada em Kansas City, no estado do Missouri, e tem duas unidades de processamento em Dodge City e Liberal, no Kansas, que respondem por cerca de 13% da capacidade total de abate do mercado americano, afirma a Marfrig.

Segundo a empresa, os principais executivos da National Beef permanecerão na companhia, que segue sob a gestão de Tim Klein. O Conselho de Administração da National Beef será composto por nove membros: cinco indicados pela Marfrig, dois pela Leucadia e dois por acionistas minoritários. 

O Rabo Securities USA foi o consultor financeiro da Marfrig na transação de compra. O escritório de advocacia Linklaters atuou como conselheiro internacional. No Brasil, a assessoria legal foi feita pela Lefosse Advogados.


QUEM É QUEM

MARFRIG GLOBAL FOODS 

Fundação: 2000 
Sede: São Paulo (Brasil)
Divisões: Beef e Keystone 
Composição acionária:
35% MMS Participações; 33,74% BNDES Participações; 10,01% Brandes Investment Partners, 21,06% outros investidores, 0,02% Conselho de Administração, 0,13% ações em tesouraria 
Receita líquida em 2017: R$ 19 bilhões 
Ebitda ajustado em 2017:
R$ 1,7 bilhão
Capacidade total de abate/ano: 4,7 milhões de cabeças de gado
Número de Funcionários: 32 mil 
Presença:
em 12 países
Exportações: para cerca de 100 países

NATIONAL BEEF  

Fundação: 1992
Sede: Kansas City (EUA)
Nova composição acionária:  51% Marfrig; 31% Leucadia Nation Corporation, 15% US Premium Beef, 3% de outros investidores 
Receita líquida em 2017: R$ 24,3 bilhões 
Ebitda ajustado em 2017: 
R$ 1,7 bilhão
Capacidade total de abate/dia: 12 mil de cabeças de gado
Número de Funcionários: 8.200 
Presença:
fábricas nos EUA; escritórios em Japão, Coreia do Sul e Hong Kong
Exportações: para cerca de 40 países

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