Gradual replicou esquema de fraudes da Lava Jato, afirma relatório da PF

Contadora de Alberto Youssef teria repetido esquema da operação em supostas irregularidades com fundos de previdência

Meire Poza, ex-contadora do doleiro Alberto Youssef, durante depoimento na CPMI da Petrobras, em 2014
Meire Poza, ex-contadora do doleiro Alberto Youssef, durante depoimento na CPMI da Petrobras, em 2014 - Joel Rodrigues/Folhapress
 
São Paulo

Um esquema identificado na Lava Jato foi replicado em supostas fraudes cometidas pela Gradual, segundo relatório da Polícia Federal.

As investigações apontam que a contadora Meire Poza, 48, envolvida na Operação Lava Jato após prestar serviços a empresas ligadas ao doleiro Alberto Youssef teria orientado os principais executivos da Gradual Investimentos a montar uma fraude envolvendo a aplicação de recursos de fundos de aposentadoria de municípios em títulos podres (sem lastro). 

O esquema, no qual a contadora está envolvida, segundo a Polícia Federal, seria uma réplica daquele estruturado por Youssef na Lava Jato.

Em entrevista à Folha, Fernanda Ferraz Braga de Lima Freitas, dona da Gradual, admite que sabia que Meire tinha sido contadora do doleiro Youssef, mas nega que ela tenha sido funcionária da companhia. “Sim, ela foi contadora de várias pessoas. Sou uma pessoa que não necessariamente tem preconceitos.”

Fernanda diz que Meire não tinha “nem experiência nem competência” para estruturar a operação supostamente fraudulenta, o que ela nega.

Os casos investigados pela PF atingem a previdência de funcionários públicos, que podem descobrir, no momento da aposentadoria, que os recursos que tentaram acumular para complementar a renda desapareceram. 

As fraudes teriam sido registradas em RPPS (Regime Próprio de Previdência Social) de 28 cidades e, no total, superariam R$ 1,3 bilhão.

Segundo a PF, o dinheiro dos servidores era aplicado em fundos que tinham, entre seus ativos, debêntures (títulos de dívida) sem lastro emitidas por empresas de fachada. 

A Gradual está entre as empresas investigadas pela PF por montar um esquema semelhante: criou uma companhia de tecnologia, a ITS@ Integrated Tecnology, que teria originalmente como donos Fernanda e seu marido, Gabriel Paulo Gouvêa de Freitas Júnior, também sócio da Gradual, segundo a PF.

A ITS seria uma empresa de fachada e teria emitido debêntures para cobrir o prejuízo da Gradual. A empresa lançou pelo menos R$ 10 milhões em títulos de dívida para equalizar a perda da Gradual. No total, teriam sido emitidos R$ 30 milhões em debêntures.

O relatório parcial da PF relata que Meire orientava Fernanda “acerca da melhor maneira de [fazer] transferências de valores de origem da ITS com destino à Gradual”, em operação que envolveria as empresas ITS e Hautmont.

Fernanda tem 99,99% das cotas da Hautmont que, segundo a PF, também recebeu dinheiro das transações.

A Polícia Federal vê semelhanças entre a fraude praticada pela Gradual na aquisição de debêntures emitidas pela ITS e aquelas descritas, em 2014, por Meire à superintendência da regional da Polícia Federal em Curitiba, no Paraná, quando foi ouvida no âmbito da Operação Lava Jato. 

Curiosamente, no esquema da Lava Jato, uma das empresas que emitia notas fiscais por serviços fictícios tinha o nome de IT7 Sistemas.

Procurado, o advogado de Meire, Conrado Corrêa Gontijo, afirmou, em nota, que a contadora, em depoimento à PF, “deixou claro que nunca praticou qualquer conduta ilegal, durante o período em que prestou serviços de contabilidade à Gradual”.

Danielle Brant, Flavia Lima e Taís Hirata

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