Dona da Gradual sabia que contadora trabalhara com Youssef, mas diz que não tem preconceitos

Fernanda de Lima negou as acusações e afirmou que as operações com debêntures têm lastro

Fernanda Ferraz Braga de Lima Freitas, dona da Gradual
Fernanda Ferraz Braga de Lima Freitas, dona da Gradual - Davilym Dourado/Valor
São Paulo

Um dia após deixar a prisão, a dona da Gradual, Fernanda de Lima, nega as acusações. Também afirmou, em entrevista à Folha que a ITS, suspeita de ser empresa de fachada, nasceu da Gradual, mas é uma empresa diferente, e que os R$ 10 milhões foram usados para comprar participações na própria Gradual.  

Como ocorreu a emissão das debêntures?

As emissões têm lastro. Inclusive uma das emissões que acusam de ser sem lastro é de uma empresa que tem  fábrica com maquinário e 200 empregados. É uma situação que já tem provas para refutar informações, mas infelizmente ainda estão sob análise da Polícia Federal. 

A ITS, que é de propriedade do seu marido, e a Gradual são a mesma empresa?

Não. A Gradual ao longo dos anos desenvolveu sistemas de tecnologia que ela mesma utilizava. Em 2012, a gente fez um spin-off, e criou uma empresa de tecnologia. Não é mesma empresa. 

A ITS emitiu R$ 10 milhões que voltaram à Gradual.

Os recursos foram utilizados conforme diz a escritura da operação, que é de compra de participações e opções. A ITS comprou uma participação na Gradual. 


Mas quem são os acionistas da ITS?

É meu marido. 

E da Gradual?

Eu. Meu marido tem 0,01%.

Como você conheceu sua contadora, a Meire? 

Tinha um contador há muito tempo na Gradual, ele pediu para se aposentar entre 2015 e 2016.Foi aí que me apresentou a Meire, ele me contou que a Meire era uma contadora que conhecia a contabilidade de corretora. Ela me contou da história dela, mas a gente precisa de alguém que pudesse fazer a transição e formar nossa equipe. Ela veio como consultora de contabilidade e foi treinando a nova equipe. Ficou um ano. Entrou em março de 2016 e saiu no fim de 2016. Ela prestou consultoria, nunca assinou balanço. 

Vocês sabiam que ela tinha sido contadora do Youssef?

Sim, ela foi contadora de várias pessoas, de várias corretoras. Eu sou uma pessoa que não necessariamente tem preconceitos. Para o que eu precisava dela ela tinha competência técnica.

A senhora disse que Meire nunca trabalhou na Gradual. Mas tinha um email da empresa. 

Um email que usava internamente. Daí a fazer uma ilação de que ela tenha feito uma estruturação de operação existe um hiato bastante grande. Até porque, sendo absolutamente transparente, e não querendo diminuir ou falar mal de ninguém, a Meire não tem nem experiência nem competência para estruturar operação de mercado de capitais.

Quando fizeram o mandado de busca e apreensão na sede da ITS, a PF diz que Meire foi encontrada lá.

Não, não tinha ninguém na sede da ITS.

Segundo o relatório da PF... 

Sim, segundo o relatório eu mandei R$ 259 milhões para fora e esse recurso nunca foi para fora. Existem várias coisas que precisam ser comprovadas.

É preciso ter cuidado. Eu não me sinto confortável com a forma como as informações estão sendo utilizadas e apresentadas pela PF. É muito fácil pegar você, que tem um terceiro nível de amigo do Facebook, e falar que fizeram conluio.

Danielle Brant, Flavia Lima e Taís Hirata

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.