PIB mostra retomada lenta, e parada dos caminhoneiros piora o cenário

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Brasília e Rio de Janeiro

A economia cresceu no primeiro trimestre mais que o 0,3% esperado pelos analistas do mercado financeiro. Mas, ainda assim, eles estão revisando para baixo o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) em 2018.

A paralisação dos caminhoneiros e, antes disso, a alta do dólar colocaram dúvidas sobre o desempenho da atividade no segundo trimestre, e muitos já temem o impacto desses eventos sobre a confiança de empresários e consumidores ao longo do ano.

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informou, nesta quarta-feira (30), que o PIB cresceu 0,4% no primeiro trimestre ante os últimos três meses de 2017. Embora a taxa seja mais alta do que as vistas na segunda metade do ano passado, revela um ritmo mais lento do que era esperado.

Para ter ideia da frustração, no início do ano, a expectativa de analistas, como Thiago Xavier, da consultoria Tendências, era que o PIB cresceria 0,9%. "Esses novos eventos domésticos são fatores que devem limitar o crescimento."

Com as taxas de juros no piso histórico (aos 6,5% ao ano) e a inflação baixa, a expectativa era que o consumo ganhasse velocidade, assim como o investimento, em 2018.

Mas as taxas cobradas do consumidor não caíram na mesma velocidade. O desemprego seguiu elevado, e as vagas que surgiram estão concentradas no setor informal. Isso limitou o avanço da renda disponível para compras.

O consumo das famílias cresceu 0,5% ante o trimestre anterior, número considerado ainda modesto.

O segundo trimestre, que até começou com indicadores positivos em abril, teve um maio turbulento.

Como reflexo da alta do juro nos Estados Unidos, o dólar subiu em países emergentes como o Brasil. O Banco Central segurou novo corte da Selic, e as condições financeiras pioraram.

A paralisação dos caminhoneiros e seus efeitos sobre a economia começam a ser calculados e adicionam problemas a um cenário que já estava ficando mais difícil.

O Santander foi uma das poucas casas que estimaram os caminhões na economia.

A equipe de análise do banco estima impacto de 0,7 ponto percentual no PIB do segundo trimestre e reduziu a expectativa de crescimento da economia em 2018 de 3,2% para 2% --antes havia cortado para 2,5%.

Rodolfo Margato, economista do Santander, disse que o cálculo abrange impactos diretos e indiretos da paralisação, como as perdas de produção e vendas, e a influência negativa na confiança do consumidor, com base em informações reportadas por entidades setoriais nos últimos dias e também de ferramentas estatísticas.

O setor agrícola tende a ser mais impactado, em razão da perda de produção.

"Os animais que morreram ou os produtos que estragaram indicam que será preciso iniciar um novo ciclo de produção, o que leva tempo."

No setor industrial, a conta tem de ser outra, pois o consumidor pode ter apenas adiado a compra de um carro. Essa recuperação se torna inviável no caso do agronegócio, com a perda da produção. Ou no setor de restaurantes, uma vez que a pessoa não vai jantar duas vezes fora neste fim de semana porque ficou em casa no anterior.

Nesse contexto, em vez dos 2,4% de expansão previstos na pesquisa Focus, do BC, agora o consenso parece caminhar para algo em torno de 2%.

Artur Passos, economista do Itaú Unibanco, disse que a paralisação dos caminhoneiros em 2012 e os protestos de junho de 2013 não abalaram o PIB naqueles anos. Mas, agora, parece que a história será diferente.

"Houve interrupção nas cadeias de suprimento e de produção. Boa parte pode ser compensada em junho, mas não está claro se os setores vão conseguir tirar o atraso", disse, referindo-se a atividades como o de proteína animal e de corte e moagem da cana.

"É um efeito de magnitude difícil de calcular, mas o sinal é para baixo", afirmou. O Itaú revisou, no início deste mês, a previsão do PIB para 2%.

Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica do Goldman Sachs, demonstrou preocupação com os efeitos das incertezas no campo político e econômico sobre consumo e investimentos. Ele cortou sua projeção para o crescimento neste ano de 2,3% para 2%.

Os investimentos cresceram 0,6% no trimestre ante os últimos três meses de 2017. Sobre o mesmo período do ano passado, a alta é de 3,5%.

Muito do investimento feito, porém, tem ligação com a depreciação do parque produtivo. As indústrias precisam investir para manter em dia as máquinas e para simplificar processos a fim de reduzir custos. A construção civil, por sua vez, voltou a cair no trimestre (-0,6%), após um segundo semestre mais positivo.

O ajuste nas contas do governo, fator necessário para recolocar a economia no trilho no médio prazo, perde força neste fim de governo. E o quadro eleitoral incerto não permite saber ainda se o próximo presidente se comprometerá com o ajuste.

"Em 72 horas, o governo abriu mão de 0,4% do PIB. É um custo elevado. O risco é que outros grupos se animem a demandar outros benefícios. A situação é crítica, não há espaço fiscal para nada", afirmou Ramos.

O PIB mostrou que, pelo lado da produção, o destaque foi novamente o setor agropecuário, que cresceu 1,4% ante os três meses anteriores. Como em 2017, houve uma supersafra, o setor apresentou queda de 2,6% em relação ao mesmo período do ano passado.

A indústria ficou estagnada, com uma alta de 0,1%, mesma variação dos serviços.

O setor externo, responsável em parte pela melhora da economia no primeiro trimestre de 2017, não repetiu o desempenho agora e tende a ser afetado pela paralisação.

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