Ainda há filas por botijão de gás em nove estados e no DF

Duas semanas após a paralisação dos caminhoneiros, distribuição é falha

Salvador , Ribeirão Preto (SP) e Brasília

A cena é quase inacreditável para quem conhece de perto a realidade do Recife (PE). A capital em que parte da população mais pobre trocou o gás por lenha e carvão por causa de preços altos se depara com filas gigantescas nas portas das revendedoras de botijões.

 

E a situação não é um problema local. Duas semanas após o fim da paralisação dos caminhoneiros, nove estados e (DF) Distrito Federal ainda enfrentam desabastecimento parcial de gás de cozinha.

Em capitais como Cuiabá, Campo Grande e Brasília, há filas nas portas das revendedoras, lista de espera e botijão ao custo de R$ 150. Também há problemas pontuais em Salvador, João Pessoa, Goiânia e no interior de São Paulo, Minas Gerais e Paraná.

Essa "segunda onda" de desabastecimento de gás é resultado do efeito cascata gerado pela paralisação dos caminhoneiros. "Estamos atendendo à demanda normal e à demanda reprimida de dez dias de paralisação. Ficou difícil administrar essa logística, o que mostra o quanto nosso setor é vulnerável", afirma José Luiz Rocha, presidente da Abragás (Associação Brasileira de Entidades de Classe das Revendas de Gás).

Limitações de armazenamento, explica Rocha, limita os estoques. Eles não durem mais que quatro dias --revendas de pequeno porte, por exemplo, só podem ter 40 botijões em estoque. As limitações são definidas pela ANP (Agência Nacional de Petróleo) por segurança.

O problema foi agravado pelo fato de os consumidores comprarem uma quantidade maior de botijões por receio de novo desabastecimento. Também há problemas logísticos como a necessidade de troca de botijões entre as fornecedoras. "Na paralisação, a fidelização de clientes deixou de existir. Compravam gás onde conseguiam, e isso aumentou a necessidade da chamada retroca entre as companhias, atrasando a distribuição", disse Alexandre José Borjali, presidente da Asmirg-BR (Associação Brasileira dos Revendedores de GLP).

Falta gás de cozinha em Recife e no Distrito Federal - Gabo Morales/Folhapress

O Centro-Oeste é a mais afetado. No Distrito Federal, o problema persistia na tarde desta terça-feira (12). Com consumo médio diário de 20 mil botijões, Brasília ficou cerca de de dez dias sem gás. No Nordestes, há desabastecimento em capitais. Em Salvador, 50% das revendas não têm gás.

Petrobras tem pouca influência no preço ao consumidor

Levada ao centro do debate sobre a formação dos preços de combustíveis no Brasil, a Petrobras fez uma tentativa nesta terça-feira (12) de reduzir esse protagonismo por meio de seu gerente-geral de marketing, Flávio Santos Tojal. Segundo ele, a influência da estatal sobre o preço ao consumidor é reduzida.

Em audiência pública no Senado, Tojal disse que a parcela de tributos sobre os combustíveis é significativa e que a estatal não controla preços de distribuição e revenda.

"O preço da Petrobras e suas eventuais variações possuem uma capacidade limitada de influenciar o preço final ao consumidor", diz a apresentação de Tojal. "A carga tributária é bastante significativa na formação final dos preços", afirmou o representante da Petrobras.

João Pedro Pitombo, Marcelo Toledo e Bernardo Caram
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