Descrição de chapéu dólar câmbio

Moedas emergentes vivem manhã de baixa; real tem 5ª maior desvalorização

Investidores recorrem ao dólar com o temor de uma guerra comercial

Anaïs Fernandes
São Paulo

As moedas emergentes registram forte desvalorização ante o real nesta terça-feira (5), conforme a guerra comercial entre Estados Unidos e seus parceiros recrudesce e dados fortes da economia americana reforçam a possibilidade de alta adicional nos juros por lá.

Estão no radar dos investidores também incertezas políticas a respeito das eleições de outubro e da política de preços da Petrobras.

No Brasil, o dólar chegou a subir 1,7% e ultrapassou os R$ 3,80 —maior nível intradia desde março de 2016.

Para tentar conter a alta, o Banco Central anunciou, ao meio-dia, que colocaria mais contratos no mercado.

A autoridade ofereceu novos swaps cambiais tradicionais (equivalentes à venda futura de dólares) entre 12h20 e 12h30, em oferta de até 30 mil contratos. 

Vendeu 16.210 contratos e anunciou outro leilão para tentar vender o restante (13.790 swaps), entre 13h20 e 13h30 —acabou vendendo apenas 6.110.

O BC já fez nesta sessão leilão de novos swaps cambiais tradicionais, vendendo a oferta integral de até 15 mil contratos. Também realizou leilão de até 8.800 swaps para rolagem do vencimento de julho.

"O mercado está tentando colocar o Banco Central contra a parede para que ele entra com mais vigor", avalia Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.  

As moedas emergentes são contaminadas pelo anúncio do México de que vai impor tarifas de 15% a 25% sobre produtos siderúrgicos americanos e alguns itens agrícolas, em retaliação às tarifas sobre metais anunciadas pelo presidente Donald Trump.

O peso mexicano perde 1,84% ante o dólar, enquanto o rand sul-africano recua 1,36%, e o peso chileno, 0,52%.

No Canadá, outro país que voltou ao radar das tarifas de Trump, o dólar canadense se desvaloriza 0,40%. A lira turca perde 0,36%, e o rublo russo, 0,05%.

"O que vem precificando o dólar mais alto há um tempo já é o exterior, a briga comercial entre Estados Unidos e China e as relações no comércio internacional", diz Galhardo.

Ainda no cenário externo, o índice de atividade de serviços nos Estados Unidos, divulgado pela manhã, ficou em 58,6 em maio, ante previsão de 57,5 em pesquisa da agência Reuters. O índice PMI final de serviços do país subiu a 56,8 no mesmo mês, ante 54,6 em abril e preliminar de 55,7.

Somam-se a isso dados fortes de emprego nos EUA, divulgados na sexta-feira (1º), que já haviam aumentado as apostados de investidores de que, com um aumento da inflação, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) pode elevar a taxa de juros mais três vezes neste ano —expectativas do mercado, por enquanto, são de mais dois aumentos. 

A elevação de juros nos EUA atrai um fluxo global de capital até então alocado em mercados considerados mais arriscados, como os países emergentes, incluindo o Brasil.

BRASIL

No cenário interno, incertezas políticas sobre as eleições de outubro também não aliviam. 

Pesquisa DataPoder360 divulgada nesta terça mostrou Jair Bolsonaro (PSL) em primeiro nas intenções de voto, seguido por Ciro Gomes (PDT). "Extremos seguem fortes", escreveu a Guide Investimentos em seu relatório.

Geraldo Alckmin (PSDB), visto pelo mercado como um candidato com perfil reformista, não decola, segundo o levantamento.

"Não temos consenso sobre nenhum governo que se apresenta e agrade ao mercado. O investidor procura um porto seguro no dólar e aumenta a possibilidade de hedge [busca por proteção]. Há também desmonte de operações por aqui", diz Galhardo.

Investidores seguem também cautelosos com os desdobramentos da paralisação dos caminhoneiros e os impactos sobre a política de preços da Petrobras.

A petroleira havia indicado ao governo que aceita debater a revisão da política de reajuste diário do preço da gasolina, desde que a cotação internacional do combustível continue a servir de referência para o preço no mercado interno.

"O mercado se preocupa com sinalizações populistas", afirma Galhardo, que não descarta um dólar chegando a R$ 4 com o cenário eleitoral incerto e instabilidades no exterior.

Nesta terça, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, negou que o governo esteja estudando qualquer programa de subsídio para reduzir o preço da gasolina

BOLSA

Em dia volátil, o Ibovespa, índice com as ações mais negociadas da Bolsa brasileira, que chegou a subir, registra baixa de 0,89% às 13h35.

O índice subia mais cedo impulsionado por ações de siderúrgicas. Agora, é puxado para baixo com queda nos papéis dos bancos —o que pode indicar saída de investidor estrangeiro.

Maio registrou saldo externo negativo de R$ 8,4 bilhões, e junho começa com saída líquida de quase R$ 1 bilhão.

"Há também o impasse em resolver a questão relacionada aos preços dos combustíveis, o que acaba pesando em Petrobras, papel com peso relevante no Ibovespa", disse o gestor Marco Tulli Siqueira, da Coinvalores.

Com a Reuters

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