A conta da paralisação dos caminhoneiros já começa a chegar à mesa dos brasileiros, e o impacto maior será no frango, encerrando um período de baixas nos preços.
Entre os dias 1º e 11 de junho, o frango congelado vendido no atacado no estado de São Paulo acumulou alta de 44,48%,de acordo com dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da Esalq-USP.
Entre 1º de janeiro e 1º de junho, o item registrava queda de 7,56%.
Também na primeira semana após os caminhões voltarem a rodar, o preço do frango resfriado para o consumidor na capital paulista apresentou alta de quase 12%, de acordo com a Fundação Procon-SP.
O tamanho real do repasse para o bolso do consumidor ainda não pode ser calculado, segundo a Apas (Associação Paulista de Supermercados), mas o avanço dos preços nas gôndolas é dado como certo pela entidade, principalmente se o governo mantiver o tabelamento do preços do frete --imposição aceita pelo presidente Michel Temer para encerrar a paralisação.
A interrupção do fornecimento de ração aos produtores a partir de 21 de maio, início da paralisação, eliminou aproximadamente 70 milhões de aves, segundo Ricardo Santin, diretor-executivo da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).
Em algumas granjas, houve relato de canibalismo entre as aves, em razão da falta de alimento.
"Existe hoje no campo aproximadamente 1 bilhão de aves para corte", compara Santin. "Perderam-se 7% da produção em cerca de dez dias."
A diminuição do estoque também permitiu que os produtores começassem a passar adiante parte do prejuízo que já vinha sendo acumulado devido a seguidas altas do milho e da soja, utilizados para ração, e que, antes da greve, não era repassado por causa do excesso de aves no mercado, avalia Maristela de Mello Martins, analista de mercado do Cepea.
"Desde o final do ano passado, o preço do frango vinha decrescendo, em razão de vários motivos", diz.
Um das principais causas recentes para o aumento da oferta de frango foi o embargo imposto pela União Europeia às exportações de frigoríficos brasileiros, em abril.
Para Ricardo Santin, da ABPA, os efeitos da greve reequilibraram o preço.
"O frango vai subir, mas é um movimento de retomada aos valores que não poderiam ser repassados porque havia muita oferta."
Impactos já haviam sido previstos durante a paralisação dos caminhoneiros. Segundo a associação, os reflexos sociais, ambientais e econômicos são incalculáveis no médio prazo.
A ABPA registrou durante paralisação dos caminhoneiros que 167 plantas frigoríficas de aves e suínos tiram que suspender totalmente suas operações por não conseguir escoar a produção. Mais de 234 mil trabalhadores ficaram parados.
A associação alertou na época para o fato de que as dificuldades enfrentadas pelo setor terão impacto para os consumidores.
Destacou na ocasião que as carnes suína, de frango e os ovos, proteínas que antes eram abundantes e com preços acessíveis, poderiam se tornar significativamente mais caras ao consumidor caso à a paralisação se prolongasse.
Segundo os especialistas na área, a mortandade cria uma grave barreira para a recuperação da produção do setor.
De acordo com a associação, que representa 150 empresas e quase 100% do setor de aves e de suínos do Brasil, a recuperação total do setor demandaria no mínimo dois meses.
Para os especialistas, a expectativa é que o frango pare de subir a partir desta semana. Isso não significa, porém, que as quedas dos últimos meses serão restabelecidas. Ou seja, os preços mais altos vão se manter.
A estimativa é que os demais produtos ligados ao setor, como a produção de ovos, também vão demorar algum tempo para se recuperar.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.