Tesouro suspende negociação de título público nesta sexta; entenda volatilidade

Investidor pode se assustar com desvalorização do título em extrato, mas há explicação

Anaïs Fernandes
São Paulo

O Tesouro Nacional voltou a suspender as negociações dos títulos públicos nesta sexta-feira (8) devido à alta volatilidade das taxas, apesar do alívio no câmbio após o Banco Central anunciar intervenção mais intensa.

O Tesouro Direto foi suspenso às 9h40, logo após abrir, e a expectativa de normalização que era de por volta das 12h foi adiada até as 15h30. Pouco depois de reabrir, foi suspenso novamente às 15h52 e agora só retorna na segunda-feira (11).

Na quinta, em meio ao pânico no mercado cambial, o Tesouro já havia suspendido as negociações de títulos públicos às 9h48. Retomou por volta do meio-dia, mas suspendeu novamente às 12h40 e anunciou que só retornaria às 9h30 desta sexta.

 

"A questão toda hoje é se o Banco Central consegue segurar o câmbio sem mexer nos juros. A princípio, parece que o mercado está bem cético sobre isso, mesmo após a entrevista do Ilan [Goldfajn, presidente do BC]", avalia Lucas Claro, da Ativa Investimentos.

Na noite de quinta, Ilan afastou a possibilidade de reunião extraordinária do Copom (Comitê de Política Monetária) para mudar a taxa de juros —o próximo encontro oficial está marcado para 19 e 20 de junho— e afirmou que a política monetária não serve ao propósito de conter a desvalorização do real ante o dólar.

“A política monetária é separada da política cambial. Não há relação mecânica entre as duas. A política monetária não será usada para controlar a taxa de câmbio”, disse.

O mercado entende, porém, que a disparada no dólar nas últimas semanas pressiona a inflação e pode levar o BC a mexer na Selic (a taxa básica de juros) para conter o movimento. A inflação de maio subiu 0,4%, acima das expectativas, impactada em parte pelo efeito da paralisação dos caminhoneiros no preço dos combustíveis e alimentos.

O DI para julho de 2018 está em 6,52%. O contrato para janeiro de 2019 está em 7,51%.

Quando o BC surpreendeu o mercado e anunciou, em 16 de maio, a manutenção da Selic em 6,5% ao ano, a notícia já havia impactado os títulos públicos. 

"Quando o Copom mantem a taxa ajuda a ditar um pouco como vai ser o retorno dos ativos daqui para frente, já que os títulos públicos oscilam muito perto da Selic", explica Juliana Inhasz, professora de finanças do Insper.

As taxas pagas pelos títulos são inversamente proporcionais ao seu valor. Ou seja, taxas maiores desvalorizam o título.

"Na eventualidade de uma alta da Selic, isso implica dizer que quem comprou titulo prefixado está perdendo dinheiro, então as pessoas tentam vender o mais rápido possível. Todo mundo sai vendendo, o preço cai e gera distorções no sistema", diz André Perfeito, economista-chefe da Spinelli Corretora.   

O Tesouro Direito é um investimento de renda fixa, o que significa que o rendimento no dia do resgate pode ser dimensionado no momento da contratação da aplicação.

Isso não quer dizer que os preços e taxas dos títulos não apresentem variação ao longo do tempo. Entre a data de compra e de vencimento, esses valores oscilam em função de condições do mercado, como as expectativas para a Selic e a data de vencimento do título —quanto mais distante, mais sensível o título é a oscilações nas taxas de juros, por exemplo.

O extrato da aplicação é atualizado considerando essas variações —é a chamada marcação a mercado. Quando os preços dos títulos negociados no mercado caem, o saldo no extrato do investidor também é menor. Ele pode, assim, se assustar ao consultar seu extrato e perceber que seu título está valendo menos.

Mas se o investidor permanecer com os títulos até a data acordada, vai receber os valores correspondentes à rentabilidade contratada no momento da compra, independente dessas variações no preço ao longo da aplicação.

Se vender antes pode receber uma rentabilidade diferente da acertada no momento da compra —para mais ou para menos. Hoje, como as taxas estão altas, pode haver prejuízo para quem decidir sair da aplicação.

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