Descrição de chapéu greve dos caminhoneiros

Viajante cancela reserva e frustra destino turístico no feriado

Pelourinho, em Salvador, teve movimento fraco em bares e pousadas no feriado de Corpus Christi - Fernando Vivas/Folhapress
João Pedro Pitombo Lucas Vettorazzo
Salvador e Rio de Janeiro

Quem resolveu curtir o feriado de Corpus Christi em Ilhéus, sul da Bahia, teve que trocar o chope gelado pela tradicional cerveja em garrafa. No lugar da batata frita, a opção eram os bolinhos recheados com pescados da própria região.

O desabastecimento de alimentos causado pelos protestos dos caminhoneiros forçou hotéis, bares e restaurantes a adaptarem os cardápios. Mas, dos males, este foi o menor.

A paralisação frustrou o setor de turismo em todo o Nordeste e fez despencar a procura por vagas em hotéis e derrubou o movimento em bares e restaurantes neste pleno feriado.

Na Bahia e no Ceará, as associações de empresários do setor hoteleiro estimam que apenas 50% dos leitos estejam ocupados neste feriado.

Os bloqueios nas estradas, as incertezas em relação à disponibilidade de combustível para motoristas e o cenário incerto dos aeroportos, que têm sido abastecidos com caminhões sendo escoltados pela polícia, fez muita gente desistir de viajar.

"Além de cancelamentos de reservas, deixamos de receber aqueles turistas que decidem viajar em cima da hora. A maioria não quis arriscar", afirma Sílvio Pessoa, presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação.

No Pelourinho, um dos pontos turísticos mais tradicionais de Salvador, o vaivém de turistas deu lugar a um cenário de ruas vazias. Nos bares e restaurantes, a maioria das mesas estavam desocupadas.

"As pessoas ficaram com medo de vir para Salvador e enfrentar dificuldades. Os protestos afetaram toda a cadeia do turismo", afirma o presidente da Associação dos Comerciantes do Pelourinho, Lenner Cunha.

A Pousada Solar dos Romanos, que fica no Pelourinho, tinha apenas um de seus 24 quartos ocupados na quarta-feira (30). E apenas uma reserva feita para o período do feriado todas as outras foram canceladas pelos turistas que viriam.

Dono da pousada, o empresário Eduardo Estival, 38, afirma que, num cenário normal, a pousada estaria praticamente lotada, tanto com turistas que viriam para Salvador quanto com aqueles em trânsito para outras praias do litoral baiano, como Morro de São Paulo.

"Não esperava nunca um negócio desses. Acho que enquanto a situação não se resolver completamente, ninguém vai arriscar viajar", afirmou Estival, que se disse preocupado devido à folha de pagamento dos funcionários que teria que pagar no início do mês.

Também houve impacto no sul da Bahia, onde o aeroporto de Ilhéus ficou quase uma semana sem pousos e decolagens por falta de combustível. A região é porta de entrada de praias badaladas do sul da Bahia como Itacaré e Barra Grande.

A situação do aeroporto foi normalizada, mas turistas que viriam de carro de cidades do interior da Bahia, de Minas Gerais e do Espírito Santo acabaram desistindo da viagem.

No resort Cana Brava, um dos maiores da região, cerca de 20% das reservas foram canceladas.

"A situação é a mesma em todos os hotéis da região", diz Rafael Espírito Santo, diretor comercial do Cana Brava e presidente da Associação de Turismo de Ilhéus.

Para completar, a falta de alimentos frescos fez com que os restaurantes do hotel deixassem de servir chope e adaptassem o cardápio por falta de legumes como batata, cenoura e cebola.

Os protestos também fizeram com que uma das festas mais tradicionais do Nordeste fosse adiada: o São João de Campina Grande (PB).

A abertura da festa, que seria nesta sexta-feira (1), foi remarcada para a próxima sexta (8). A alteração foi motivada pelos problemas com o abastecimento de alimentos e bebidas enfrentados por comerciantes locais.

Shows com artistas como Flávio José, Luan Estilizado, Léo Santana e Dorgival Dantas, que aconteceriam neste fim de semana, foram cancelados ou serão remarcados.

Os tradicionais 30 dias de festa estão mantidos na cidade paraibana. E a festa junina, excepcionalmente, entrará pelo mês de julho.

Ocupação de hotéis no interior do Rio fica abaixo do esperado

A paralisação de caminhoneiros também reduziu o movimento de turistas de cidades do Rio durante o feriado de Corpus Christi.

De acordo com o presidente da ABIH (Associação da Industria de Hotéis) do Rio, Alfredo Lopes, a expectativa da ocupação hoteleira no interior do estado durante o feriado teve queda de 18%.

A incerteza entre turistas se haveria combustível para a volta provocou cancelamentos, inclusive de um festival de jazz em Rio das Ostras.

Antes do desabastecimento, a expectativa de ocupação hoteleira era alta no interior, entre 78% e 80%.

Destinos de praia, como Paraty (80% de ocupação) e Arraial do Cabo (85%) estavam entre as mais cotadas. O clima frio também gerava expectativa alta de ocupação em Petrópolis (90%), na região Serrana.

"Tivemos uma perda de 18% no movimento esperado para o interior", disse Lopes. Ele afirma, porém, que alguns turistas decidiram viajar quando perceberam a retomada do abastecimento nos postos.

A associação divulgou na quarta-feira (30) quais as cidades que tinham combustível disponível como forma de evitar maiores perdas de movimento.

"Alguns cariocas viram que a situação tinha normalizado e seguiram para suas viagens", disse.

Na capital fluminense, a ABIH esperava aumento de 3% na ocupação dos hotéis, mas a paralisação manteve o movimento no mesmo nível do ano passado, em torno de 47%.

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