Descrição de chapéu Balanços

Diversificação com fundos é alternativa para cenário instável

Investimento resistiu aos imprevistos e é boa defesa contra indefinição político-econômica

Tássia Kastner Gilmara Santos
São Paulo

Taxa básica de juros no menor patamar histórico, incertezas políticas, paralisação dos caminhoneiros, alta do dólar, cenário internacional desfavorável, com guerra comercial entre Estados Unidos e China, e aumento dos juros americanos.

Como dizem os economistas, o ano até agora foi desafiador para alcançar bons resultados nos investimentos —e olhando para frente o cenário promete ser ainda mais, o que exige rever estratégias.

Nesse ambiente de indefinições, os fundos multimercados aparecem como alternativa para garantir a segurança dos investimentos e, ao mesmo tempo, trazer rendimentos maiores, uma vez que permitem mesclar aplicações de renda fixa com a variável.

Tela com as cotações das ações da Bovespa - B3, em São Paulo - Reuters

"O fundo multimercado pode ganhar em quase todos os cenários, exceto em situações adversas como em maio [em que a greve dos caminhoneiros quase parou o país]. Fora isso, dá para surfar em várias posições", diz Michael Viriato, coordenador do laboratório de finanças do Insper.

Mas mesmo sendo considerado um produto de risco mais moderado, porque permite alocar recursos em categorias diferentes, exige cautela.

Para se ter uma ideia, no primeiro semestre, os melhores resultados foram registrados por fundos que se anteciparam à crise na Petrobras e se desfizeram de posições na companhia antes da paralisação dos caminhoneiros.

Essa foi, por exemplo, a estratégia usada pela Vista Capital, que no período teve retorno de 28,21% para os seus clientes, conforme levantamento realizado pela consultoria Comdinheiro.

"Percebemos que o mercado estava animado demais, com um certo exagero, e quando veio a greve dos caminhoneiros o cenário ficou nebuloso. Nesta fase, já tínhamos uma carteira mais defensiva e isso deu muito certo", diz Luiz Guerra, gestor da Indie Capital, que adotou tática semelhante se desfazendo de ações da estatal e acumulou ganhos de 23,95% no período.

Também se deu bem quem apostou na Vale. A reestruturação da companhia e a alta do dólar fizeram com que os papéis da empresa terminassem o semestre com alta de mais de 20%, na contramão da Bolsa local. No mesmo período, o Ibovespa caiu 4,76%.

A reorganização, cujo projeto foi anunciado em fevereiro do ano passado, culminou com a migração das ações da companhia para o Novo Mercado, mais alto nível de governança corporativa da B3.

 

Entre as regras está a proibição de distinção entre os que detêm ações ordinárias (com direito a voto) e preferenciais (que teriam preferência nos pagamentos de dividendos), como havia antes.

Além disso, o dólar avançou cerca de 16% ante o real no período. "Como 100% da receita de minério de ferro da Vale é dolarizada, a companhia ganhou também com a valorização cambial", explica Marcelo Nantes Souza, do Bradesco.

Quem faz a diversificação por conta própria, colocando recursos em diferentes fundos, precisa ter em mente a natureza e a dinâmica de cada tipo de fundo, bem como o seu perfil como investidor.

Professor do laboratório de finanças do Insper e planejador financeiro, Michael Viriato, montou quatro sugestões de carteiras que ilustram como o investidor pode diversificar aplicações conforme o risco que está disposto a correr. Em todos os casos,o ganho esperado fica acima do previsto com a Selic, a taxa básica de juros (consulte ao lado).

Viriato recomenda o uso dos instrumentos entre aqueles investidores de perfil moderado em diante-- perfis que podem recorrer a fundos multimercado ou de ações.

Ao optar por um fundo, o investidor delega a um gestor a tarefa de escolher quais são os ativos com o maior potencial de gerar ganhos dentro do espectro de produtos predefinido.

Em renda fixa, por exemplo, existem fundos que podem aplicar apenas em títulos públicos, outros investem em debêntures de empresas ou em títulos de dívidas no exterior, com risco varíavel.

Nos fundos de ações, cabe ao gestor a seleção dos papéis com potencial de ganhos.

O trabalho do investidor é eleger qual fundo presta o melhor serviço com as menores taxas.

Uma modalidade com bom desempenho neste ano, por exemplo, foram os fundos cambiais, que fecharam o primeiro semestre com valorização superior a 18%, acompanhando a alta dólar. Essa, opção, porém, agora é vista com cautela redobrada.

"O que se tinha para ganhar com o câmbio já está no preço que temos agora. Acho muito arriscado apostar que o real vai se desvalorizar ainda mais", diz Viriato.

Os investidores que decidem aplicar em renda fixa estão contabilizando retorno mais tímido, com a acentuada volatilidade do mercado brasileiro atingindo em cheio a rentabilidade desses fundos.

Um dos destaques dessa categoria no primeiro semestre foi o BB Renda Fixa Dívida Externa Mil Fundo Investimento, com retorno de 9,47% em seis meses. O fundo aplica em títulos do governo, mas que são emitidos no exterior.

"É um fundo que tem a obrigatoriedade de investir em títulos soberanos do Brasil emitidos no exterior e a valorização significativa do dólar ante o real no período compensou até mesmo a depreciação do ativo no exterior", diz Carlos André, diretor-executivo do BB Gestão de Recursos DTVM.

Já os fundos simples seguem com o menor rendimento entre os fundos com variação semelhante à caderneta de poupança. No segmento, os produtos de maior retorno ganharam 3,01% no período, enquanto a poupança antiga rendeu 3,03% e a nova, 2,32%. Os depósitos feitos a partir de 2012 rendem 70% da taxa Selic em momentos nos quais o juro básico cai abaixo de 8,5%.

Nos primeiros seis meses do ano, a inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), foi de 2,60%.

Os fundos de renda fixa foram criados de olho no investidor conservador, que normalmente investe na caderneta de poupança. O produto tem que aplicar ao menos 95% do patrimônio em títulos do governo ou em papéis emitidos por empresas que tenham o mesmo nível de risco.

Na renda fixa, investimentos pós-fixados, como CDBs e títulos públicos que rendem a Selic, protegem da volatilidade, sem susto de ganhos ainda mais modestos. "Numa hora dessas, tenho certeza de que o juro no Brasil não vai baixar muito mais [do patamar atual]",diz o professor da escola de finanças da FGV, Antonio Porto.

A previsão de economistas consultados pelo Banco Central é de que a Selic encerre o ano no atual patamar, mas vá a 8% em 2019.

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