Dólar recua para R$ 4,08 e Bolsa sobe 2% com acordo entre EUA e México

Sinais de redução no protecionismo americano aumentaram apetite de investidores por risco

Anaïs Fernandes
São Paulo

Após fechar a sexta-feira (24) na maior alta mensal em quase dois anos, o dólar começou a semana em baixa ante o real, em um movimento de correção favorecido por um exterior animado com sinais de alívio no protecionismo global e também sem grandes novidades no front eleitoral.

O dólar comercial caiu 0,53%, para R$ 4,082. O dia teve oscilações, com a moeda chegando a R$ 4,051 na mínima e a R$ 4,118 na máxima.

Na última semana, o dólar acumulou alta de 4,8%, maior ganho para o período desde novembro de 2016.

Uma bateria de pesquisas eleitorais aumentou o temor entre investidores de que Geraldo Alckmin (PSDB), candidato preferido pelo mercado, não chegue ao segundo turno, ao mesmo tempo em que começou a ser precificada a possibilidade de um nome do PT avançar na disputa.

Lá fora, o dólar perdeu força para 24 das 31 principais divisas globais, após os Estados Unidos e o México concordaram em reformular o Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte, na sigla em inglês), num sinal de alívio relativo em tensões protecionistas por parte da maior economia do mundo.

Os dois países chegaram a um acordo preliminar, abordando sobretudo regras referentes à indústria automobilística. O Canadá, porém, não participou das negociações das últimas semanas e, por enquanto, não está incluído no novo acordo.

A Bolsa brasileira também se beneficiou do viés positivo no exterior, principalmente após o presidente do Federal Reserve (banco central americano) ter reforçado na sexta o gradualismo na elevação da taxa de juros por lá, diminuindo a aversão global do investidor ao risco.

O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas no Brasil, subiu 2,19%, para 77.929,68 pontos. O Dow Jones, principal índice de Nova York, ganhou 1,01%.

Internamente, investidores aguardam com cautela a divulgação de dados econômicos importantes —o PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre sai na sexta-feira (31) e a expectativa é de quase estagnação— e esperam ainda o início da campanha eleitoral na televisão, também na sexta. Com 44% do tempo de TV na disputa, Alckmin poderia demonstrar se consegue garimpar votos e deslanchar nas pesquisas.

PROJEÇÕES

Depois de bater na terça (21) a marca dos R$ 4 pela primeira vez em cerca de dois anos e meio, economistas elevaram suas projeções para o dólar e a inflação em 2018 na pesquisa Focus, do Banco Central, divulgada nesta segunda.

A expectativa para a taxa de câmbio em 2018 passou de R$ 3,70 para R$ 3,75. A última vez que houve um aumento de cinco centavos nas projeções foi em 29 de junho, após o dólar disparar acima de R$ 3,90 naquele mês e forçar uma intervenção mais firme do Banco Central.

Para o próximo ano, foi mantida a expectativa de um câmbio a R$ 3,70.

Com maior pressão no câmbio, especialistas reviram também as perspectivas para o IPCA, inflação oficial do país, calculado agora em 4,17%, contra 4,15% na semana passada. Há um mês, a expectativa era de 4,11%. 

O centro da meta inflacionário do governo para 2018 é de 4,50% e de 4,25% no próximo ano. Ambos têm uma margem de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

No acumulado de 2018 até julho, o IPCA avançava 2,94%. Mas, em 12 meses, a alta já está em 4,48%.

Apesar da aceleração do câmbio e uma eventual pressão no IPCA, o nível ainda baixo da inflação fez especialistas manterem a projeção de uma Selic (taxa básica de juros) estável na mínima histórica de 6,50% até o fim do ano. Para 2019, a previsão também prevalece em 8%.

A magnitude do impacto do câmbio na inflação divide economistas.

Para André Perfeito, economista-chefe da Spinelli Corretora, a alta do dólar vai impactar os preços e ameaça levar a inflação para cima do centro da meta estabelecida pelo governo.

"O dólar vai bater na inflação. Eu vejo um IGP-M [índice de preços usado como base para reajuste dos principais contratos de locação] em 8% ao ano, em parte pelo câmbio também", afirma.

Segundo ele, a aceleração da moeda americana tende a forçar o BC a aumentar os juros na reunião logo após o segundo turno das eleições, nos dias 30 e 31 de outubro.

Na conta de Alessandra Ribeiro, sócia e diretora da área de macroeconomia e política da consultoria Tendências, uma depreciação cambial de 10% eleva em 0,4 ponto percentual a inflação e o repasse costuma acontecer um trimestre após a alta.

"Mas, como a economia está fraca e a recuperação, moderada, o repasse tem se mostrado mais limitado. As empresas preferem reduzir margem do que passar isso para o preço final. E mesmo que haja um repasse um pouco maior, a inflação bateria 4,25%, ou seja, dentro da meta", afirma.

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