Dólar interrompe sete altas e cai puxado por exterior, mas segue acima de R$ 4

Pronunciamento do presidente do BC dos EUA tranquiliza mercados

Anaïs Fernandes Danielle Brant
São Paulo e Nova York

Nada indica que o dólar vá perder no curto prazo o novo patamar de R$ 4, alcançado após uma semana marcada pela publicação de pesquisas eleitorais e com um exterior fragilizado.

Em cinco dias, a moeda americana acelerou sua alta e acumulou valorização de 4,8%. Foi o maior ganho semanal desde novembro de 2016.

Nesta sexta (24), um alívio na aversão a risco no exterior contribuiu para o dólar quebrar sequência de sete altas e recuar 0,48%, para R$ 4,104.

Mas o horizonte não aponta um cenário de dólar abaixo de R$ 4, afirma José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.

Ao menos não enquanto o cenário eleitoral estiver cercado por incertezas e não trouxer uma possibilidade mais clara de que um nome que agrade aos investidores ganhe força nas pesquisas, complementa.

"Teria que ter um desdobramento político pouco provável para que o dólar caísse. Pode voltar a R$ 3,50 na hipótese de alguém que o mercado veja como confiável ir para o segundo turno das eleições."

Fabrício Stagliano, analista-chefe da Walpires Corretora, também não vê muita condição para mudança de patamar. "É mais provável a moeda caminhar para R$ 4,20 do que voltar a R$ 3,80 até as eleições, e a Bolsa pode cair, mas a incerteza é grande", diz.

Rafael Passos, analista da Guide Investimentos, diz que o cenário deve ser de volatilidade sobretudo até o início da campanha eleitoral na TV, na próxima sexta-feira (31).

"Quando saírem as primeiras pesquisas após o início da propaganda eleitoral, teremos mais claro se Geraldo Alckmin [PSDB] vai conseguir usar as vantagens que tem do centrão para garimpar votos", afirma.

O tucano --candidato preferido pelo mercado por ser visto como um nome mais reformista-- detém 44% do tempo televisivo na corrida.

Além da disputa comercial entre EUA e China, que ganhou novo capítulo na quinta (23) após a imposição bilateral de mais tarifas sobre a importação de produtos, os investidores analisaram o discurso do presidente do Federal Reserve (BC dos EUA), Jerome Powell, nesta sexta.

Ele reforçou que o Fed deverá continuar aumentando os juros gradualmente e rebateu críticas de que essa política pode provocar alta da inflação e risco de superaquecimento da economia. "Eu vejo o caminho atual de aumentar as taxas de juros gradualmente como a abordagem de levar a sério os dois riscos", afirmou.

Para Ryan Connelly, analista de economia global do Frontier Strategy Group, Powell fez questão de deixar claro que está preocupado com os dois fatores, mas, segundo o analista, há espaço para acomodar por algum tempo uma inflação um pouco acima da meta anual de 2%.

"Ele reforçou que não vai permitir que a inflação se descontrole", afirmou Connelly.

A fala de Powell também foi vista como um recado ao presidente dos EUA, Donald Trump, que já atacou a política monetária do Fed. Em julho, afirmou que a alta feria a economia americana e conflitava com os esforços do governo para impulsionar o país.

Desde dezembro de 2015, o Fed já elevou sete vezes os juros. Neste ano, foram duas altas, e mais duas são esperadas --em setembro e dezembro.

O discurso de Powell, que não trouxe novidades em sua essência, tirou pressão das principais moedas do mundo: 27 das 31 ganharam força em relação ao dólar.

Teve ainda efeito sobre indicadores globais. Nos EUA, S&P 500 e Nasdaq bateram recordes históricos, depois de avançarem 0,6% e 0,9%, respectivamente. O Dow Jones subiu 0,5%. O otimismo reflete a expectativa de que o crescimento da economia americana se reverta em lucros maiores das empresas.

O Ibovespa, das ações mais negociadas no Brasil, avançou 0,85%, para 76.277,93 pontos.

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