Luiza Trajano lidera debate sobre pauta feminina com presidenciáveis

Grupo Mulheres do Brasil, que reúne 18 mil participantes, faz sabatina e apresenta propostas

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São Paulo

O gênero de quem é eleito talvez não fosse um ponto de atenção se as mulheres se sentissem contempladas por políticas públicas discutidas no Congresso e no Executivo. Como essa não é a realidade —na percepção delas—, cresce o número de grupos femininos que buscam interferir no debate em Brasília.

O Mulheres do Brasil é possivelmente o mais emblemático entre eles. Reúne cerca de 18 mil participantes —quase 10 mil delas conectadas por meio um aplicativo privado.

A empresária Luiza Trajano durante encontro de mulheres para debater demandas econômicas - Diego Padgurschi /Folhapress

Sob o comando de Luiza Helena Trajano, também presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, o Mulheres do Brasil existe desde 2013 e cresce também em influência. Nesta quinta-feira (16), o grupo recebe os presidenciáveis em São Paulo. Todos aceitaram o convite.

Em um período no qual negar a política é parte de uma estratégia para se manter nela, as mulheres em torno de Trajano não têm vergonha de se afirmar como um grupo político, embora suprapartidário.

Elas não apoiam nomes, nem tentarão se eleger, mas monitoram com lupa o "boom" de candidatas nas próximas eleições. São 67 postulantes a vice-governadoras e quatro à Vice-Presidência, nas primeiras eleições em que 30% do fundo partidário será usado em candidaturas femininas.

Mais do que figuração, porém, o grupo quer interferir diretamente nas políticas que consideram relevantes.

Uma das obsessões do Mulheres do Brasil é a exigência de cotas para mulheres nos centros de decisões das empresas —os conselhos de administração. Dados do Instituto Ethos indicam que as mulheres compunham apenas 11% dos conselhos de administração das 500 maiores empresas pesquisadas em 2016.

Lobby? Se isso for, por meios legais, se envolver diretamente nas regras e pleitear mudanças, sim. Mas não só.

Para reverter a baixa representação feminina na política, o grupo desenvolveu aplicativo para fiscalizar partidos e está de olho no uso de mulheres como laranjas para completar a cota exigida pela lei.

"Já pegamos gente que não sabia nem que era candidata e denunciamos. Em Goiânia, conseguimos tirar um partido do ar", conta Trajano.

O combate à violência contra a mulher é outra prioridade. Mas o grupo, como diz Trajano, não "inventa a roda" e funciona na base de parcerias com projetos já existentes. Isso em todas as esferas.

O Mulheres do Brasil foi criado por Trajano há cinco anos, quando uniu 40 executivas, atendendo a um pedido da então presidente Dilma Rousseff (PT) para uma reunião no Palácio do Planalto.

Hoje, se divide em 13 comitês temáticos —do empreendedorismo à igualdade racial.

Há ainda outros três comitês estratégicos —o principal deles o jurídico que cuida de encaminhar as demandas a Brasília, em uma estrutura cada vez mais profissional.

O financiamento do grupo é preocupação central de Trajano e sua vice, a empresária Sonia Hess, ex-presidente da empresa de confecção Dudalina.

Afinadíssimas, as duas buscam transitar de um processo de financiamento amador —em que 70% dos recursos para manter o grupo vêm de palestras dadas por Trajano— e aceitar patrocínio profissional.

Candidatos não faltam: do Santander, que oferece o auditório para as reuniões gerais do grupo —como o encontro dos presidenciáveis—, a uma mulher que, aflita, se propunha a oferecer 500 brigadeiros para a próxima reunião.

"Antes nem davam bola para a gente. Agora, com toda essa rede de mulheres, não tem jeito", diz Trajano, entre risadas.

Chamada de Portas Abertas, as reuniões mensais buscam atrair novas participantes e chegam a reunir 400 mulheres.

Em uma tarde de agosto, a expectativa para ouvir Trajano em um casarão no Paraíso, em São Paulo, era grande. E ela não deixou a desejar.

Após apresentar o grupo e esclarecer o que não é aceitável —política partidária, comércio ou estar lá apenas para fazer contato com as fundadoras—, Trajano entrou em um de seus assuntos favoritos.

"Cota é processo para acertar a desigualdade. Se alguém tiver alguma dúvida, manda falar comigo que em cinco minutos eu convenço", disse Trajano, entre risos e aplausos.

A seu lado, Hess pede desculpas por não aceitar homens e diz não ser nada pessoal. "Nós, mulheres, somos 53% dos eleitores e mães dos outros 47%. Temos responsabilidade grande de transformar o Brasil e, para isso, queremos representatividade."

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