Setor elétrico impulsiona expansão do setor de gás

Aumento, puxado pelo Nordeste, está relacionado à situação de seca no país

Taís Hirata
São Paulo

O maior acionamento de usinas termoelétricas, principalmente na região Nordeste, foi o principal motor de crescimento do setor de gás natural neste ano.

O aumento está relacionado à situação de seca no país. Quando os reservatórios de hidrelétricas estão baixos, usinas térmicas são acionadas para garantir o abastecimento de energia.

Nos primeiros seis meses de 2018, o volume de gás usado nessas usinas teve alta de 18,2% em relação ao mesmo período de 2017, segundo a Abegás (Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado).

O Nordeste respondeu por quase metade do aumento.

O consumo total do gás, que inclui aplicações industriais e uso doméstico, teve um aumento médio de 6% no mesmo período.

A expectativa é que a demanda até o fim deste ano siga em alta, segundo Marcelo Mendonça, gerente da Abegás.

Com o prolongamento da seca, a bandeira vermelha (adicional cobrado na conta de luz para custear o acionamento das térmicas) deverá durar até novembro, de acordo com o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).

Hoje, o acionamento das usinas elétricas é o principal responsável pela expansão do setor de gás natural, afirma Pedro Franklin, diretor da Comerc Gas (empresa de gestão de consumo de gás).

"As usinas térmicas, as existentes e as novas que virão, vão garantir o aumento da demanda por gás no Brasil. O consumo industrial está estabilizado há dez anos."

As distribuidoras de gás endossam a defesa de um leilão para contratar novas usinas térmicas no Nordeste --proposta que está atualmente em estudo pelo governo federal, com a possibilidade de sair ainda neste ano.

O projeto é bastante controverso no setor elétrico.

Parte dos analistas defende que não é necessário contratar novas usinas agora por causa da baixa demanda por energia, resultado da lenta recuperação da economia.

Há também uma perspectiva de que o leilão provoque um aumento de R$ 2 bilhões na conta de luz dos consumidores por ao menos 20 anos, a depender da forma de contratação das usinas, aponta cálculo da Abrace (associação nacional dos grandes consumidores de energia).

Para Mendonça, da Abegás, o leilão seria importante para ajudar a preservar os reservatórios das usinas hidrelétricas, dar segurança ao sistema de energia do país e mais estabilidade ao consumo de gás.

A demanda do setor por mais usinas térmicas está também relacionada ao aumento da produção de gás associado ao pré-sal (gás que é encontrado junto ao petróleo nas reservas).

Como a produção do pré-sal tem avançado a passos largos no país, há uma pressão por ampliar a demanda. No entanto, para que esse tipo de gás seja usado nas usinas, o modelo dos leilões precisaria mudar, segundo Franklin.

Hoje, as usinas térmicas operam com uma parcela fixa e uma variável --cerca de 50% da demanda é contínua ao longo do ano e os demais 50% só são acionados quando há falta de água.

No entanto, o gás associado ao pré-sal requer uma demanda mais contínua --o que casa com a proposta de contratar usinas que funcionem "na base", por mais tempo ao longo do ano, e não sob esse modelo com mais flexibilidade.

Além da expansão da oferta de gás no país, há também uma perspectiva de que mudanças regulatórias promovidas pelo governo Michel Temer no mercado de gás natural ampliem a entrada de empresas privadas no setor --hoje dominado pela Petrobras--, segundo André Donha, sócio-diretor da consultoria KPMG.

"Em um médio ou longo prazo, há uma tendência de entrada de novos atores no mercado de geração termoelétrica", afirmou.

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