Descrição de chapéu Eleições 2018

Juros futuros registram forte alta sob pressão da cena eleitoral

Taxa real para um ano volta ao nível de junho de 2017; destino das reformas é outro ingrediente para instabilidade

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Os juros básicos do mercado financeiro estão nos níveis mais altos desde meados do ano passado. A taxa real de juros para um ano voltou ao patamar de junho de 2017. A diferença entre taxas de negócios com vencimento mais curto (2020, por exemplo) e mais longo (2024) é crescente.

Economistas atribuem parte do aperto financeiro a fatores domésticos. “No caso da curva de juros, estimamos que dois terços da elevação da inclinação são por fatores domésticos e um terço de fatores externos. O risco doméstico está ligado à incerteza eleitoral e futuro das reformas, especialmente previdência”, diz Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra e ex-secretário do Tesouro no final do primeiro governo de Lula da Silva. 

Kawall refere-se aqui ao aumento relativamente mais pronunciado de taxas de juros futuras (vide gráfico ao lado). 

O custo do dinheiro estaria subindo, portanto, quando se leva em consideração o que pode acontecer no próximo governo, dizem economistas. Taxas mais altas elevam os custos de financiamento das empresas, tanto nos bancos como no mercado de capitais.

A deterioração ficou evidente desde o começo de agosto e ganha ritmo no início de setembro. Trata-se de aqui de taxas de negócios entre bancos e de empréstimos para o governo, uma espécie de “atacado” do mercado de dinheiro, que estabelecem um piso para as demais operações de empréstimo e financiamento.

Os economistas do departamento de análise macroeconômica do Safra preveem que a economia brasileira cresça 1,5% neste ano. Mas “as condições financeiras mais apertadas sinalizam um PIB este ano abaixo de 1%, se perdurarem. O aumento da inclinação [juros subindo mais no futuro do que agora], portanto, é um problema para a atividade”, diz Kawall.

Em abril, a taxa real de juros para um ano estava em 2,2% ao ano (taxa DI para um ano, descontada a inflação esperada para o mesmo período). Subiu em especial depois da greve dos caminhoneiros, com um pico de pânico no início de junho, quanto ficou na média em 3,1% ano. Neste setembro, flutua em torno de 4,4%. 

A alta recente dos juros é paralela à onda recente de desvalorização do real, que recomeçou em agosto. A alta do dólar foi associada a tumultos no mercado financeiro mundial. Mas o peso dos problemas domésticos amplifica os efeitos do fator externo, dizem economistas. 

“A possibilidade de Fernando Haddad (PT) ou Ciro Gomes (PDT), de um lado, e Jair Bolsonaro (PSL), de outro, é para deixar qualquer curva de juros em alta... a percepção é de que a situação de crise fiscal não melhorará e, portanto, as curvas de juros necessariamente começariam a subir. Mas se a escolha da população é entre posições tão extremadas, será o preço a se pagar”, diz Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.