Minoria árabe israelense investe em alta tecnologia e startups

No país de maioria judaica, a minoria árabe representa 8% do PIB, apesar de ser 20% da população

Daniela Kresch
Kafer Qassem (Israel)

No primeiro dia no cargo, em 2013, Adel Badir, o prefeito de Kafer Qassem, chegou às 4 horas à prefeitura e colou na entrada uma folha de papel com a expressão: "Se eu não me ajudar, quem me ajudará?"

A mensagem era um apelo para que os 28 mil moradores da cidade, a 25 quilômetros de Tel Aviv, se unissem para superar os problemas locais em vez de esperar a ajuda do governo.

Cinco anos depois, Kafer Qassem é considerada uma das cidades com as finanças mais equilibradas --feito raro para um município árabe.

Árabes israelenses protestam contra lei que torna Israel um estado-judeu - Ammar Awad/Reuters

No país de maioria judaica (75%), a minoria árabe representa 8% do PIB, apesar de ser 20% da população (cerca de 1,8 milhão de pessoas).

Em Kafer Qassem, 25% dos moradores recebem algum tipo de ajuda do Ministério do Bem-Estar Social.
Mas, para Badir, a cidade pode ser um exemplo de mudança investindo em algo que o país conhece bem: alta tecnologia.

Em setembro, será inaugurado o primeiro "hub" para startups de Kafer Qassem, com 600 metros quadrados, para treinar e orientar jovens empreendedores.

A aceleradora de empresas —com apoio da Microsoft Accelerator e da Intel— será um espaço moderno com cursos, palestras e networking.

O objetivo é criar um ecossistema e desenvolver capital humano árabe para participar da chamada "Start-Up Nation", como Israel é conhecido por causa de empresas inovadoras.

A prefeitura já ministra cursos para estudantes com a ajuda da ONG Tsofen, comprometida em promover a convivência por meio do desenvolvimento da alta tecnologia.

Paralelamente, iniciou a construção de um polo de alta tecnologia com 50 mil metros quadrados.

A ideia é atrair empresas que forneçam emprego para 1.300 profissionais de high-tech.

"Queremos ser a capital da alta tecnologia árabe em Israel", diz o prefeito. "Para isso, planejamos mudar a mentalidade local. Os mais velhos ainda acham que seus filhos e netos têm de estudar profissões clássicas como direito ou medicina", diz.

O número de estudantes árabes no setor de alta tecnologia aumentou 55% desde 2012, impulsionado por um programa governamental.

Fora isso, o Knesset (o Parlamento, em Jerusalém) aprovou em abril uma verba de US$ 5,6 milhões (R$ 23,2 milhões) para a criação de dois parques tecnológicos em cidades árabes.

O caminho a trilhar é longo. Segundo o Ministério do Trabalho e o Bureau Central de Estatísticas (o IBGE israelense), só 2% dos 280 mil profissionais de alta tecnologia em Israel são árabes: cerca de 5,5 mil. Em 2008, no entanto, esse número era de apenas 350.

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