Descrição de chapéu MPME

Setor audiovisual está aberto para quem quer empreender

Empresários pequenos contam com a ajuda de recursos públicos específicos

Luiz Cintra
São Paulo

Com financiamento público crescente, demanda firme e regras de proteção à produção nacional, o audiovisual brasileiro tem passado ao largo da crise. Desde 2011, cresce cerca de 10% ao ano.
Segundo a Agência Nacional de Cinema (Ancine), existem hoje no país cerca de 7.000 produtoras, 95% delas micro ou pequenas empresas, incluindo profissionais que trabalham por conta própria.

Dois fenômenos explicam o bom momento, dizem especialistas no mercado. De um lado, a popularização de vídeos pelo celular e a ascensão de um público maior a canais de TV pagos e ao conteúdo veiculado nos smartphones.

De outro, cresceu o volume de recursos públicos para financiar projetos na área, entre linhas de fomento, editais, projetos bancados pela Lei Rouanet, festivais, rodadas de negócios. 

Previsto na chamada Lei do Audiovisual, o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) passou de R$ 216,3 milhões, em 2011, para R$ 749 milhões, no ano passado. O financiamento do FSA sai da taxação das empresas do setor, de produtoras a distribuidoras e de operadoras de telecomunicações.

“Esse crescimento também tem a ver com a própria característica do consumidor brasileiro, que está acostumado e prefere o conteúdo nacional, o que aprendemos com a TV aberta”, diz Paulo Schmidt, presidente da Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais (Apro).

“Mas temos preocupações em relação à continuidade das políticas, se serão levadas adiante pelo próximo presidente, já que essa é uma política pública”, diz Schmidt, que lamenta o excesso de dependência dos recursos públicos.

Paulo Roberto Schmidt sorri para a câmera e veste óculos e camisa cinza
Paulo Schmidt, presidente da Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais   - Divulgação

Os pequenos e sem experiência anterior têm ainda à disposição recursos específicos para projetos cujo valor total pode ser de até R$ 5 milhões, ressalta Daniela Pfeiffer, coordenadora do Centro Técnico do Audiovisual, órgão ligado ao Ministério da Cultura.

“Hoje a chave para o desenvolvimento do setor é a capacitação”, diz Daniela. É comum que os empresários iniciantes desconheçam os mecanismos de incentivo e as linhas de financiamento do FSA.

“Também precisam aprender a negociar com os canais, a criar estratégias de negociação para o seu conteúdo e saber como se comportar em uma reunião com um player do mercado”, afirma Daniela.
Criatividade é apenas o ponto de partida, completa Schmidt. É preciso uni-la à gestão eficiente do negócio, o que muitas vezes não acontece.

Novos empreendedores bem preparados já saem na frente, afirma. Essa formação passa pelas faculdades, mas não se restringe a ela —é cada vez maior a oferta de cursos de curta duração para complementar a formação. 

Com recursos do Sebrae, a Apro, por exemplo, oferece cursos específicos de gestão. “A combinação de um gestor com um parceiro criativo é a melhor forma de atuar no segmento, mas sempre partindo de boas ideias”, diz Schmidt.

Para a produtora-executiva Mariana Brasil, que dá cursos sobre gestão, pessoas que não são formadas em cinema ou TV também se dão bem nesse mercado. “Os estudantes de direito ou administração também têm espaço no audiovisual”, diz ela, que participa do coletivo c/as4atro, com mais três produtores.

Eventos de comercialização de conteúdo, como o Rio2C, organizado pela Bravi, associação que reúne 657 produtoras, ajudam o empresário.

Com recursos da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), a Bravi realiza eventos no exterior e cria rodadas de negócios para estimular a exportação de produção, com editais específicos para coproduções internacionais.

Por conta das cotas para produção nacional trazidas pela Lei da TV Paga, sancionada em 2011, os canais pagos tendem a ser mais generosos com os pequenos produtores, em particular no caso dos documentários.

No caso dos filmes de ficção, é preciso driblar o gargalo da distribuição e a concorrência dos blockbusters de circulação internacional, de altos orçamentos, que dominam o segmento. “É possível testar conteúdo e criar campanhas nas mídias digitais. Existem também algumas empresas agregadoras que fazem a distribuição digital”, diz Daniela.

Em agosto, o MinC criou a primeira linha de financiamento específica para capacitação em gestão no total de R$ 16 milhões. “Hoje o eixo Rio-São Paulo capta 80% dos volumes do fundo setorial, mas existe uma linha para induzir o desenvolvimento regional”, diz Daniela.

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