Tomar riscos agora seria fazer apostas, diz banqueiro Roberto Setubal

Empresário afirma que banco está atento ao estresse do mercado, que deve continuar até 2º turno

Ana Paula Ragazzi
São Paulo

O copresidente do conselho de administração do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, afirma que no cenário atual do país, não é um momento favorável para tomar riscos. “Tomar risco agora seria fazer apostas e nós não queremos fazer apostas. Teremos muita disciplina na gestão de capital”, disse o empresário.  

O presidente do banco, Candido Bracher, na mesma linha, afirma que a volatilidade do mercado deverá continuar até o segundo turno das eleições presidenciais. "Ainda não está claro quem vai para o segundo turno. Mas vejo com satisfação que o tema fiscal permeia os discursos de todos os principais candidatos. Eles reconhecem a necessidade do ajuste fiscal", afirmou Bracher sem citar nomes de presidenciáveis.

0
Roberto Setubal, copresidente do conselho de administração do Itaú Unibanco - Zé Carlos Barretta/Folhapress

Setubal e Bracher deram as declarações durante a reunião da Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais), em São Paulo, evento do mercado de capitais que reúne analistas e acionistas.

Setubal explicou a questão câmbio após ser questionado se o banco poderia aumentar a concessão de empréstimos. Setubal afirmou que o banco toma medidas de gestão de capital, em função do estresse atual do mercado, para manter o capital mínimo em 13,5%.

O empresário mostrou uma simulação apontando que se o dólar chegasse a R$ 5, o capital mínimo do banco, que no primeiro semestre estava em 14,2%, cairia a 13,3% em dezembro deste ano — abaixo do s 13,5% definidos pelo banco.Capital mínimo é aquele que o banco precisa manter para ultrapassar situações de estresse.​

Com as medidas já tomadas pelo banco, que incluem diminuição de operações cambiais e aumento de hedge (proteção), esse percentual subiria para 14,5% no final do ano no caso hipotético de o dólar se situar em R$ 5.

Setubal afirmou que além do câmbio, títulos de dívida de longo prazo, cujo valor de mercado varia em situações de estresse, também afetam a composição de capital, uma vez que o Banco Central desconta da sua base.

“A gente nunca sabe onde vai terminar o estresse, então tomamos medidas para manter o nível de capital elevado."

Bracher destacou que gerir cenários de risco é a essência da atividade de qualquer banco. "Quando você trabalha com crédito, com ativos e passivos em diferentes moedas, que você nunca sabe como vão se comportar, você tem sempre que estar atento aos possíveis cenários", disse.

Ele acrescentou que o Itaú gerencia suas posições de câmbio desde que o dólar atingiu R$ 3,50. "Temos modelos e fazemos nossas operações progressivamente à medida que o câmbio anda,  "Com essas medidas, mitigamos muito o impacto nos nossos negócios", disse.

O presidente do Itaú afirmou que não existe um câmbio ideal. "O importante é que haja um câmbio estável. A volatilidade atrapalha os agentes econômicos em suas tomadas de decisões", disse. Bracher acrescentou ainda que o real está sendo influenciado tanto pela situação brasileira, com a indefinição eleitoral, quando pelo quadro externo, com a alta dos juros dos países desenvolvidos. 

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.