Analistas começam a ver risco de recessão nos EUA

Para os mais pessimistas, economia poderia entrar em retração em 2019

Nova York e São Paulo

A economia americana caminha para uma nova crise —ou para uma recessão, na visão dos mais pessimistas.

Mas, se não há motivos para preocupação, por se tratar de um fenômeno cíclico e até esperado, existem razões para o investidor proteger as suas aplicações dos contratempos no mercado.

Se durar pelo menos até o fim do segundo trimestre de 2019, o ciclo de expansão econômica dos Estados Unidos será o maior da história do país.

Em seu panorama divulgado em outubro, o FMI (Fundo Monetário Internacional) calculou em 2,9% o crescimento do PIB americano neste ano e em 2,5% em 2019.

A partir de 2020, o cenário fica um pouco mais nebuloso. O corte de impostos promovido por Donald Trump, se ajudou a trazer dólares de volta para os EUA e a impulsionar a economia americana, também aproximou o país de uma crise econômica.

A conclusão é da associação nacional para economia financeira dos EUA (Nabe, na sigla em inglês).

Um painel de 45 economistas estima que o impacto positivo do corte de impostos vai enfraquecer rapidamente após os dois primeiros anos da medida.

Para dois terços deles, a recessão começa no fim de 2020. Mas 18% têm a avaliação de que a reversão do cenário pode estar mais perto, nos últimos meses de 2019.

"É possível que, nesse processo de expansão, a economia americana atravesse uma crise. Ciclos de baixa são naturais. São os períodos de contração que criam as condições para novos ciclos de expansão", diz Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs.

Ele diz que a crise é um processo natural para que a economia possa se ajustar e voltar a se equilibrar para, por exemplo, forçar o mercado de trabalho a voltar ao equilíbrio.

Hoje, os EUA operam além do pleno emprego, com taxa de desocupados de 3,7%, perto das mínimas históricas.

Foi o ciclo de expansão dos últimos anos que levou as empresas americanas a reportar lucros crescentes, o que se refletiu no preço das ações dessas companhias e impulsionou os principais indicadores das Bolsas americanas.

Entre agosto e outubro deste ano, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq bateram recordes, diante do otimismo dos investidores.

O Brasil e outros emergentes foram carregados pelo ânimo comprador, mas, assim como a maioria dos países do mundo, devem ser afetados pela desaceleração da economia americana.

"É como se fosse uma gangorra. Quando a economia americana vai bem, o dólar se valoriza, e isso faz com que as economias emergentes tenham de pagar um prêmio maior para captar recursos", afirma Ricardo Rocha, professor de finanças do Insper.

"Se a economia dos EUA desacelerar, o banco central americano pode ter de reduzir as taxas de juros por lá. Se ele faz isso, investidores procuram outros lugares para aplicar, e emergentes se tornam mais atrativos."

Isso pode atrair recursos para a Bolsa brasileira e, eventualmente, a ativos de maior risco.

Pesquisa do Bank of America Merrill Lynch de outubro apontou que investidores globais estão com a visão mais pessimista sobre a economia mundial desde a crise financeira de 2008 e têm reduzido suas alocações em ações dos Estados Unidos.

"O momento é para os investidores se ambientarem. Isso significa olhar a sua fatia aplicada em Bolsa e, se estiverem mais confiantes, aumentarem esse bolo", complementa Rocha.

"O investidor tem de estar posicionado antes que as projeções se tornem realidade."

Na renda fixa também há oportunidades, ainda mais se o Banco Central implementar os aumentos de juros esperados pelos economistas —segundo o Boletim Focus, a taxa básica Selic deve estar em 8% no fim de 2019, ante os atuais 6,5%.

Isso abre possibilidades nos títulos públicos, em especial nos que remuneram juros e inflação, uma forma de garantir o poder de compra.

Os prefixados também são uma alternativa, mas o investidor tem de analisar bem a extensão do ciclo de aumento de juros antes de comprar os papéis, para não pegar uma taxa inferior.

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