'Kit emigração' para sair do Brasil custa até R$ 180 mil

Consultoria se especializa e oferece pacote para quem quer deixar o Brasil

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São Paulo

O interesse cada vez maior de brasileiros em mudar de vez para o exterior vem esquentando a competição entre consultorias e escritórios de advocacia especializados no tema.

O número crescente de pessoas que saíram em definitivo do país e o custo da empreitada dão a dimensão de quão atrativo se tornou o negócio.

Dados da Receita Federal indicam que, desde 2014, ano em que a economia local começou a dar sinais claros de desaquecimento, o número de declarações de brasileiros que deixaram o país em definitivo cresceu 74%.

No começo da década, em média, 9.000 pessoas deixavam o país por ano. Em 2014, foram 12.241. Em 2017, o número chegou a 21.236.

Nas empresas que se dedicam a ajudar brasileiros nessa mudança, o kit emigração completo para trocar de pátria pode custar, por pessoa, entre US$ 2.000 (cerca de R$ 8.000) e US$ 45 mil (R$ 180 mil), a depender da consultoria e do tipo de transferência.

O pacote inclui não só honorários advocatícios e taxas imigratórias. Pode incorporar avaliação acadêmica e contratação de um perito da área em que o profissional atua para assegurar suas credenciais.

Assessorar indivíduos ou empresas dispostos a migrar virou um negócio lucrativo para escritórios de advocacia ou de contabilidade, diz Marcelo Salomão, sócio-diretor do Salomão e Matthes. Neste mês, o escritório com oito filiais no Brasil inaugura duas unidades em Portugal.

"Tenho convicção de que, a depender do que ocorrer nas eleições, essa procura dos brasileiros deve aumentar", diz Salomão. Os parceiros em Portugal, afirma, brincam que torcem para a esquerda ganhar.

"É meio histórico no Brasil: quem tem o capital para investimento tem receio de governos à esquerda", diz.

Curiosamente, o destino sensação dos últimos anos é Portugal, país que, após um período de crise profunda, conseguiu combinar expansão econômica e baixo desemprego sob o comando de uma coalização socialista.

Em busca sobretudo de segurança, diz Salomão, a procura maior é pelo chamado Golden Visa --visto de autorização de residência temporária em Portugal a partir de investimentos feitos no país.

O grosso desse tipo de visto é emitido após a compra de imóvel de, no mínimo, €€ 500 mil (R$ 2,2 milhões). Mas é possível obtê-lo via criação de pequenos negócios que ofereçam dez vagas de emprego em Portugal ou com €€ 1 milhão (R$ 4,5 milhões) em aplicações financeiras.

Outro escritório de advocacia especializado em imigração, expatriação e investimentos no exterior, o Hayman-Woodward saltou de 300 clientes em 2016 para 2.200 até agosto deste ano.

O negócio cresceu e hoje, além do escritório, o grupo engloba corretora de câmbio, banco, consultoria de investimentos e até táxi aéreo que faz o deslocamento para fora.

A maior parte dos clientes, diz Leonardo Freitas, sócio-fundador da empresa, são profissionais liberais que ambicionam atuar na meca do empreendedorismo: os EUA.

São dentistas, advogados, médicos, engenheiros, policiais e fisioterapeutas que procuram, em especial, a Flórida, Nova York ou Nova Jersey.

"Há um déficit grande na área de saúde nos EUA, e o visto é facilitado para esse pessoal", diz Freitas, para quem o dólar forte não inibe a procura, mas faz com que alguns clientes esperem pelo melhor momento de emigrar. O custo do serviço começa em US$ 5.000 (cerca de R$ 20 mil).

Focada no mercado imobiliário de luxo americano, a BRG International abriu escritório logo após a crise de 2008, quando os preços despencaram, para oferecer imóveis para brasileiros em Miami.

Matias Alem, presidente do grupo, conta que começou o negócio com mais duas pessoas e hoje tem quase 40 funcionários --metade brasileiros.

Para ele, que vende imóveis de, em média, US$ 5 milhões (R$ 20 milhões), os clientes vão continuar comprando, e isso independe das eleições. "A frustração até pode encorajar a mudança de país, mas, no fundo, o movimento é mais cultural do que político."

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