Descrição de chapéu Eleições 2018

Investidores aproveitam queda dos juros futuros para negociar títulos públicos

Movimento é semelhante à alta recente na Bolsa e à queda do dólar

Tássia Kastner
São Paulo

O mercado de títulos públicos também se beneficiou com a euforia recente de investidores vista na alta da Bolsa e na queda do dólar, reflexo da larga vantagem de Jair Bolsonaro (PSL) sobre Fernando Haddad (PT) na disputa de primeiro turno nas eleições.

A perspectiva de que as taxas de juros futuros negociadas em Bolsa poderiam voltar cair abriu uma janela para aplicações de curto prazo, com espaço para ganhos elevados. Investimentos desse tipo são considerados arriscados por planejadores financeiros por causa das oscilações bruscas de mercado.

Aplicações assim são possíveis porque os juros futuros subiram nos últimos meses, reflexo do receio de investidores com o Brasil em meio ao cenário eleitoral. Neste caso, a comparação também equivale à Bolsa, que havia caído. O movimento se inverteu na metade de setembro.

Como exemplo: uma pessoa que tivesse comprado um título público atrelado à inflação (Tesouro IPCA+) com vencimento em 2045 no dia 28 de setembro e vendido esse mesmo papel nesta quarta-feira (10), teria conseguido uma rentabilidade bruta de mais de 10%. 

A rentabilidade no período supera de longe a taxa Selic, hoje em 6,5% ao ano. Nas mesmas datas, um investimento no papel com vencimento em 2024 geraria ganhou de 3,93%.

A taxa de juros de um título público é inversamente proporcional ao valor do papel: quando o juro sobe, o valor do título cai; quando o juro cai, o valor dele cresce. Por isso, o investidor que compra um título público com uma taxa de juro mais alta e vende quando a taxa cai ganha dinheiro.

Michael Viriato, professor de finanças do Insper, afirma que a melhor estratégia para esse tipo de aplicação implica na compra dos papéis de prazo mais longo. Títulos com vencimento mais curtos, em 2024, por exemplo, têm menos espaço para ganhos desse tipo. Vencimentos entre 2035 e 2045 seriam mais vantajosos.

A Folha apurou que algumas corretoras sugeriram aplicações desse tipo a seus clientes nas últimas semanas e recomendaram a venda dos papéis na terça-feira (9), após queda significativa nos juros futuros na véspera, reflexo de euforia do mercado financeiro com a larga vantagem de Bolsonaro no primeiro turno das eleições.

Bolsonaro é tido pelo mercado financeiro como o candidato mais disposto a fazer reformas consideradas necessárias para o reequilíbrio das contas públicas por ter a seu lado o economista liberal Paulo Guedes. 

Títulos públicos são dívidas do governo: quando investidores consideram que é maior o risco de calote, pedem uma taxa de juros maior para emprestar. O contrário também é verdadeiro. A expectativa de reformas significaria o menor risco de um calote e, portanto, taxas de juros menores.

A lua de mel do mercado com o presidenciável teve, no entanto, uma trégua nesta quarta-feira, após Bolsonaro criticar a reforma da Previdência proposta pelo governo Temer –o texto está parado no Congresso. Novas regras para a aposentadoria pública são consideradas essenciais para reduzir o déficit fiscal do país.

"Eu acredito que a proposta do Temer como está, se bem que ela mudou dia após dia, dificilmente ela será aprovada", afirmou Bolsonaro.

Isso se refletiu no mercado hoje, e os juros futuros voltaram a subir. O contrato com vencimento em janeiro de 2023 foi de 9,96% para 10,13%. O contrato para janeiro de 2021 sobe de 8,64% para 8,81%. 

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