Ligado a PSDB e PT, eixo Rio-SP perde espaço para Brasília na área econômica de Bolsonaro

Especialistas de Bolsonaro se dividem em 27 grupos, que discutem temas variados

Brasília

O programa de governo de Jair Bolsonaro (PSL) está mobilizando cerca de 80 especialistas, a maior parte ligada à UnB (Universidade de Brasília) e ao Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Essa equipe desloca a formulação da pauta econômica de tradicionais escolas do eixo Rio-São Paulo para a capital federal.

É um estilo bastante diferente dos governos passados do PSDB e do PT.

Aqueles períodos ficaram associados a técnicos oriundos da PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), como os formuladores do Plano Real, e da USP (Universidade de São Paulo) e da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), ligados à nova matriz econômica, de Dilma Rousseff.

Os especialistas de Bolsonaro se dividem em 27 grupos, que discutem temas variados, como segurança jurídica, reforma tributária e políticas de apoio à família.

Cada um deles é composto por cerca de cinco integrantes, alguns de mais de um desses times.

O deslocamento para Brasília se deve à atuação de servidores do governo Michel Temer que aceitaram colaborar com Bolsonaro na elaboração de um plano e formaram os primeiros grupos temáticos.

O recrutamento foi feito pelo economista Adolfo Sachsida, diretor-adjunto de estudos e políticas regionais, urbanas e ambientais do Ipea.

Militante de movimentos conservadores, Sachsida se aproximou de Bolsonaro em meados de 2017, quando o deputado federal ainda era do Patriota (ex-PEN).

0
Adolfo Sachsida é doutor em Economia pela UNB e advogado - Divulgação

Os dois se conheceram no Foro de Brasília, que questionava na Justiça políticas adotadas no governo do PT, como empréstimos feitos pelo BNDES para viabilizar obras no exterior.

Naquele momento, o capitão reformado do Exército —que já almejava disputar a Presidência— buscava um economista para organizar um grupo de assessoramento.

A pedido de Bolsonaro, Sachsida passou a recrutar colaboradores, muitos deles entre seus colegas do Ipea, como Alexandre Iwata, e da UnB.

Quando Bolsonaro migrou para o PSL, no início deste ano, o economista Paulo Guedes entrou em cena.

Sachsida então passou a coordenar os grupos de trabalho sob o comando de Guedes.

As equipes ganharam mais adeptos à medida que Bolsonaro avançava nas pesquisas eleitorais.

Sachsida passou também a ser a ponte entre os grupos de colaboradores da área econômica e os militares, que contribuíam de maneira isolada e que foram aglutinados nessas equipes poucas semanas antes da eleição.

Cada grupo tem um coordenador, responsável por enviar propostas e subsidiar os discursos do candidato.

De uma dessas equipes, liderada pelo economista Marcos Cintra, saiu a ideia do imposto único, que pretende reunir todos os impostos federais em uma tributação nos mesmos moldes da CPMF.

Na área de macroeconomia, estão Mario Jorge Mendonça (Ipea) e Roberto Ellery (UnB).

Marcio Bruno Ribeiro (Ipea) desenvolve modelos para verificar a efetividade das políticas que serão implementadas.

Sergei Soares (Ipea) se concentrou nas propostas para a área social, revisando os gastos com programas assistenciais do atual governo.

Na infraestrutura, Paulo Coutinho, diretor do Centro de Estudos em Regulação de Mercados, da UnB, coordena os diversos grupos ligados a telecomunicações, transportes e outros setores regulados.

O grupo de estímulo à concorrência, por exemplo, tem a coordenação do atual diretor de estudos econômicos do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), Guilherme Resende.

Ligado ao candidato ao governo de São Paulo João Doria (PSDB), Paulo Uebel, ex-secretário de Gestão da Prefeitura de São Paulo, cuida de propostas para o desenvolvimento regional e desburocratização da máquina pública.

Existem colaboradores que atuam em outros órgãos da administração federal.

No Congresso, por exemplo, os consultores Cesar Mattos e Igor Freitas enviaram propostas para a área de transporte e telecomunicações, respectivamente. Mattos foi conselheiro do Cade, e Freitas integrou o conselho diretor da Anatel.

Um dos maiores grupos é voltado a políticas para o agronegócio, liderado pelo economista José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho (Ipea).

​Nas relações exteriores, as colaborações são pilotadas por Marcos Troyjo, do BRICLab, da Universidade Columbia. Ele é colunista da Folha. Há também colaboradores de PUC-Rio, USP, Unifesp e FGV.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.