Mercado vislumbra cenário favorável para investimentos

Perspectiva de agenda liberal reforça aposta em ações e títulos prefixados

Cédulas de 50, 20 e 10 reais
Mercado financeiro espera vitória de Bolsonaro como melhor cenário para investimentos - Marcos Santos/USP Imagens
Tássia Kastner Anaïs Fernandes
São Paulo

A convicção do mercado financeiro com a vitória de Jair Bolsonaro (PSL) sobre Fernando Haddad (PT) no próximo domingo (28) retirou do radar de gestores o pior cenário para investimentos, melhorando as perspectivas inclusive para o pequeno poupador.

Esses profissionais projetam meses de maior otimismo e se posicionam para a retomada da economia, que, ponderam, tenderia a ocorrer em qualquer governo. 

A diferença é que ela pode ser favorecida pela boa receptividade de investidores à agenda liberal defendida pela chapa de Bolsonaro.

Com base nessas perspectivas, gestores ouvidos pela Folha afirmam que devem aumentar aplicações em Bolsa.

Investimentos em títulos públicos com taxas prefixadas e atreladas à inflação também devem crescer, mas as oportunidades serão mais rentáveis caso as reformas defendidas pelo candidato do PSL, como a da Previdência, efetivamente saiam do papel.

“Tudo mais constante, o Brasil tem uma recuperação econômica contratada para o próximo ano. Tem espaço para volta cíclica de atividade”, diz Bruno Marques, gestor de fundos multimercados da XP Asset Management.

Para Alexandre Silvério, diretor de investimentos da Az Quest, houve uma antecipação da reação esperada para o segundo turno logo após a primeira etapa da eleição, reflexo da larga vantagem obtida pelo capitão reformado do Exército nas urnas, além da ampla gama de parlamentares e da ascensão de governadores ligados a ele. Isso explicaria o momento mais benigno para investimentos mesmo a uma semana do pleito.

“Houve a percepção de que a onda política deve ensejar a vitória do candidato. A Bolsa, em alguma medida, foi o ativo que menos refletiu isso”, afirma Silvério. Para ele, haverá ainda mais espaço para altas adicionais no mercado após a confirmação do resultado.

Corretoras têm projetado que a Bolsa brasileira pode sair dos atuais 85 mil pontos para a faixa de 100 mil no curto prazo, reflexo dessa perspectiva de melhora na economia nos resultados das empresas.

Para o pequeno investidor, no entanto, a aplicação deve ser sempre feita mirando o longo prazo: em períodos menores, os preços dos ativos estão mais sujeitos a oscilações que podem levar a perdas caso o poupador precise vender a ação. 

Gestores evitam sinalizar papéis específicos como mais atrativos neste momento e destacam a necessidade de avaliar o desempenho individual de empresas e setores.

Nas últimas semanas, companhias estatais avançaram com força na Bolsa, alavancando junto o Ibovespa (o principal índice acionário do país). 

Para Marques, altas adicionais podem ocorrer caso ocorram privatizações e mudanças na gestão de estatais previstas por Paulo Guedes, guru econômico de Bolsonaro já indicado como ministro da Economia num eventual governo.

Silvério é mais cauteloso; afirma que as reações em Bolsa não deveriam ser vistas de forma equivalente, mas considerando as particularidades de cada companhia —especialmente quando é feito recorte por empresas sob o controle da União ou estados.

Marcelo Giufrida, sócio da Garde Investimentos, sugere ainda a distinção dentro de setores. Ele exemplifica: empresas de varejo estão no radar de gestores, mas eventos corporativos estão poluindo o cenário, como a decisão da TAM e da Gol de incorporar suas respectivas empresas de fidelidade, Multiplus e Smiles.

Pequenos investidores devem levar em consideração ainda que apenas uma parcela muito pequena dos recursos deve ser direcionada à renda variável, o que ficaria igualmente restrito a quem está disposto a correr riscos.

A maior parte dos recursos ainda deve ser alocada em ativos de renda fixa. Nessa categoria entram os títulos públicos, que podem ser adquiridos pelo Tesouro Direto. 

Nos últimos meses, o mercado absorveu incertezas sobre o futuro governo pedindo um prêmio maior pelo papel, afirma Hilton Notini, gerente de preços e índices da Anbima (associação das entidades do mercado de capitais). 

“Isso levou a um incremento nas taxas e, consequentemente, a uma queda nos preços dos títulos.” 

A taxa de juros de um título público é inversamente proporcional ao valor do papel: quando o juro sobe, o valor do título cai; quando o juro cai, o valor dele cresce. Por isso, o investidor que compra um título público com uma taxa de juro mais alta e vende quando a taxa cai ganha dinheiro.

Nas últimas semanas, investidores aproveitaram o alívio nos juros futuros negociados na Bolsa para negociar títulos no curto prazo e embolsar lucro. As taxas caíram no mesmo movimento de otimismo que levou a Bolsa a subir e o dólar a ceder.

Marques, da XP, considera que os juros de longo prazo já caíram bastante nas últimas semanas (veja quadro) e agora estão perto do menor patamar histórico, ao redor dos 9,5%. Na prática, isso limitaria novos ganhos para quem aplica mirando prazos menores.

Ganhos adicionais, dizem os especialistas, dependem de uma expectativa de mudança de patamar de juros na economia, o que está atrelado, na prática, ao reequilíbrio das contas públicas e da reforma. 
Isso ajudaria a reduzir a taxa de juros mínima que a economia precisa ter para não gerar inflação, o chamado juro neutro. Atualmente, com a taxa Selic em 6,5%, os juros são considerados expansionistas, em níveis que estimulariam o crescimento da economia.

Mas esse tipo de investimento que aposta na queda dos juros também apresenta riscos, por isso a recomendação é comprar títulos públicos associados a objetivos financeiros no futuro.

“Se a inflação continuar baixa e não houver grande recuperação no ritmo da economia, a Selic pode ficar estável no ano que vem. Mas, se acontecer um choque e os juros subirem, quem comprou o título [a taxas prefixadas] agora se lascou”, afirma Flávio Serrano, economista-sênior do banco Haitong.

Além disso, a volatilidade do mercado deve persistir mesmo com o atual otimismo.

“O grande fator otimista é a expectativa do mercado de que vai entrar um governo conservador que vai ajeitar as contas públicas. Mas, mesmo imaginando que Bolsonaro ganhe, ainda tem muita aresta para aparar”, diz Marcelo D’Agosto, consultor de investimentos. 
 

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