Por competição, bancos nos EUA dão bônus para atrair clientes

Estima-se que o valor gasto com recompensas seja próximo dos US$ 50 bilhões por ano

Fernanda Ezabella
Los Angeles

Quando o estudante americano Daniel Philips entrou num banco para abrir sua primeira conta corrente, aprendeu que poderia ganhar US$ 250 (R$ 1.000) sem muito esforço. A única contrapartida era depositar o salário de seu empregador, o McDonald’s.

Menos de um ano depois, Philips já arrecadou US$ 7.000 em bônus de bancos e abriu 34 contas bancárias. Ele também aproveita promoções de cartões de crédito, mas não com tanto vigor: tirou apenas quatro cartões neste ano e ganhou US$ 1.500.

A generosidade dos bancos americanos tem uma explicação simples: competição. 

 

Existem no país mais de 6.700 bancos. Estima-se que o valor gasto com recompensas seja próximo dos US$ 50 bilhões por ano. Só a American Express gastou US$ 7,6 bilhões em bônus de cartões de crédito em 2017.

“Quando viajo, abro conta em bancos específicos do estado. Já fiz em seis, como Flórida, Nova York e Indiana”, disse à Folha o estudante de negócios de 18 anos, morador de Cleveland, Ohio. “Minha família achava que estava louco, mas quando perceberam os resultados, queriam participar também. E quando indico, também ganho.”

Bancos fazem dinheiro quando o consumidor usa seu cartão via taxas pagas pelos lojistas e também por meio do balanço de sua conta, com juros sobre encargos não pagos. Um estudo de 2010 estimou em US$ 100 bilhões por ano a receita de taxa total proveniente de cartões de crédito, débito e pré-pagos.

“Essa receita, aliada a um baixo custo dos fundos e baixas perdas ao longo da última década, tornou o negócio de cartão de crédito mais lucrativo, acelerou a riqueza de ofertas e permitiu que os bônus de abertura de conta aumentassem”, explica Marc Bellanger, diretor sênior da agência Merkle, com 20 anos de experiência em marketing para grandes bancos.

No Brasil, onde cinco bancos concentram 85% do mercado, a história é outra. A única recompensa recorrente são os pontos coletados por uso do cartão de crédito, com os quais é possível trocar por passagens, hotéis e outros serviços. 

“Estamos num estágio muito anterior no Brasil. Ainda estamos tentando conseguir desconto nas tarifas a partir de um determinado volume de investimento”, diz o professor Ricardo Rocha, do Insper.

Para ele, a concentração bancária no país desestimula estratégias como as dos bancos americanos, além da baixa educação financeira dos brasileiros e baixa adesão ao sistema (30% dos adultos não têm conta bancária). 

Nos EUA, há quem faça boa parte de seus ganhos mensais tirando proveito da tal competição bancária. Eles pulam de cartão em cartão e abrem contas a rodo, fechando após coletar sua recompensa e antes de serem cobrados qualquer taxa. Para isso, dezenas de sites proliferam para avisar sobre novas promoções. 

Um dos sites mais populares é Doctor of Credit, fundado em 2013 pelo americano William Charles. Ele não divulga número de acessos, mas afirma ter mais de 300 mil comentários de leitores.

Charles conta que a melhor promoção recente foi a do banco Chase com seu cartão Chase Sapphire Reserve. Após gastar US$ 4 mil, clientes novos recebiam 100 mil pontos, equivalentes a US$ 1.000 em dinheiro ou US$ 1.500 em gastos com viagem. O cartão tem taxa anual de US$ 450, mas US$ 300 podem ser usados em compras de viagem. 

A promoção foi tão popular que, em duas semanas, o banco ficou sem metal para fabricar mais cartões. 
O escritor e viajante assíduo Dean Goodman, 49, colecionou mais de 20 cartões ao longo dos anos. Seu favorito é o Capital One, que lhe pagou bônus de US$ 400 após gastar US$ 3.000 em 90 dias, sem taxa no primeiro ano e sem taxa de uso internacional. 

Outra regalia é devolver porcentagens do dinheiro gasto. O Capital One devolve 2% dos gastos, e Goodman já recebeu US$ 85 neste ano. 

“É difícil acompanhar todos os cartões. É preciso tomar cuidado para não pagar taxas acidentais se você cair abaixo de um saldo diário mínimo ou se esquecer de pagar o cartão. E lembrar de cancelar na hora certa”, diz Goodman.

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