A escolha do almirante Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior para o cargo de ministro de Minas e Energia (MME) agradou, a princípio, os diferentes grupos que disputavam a indicação para a pasta.
No entanto, a nomeação de um militar à chefia do ministério gera dúvidas quanto à privatização da Eletrobras e às desestatizações da Petrobras, segundo especialistas do setor ouvidos pela Folha.
Para um analista alinhado ao mercado, o nome do almirante é melhor do que outros que vinham sendo aventados nos últimos dias.
Um dos candidatos ao cargo que havia ganhado força recentemente era o deputado federal Jaime Martins (Pros-MG), que teria sido indicado pelo próprio presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). Outros possíveis indicados, considerados mais técnicos pelo setor, eram Paulo Pedrosa, ex-secretário-executivo do MME --que em sua gestão trabalhou para privatizar a Eletrobras e fazer reformas consideradas importantes no setor-- e Adriano Pires, fundador da consultoria CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura) --um nome mais alinhado ao setor de óleo e gás e que tinha o apoio do MDB.
O atual ministro Moreira Franco (MDB-RJ) elogiou a indicação em suas redes sociais. "O presidente Bolsonaro acertou na indicação do Alm. Bento para o MME. Muito bem preparado para as responsabilidades técnicas e de comando do setor. Conhece o funcionamento e os desafios da convivência no parlamento e é de uma família de super dotados. Ricardo Paes de Barros [economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper] é seu irmão".
Um especialista que vinha defendendo a indicação de Adriano Pires também considerou a nomeação do almirante positiva. Afirmou que o militar será excelente para o setor de energia nuclear.
Em relação à privatização da Eletrobras, analistas reconhecem que o ministro indicado deverá ver o segmento de geração de energia como uma área estratégica para o país --tal como vinha sendo sinalizado por Bolsonaro.
No entanto, dizem que não necessariamente será contra privatizações, já que entre os militares há diversos liberais, como o próprio vice-presidente, o general Mourão.
Com a indicação de um militar, especialistas do setor esperam que nomes técnicos ocupem os cargos de secretários, logo abaixo do ministro.
Em nota, a Abradee (associação das distribuidoras de energia) elogiou a escolha e se colocou "à disposição para contribuir para os aperfeiçoamentos que o setor elétrico tanto necessita". "Para isso, esperamos a formação de uma equipe técnica qualificada, que preze pelo diálogo e a boa convivência e continue o trabalho iniciado nas gestões anteriores", afirmou o presidente da entidade, Nelson Leite.
O novo ministro ainda é uma incógnita, mas a perspectiva é positiva, avalia Christopher Vlavianos, presidente da Comerc, uma das maiores comercializadoras de energia do país.
Para ele, a equipe de secretários que serão escalados será determinante. Outro fator decisivo, diz ele, será a capacidade de articulação com o Congresso para aprovar medidas importantes ao setor, como o novo marco regulatório do setor elétrico, em tramitação no Congresso.
A Absolar, associação da indústria de energia solar, também comemorou a escolha.
O novo ministro
Nascido na capital do Rio de Janeiro, o almirante começou sua carreira na Marinha em 1973. Hoje, ele ocupa o cargo de diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha.
Além de sua formação naval, possui pós- graduação em Ciências Políticas na Universidade de Brasília, MBA em Gestão Internacional na Universidade Federal do Rio de Janeiro e MBA em Gestão Pública na Fundação Getúlio Vargas.
Ele já foi assessor parlamentar do gabinete do Ministro da Marinha no Congresso Nacional e secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha.
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