Brasil teve crise de 1º mundo, mas reagiu como subdesenvolvido, diz Krugman

Economista americano diz que governo errou ao aumentar a taxa de juros e cortar gastos

Flavia Lima
São Paulo

O Brasil teve uma crise econômica de primeiro mundo, mas reagiu a ela como um país subdesenvolvido, o que não foi acertado, disse nesta quarta-feira (12), Paul Krugman, um dos economistas mais influentes do mundo, professor de Princeton e Nobel de Economia.

Em evento organizado pelo Experience Club, empresa de eventos corporativos, em São Paulo, Krugman criticou duramente a forma como o país reagiu à recessão que se iniciou em 2014.

Segundo Krugman, o Brasil enfrentou deteriorações importantes no ambiente externo, como a forte queda dos preços das commodities e deterioração dos termos de troca —grandes choques que estavam fora do controle do país. 

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O economista Paul Krugman - Zanone Fraissat - 24.out.15/Folhapress

Países como Canadá e Austrália passaram por problemas semelhantes, lembrou ele, mas se saíram melhor porque lidaram com os entraves de forma diferente. 

Para ele, o problema clássico dos mercados emergentes é o endividamento em moeda estrangeira, algo que causou da crise argentina de 2001 à crise asiática ou mexicana na metade dos anos 1990. "Mas esse não foi o problema aqui.” 

O Brasil, disse o economista, teve uma "crise de primeiro mundo", com forte alta do consumo e posterior endividamento das famílias. Mas, no lugar de deixar a moeda depreciar, como outros países fariam, o Banco Central brasileiro optou por aumentar a taxa de juros fortemente com medo da inflação. 

“As pessoas achavam que estavam nos anos 1990 por aqui, não estavam”, disse.

Além do forte aperto monetário, afirmou Krugman, o país começou a cortar gastos, o que deve ser feito em períodos de boom, não de queda da economia, disse ele, ao ressaltar que não ignora que o país enfrenta um forte problema fiscal.

Para Krugman, as políticas monetária e fiscal foram uma "má ideia” e resultaram em desemprego elevado. 

O Brasil, disse ele, tem um quadro de desequilíbrio fiscal que deve ser enfrentado no longo prazo. 

Com relação à guerra comercial global, o economista disse que o Brasil pode se beneficiar dela, ao exportar mais commodities, em especial a soja, para o mercado chinês. 

Segundo Krugman, há uma preocupação real com o cenário de guerra comercial, pois o presidente dos EUA, Donald Trump, "é um homem que pode fazer as coisas acontecerem", mas afirmou que seu palpite é que o imbróglio não vai acabar mal. 

"Não acredito que a guerra comercial será o gatilho para a próxima crise", disse. Ele ressaltou que a próxima crise pode ser uma combinação de algumas coisas, como alavancagem das empresas, altos riscos tomados por parte do sistema financeiro, problemas vindos de emergentes e uma bolha tecnológica -- nada na magnitude dos anos passados.  

Segundo ele, não há grandes problemas nos fundamentos econômicos na economia global, o que dá espaço para um "otimismo moderado", misturado a certa cautela. 

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