Do US$ 1 tri a escândalos, big techs têm ano de altos e baixos

Recorde na Bolsa, incertezas sobre crescimento e investigações marcam 2018

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São Paulo

O ano para as ações das principais empresas de tecnologia pode ser dividido em valorização até meados de setembro e declínio de outubro em diante. O movimento levou companhias como o Facebook a registrar perda de 25% em 2018 —primeira queda desde a abertura de capital, em 2012.

Apesar do recuo nas Bolsas americanas, de multas e depoimentos ao Congresso, 2018 foi um ano de receitas recordes para as integrantes do Faang, acrônimo de Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google (controlada pela Alphabet), ou Famg (que exclui Netflix e inclui a Microsoft). 

Com destaque, Apple e Amazon conquistaram uma marca inédita. Foram as pioneiras em atingir o valor de mercado de US$ 1 trilhão (R$ 3,8 trilhões), em agosto e setembro, respectivamente. 

A empresa cofundada por Steve Jobs aproveitou a liderança em smartphones caros para surfar no otimismo do mercado americano.

Já a Amazon dá sinais, ano após ano, de que revolucionou o varejo de forma irrevogável e de que pode se expandir mais para mercados promissores, como Índia e Brasil.

Vendedora em loja da Apple em Pequim; gigante de tecnologia pode sofrer com guerra comercial entre Estados Unidos e China Shop
Vendedora em loja da Apple em Pequim; gigante de tecnologia pode sofrer com guerra comercial entre Estados Unidos e China Shop - Greg Baker/AFP

Para Eduardo Glitz, sócio da StartSe, a marca da Apple foi mais uma consequência da Bolsa americana do que de perspectiva de inovação, ao contrário da Amazon.

"A Apple não lançou um produto que mudou a história da empresa. Ela reposicionou o preço do iPhone, mas não entrou em um mercado completamente novo em que passou a ser relevante. A Amazon também foi positivamente impactada pela Bolsa, mas ainda tem a figura de Jeff Bezos, homem mais rico do mundo, querendo inovar e pode tomar diversos mercados que não tomou."

Entre suas novidades anuais, a Apple lançou um Apple Watch com eletrocardiograma, que capta a frequência cardíaca dos usuários pelo relógio, e fez adaptações em seus aparelhos, como aumentar a tela e a resistência à água.

Alguns pontos, entretanto, preocuparam investidores no último trimestre.

A previsão de crescimento máxima de 5% de receita anual durante a temporada de festas, o anúncio de cortes a fornecedores do iPhone, a decisão de não divulgar números sobre a venda de aparelhos (como smartphones e iPads) e as consequências da guerra comercial entre EUA e China estão entre os receios que permanecerão em 2019.

"Existe uma grande cautela sobre os impactos da tensão comercial no setor de tecnologia, até porque boa parte dos consumidores da Apple está na China. Se houver mais barreiras para chegar ao país asiático, as perspectivas das empresas que dependem desses consumidores também serão afetadas", diz Arthur Siqueira, sócio da GEO Capital.

Além disso, a empresa chegou a um ponto de maturidade em que a perspectiva de aumentar a base instalada é baixa.

Analistas dizem que, para continuar crescendo, a companhia californiana precisa criar uma camada de serviços e fazer com que as pessoas migrem de produtos diferentes na mesma plataforma, gastando recursos na Apple Pay, Apple Music e App Store.

"Mesmo que o sistema iOS tenha uma frente menor de mercado em relação ao Android, ela tem uma captura de valor muito acima da dos usuários Android. A empresa tinha cerca de US$ 200 bilhões [R$ 774 bilhões] em caixa no início do ano, suficientes para comprar a Disney. Para os investidores, o que a Apple vai fazer com o dinheiro é uma pergunta ainda sem resposta", diz Maximiliano Carlomagno, fundador da Innosciense, consultoria em gestão da inovação. 

A Amazon, por sua vez, transcendeu o conceito de comércio eletrônico pelo qual foi reconhecida nas últimas duas décadas. Adquiriu a cadeia de supermercados Whole Foods Market, com cerca de 470 lojas, para reduzir a logística para a entrega de alimentos, e abriu lojas da Amazon Go, em que o processo é automatizado e dispensa atendentes. 

Sua maior fonte de riqueza ainda está na nuvem, no Amazon Web Services, que respondeu por US$ 2,1 bilhões (R$ 8,1 bilhões) de US$ 3,7 bilhões (R$ 14,3 bilhões) de lucro no terceiro trimestre. 

Especialistas dizem que, mesmo com aquisições e solidez nos negócios, as ações dessas duas marcas tendem a sofrer mais devido ao alto otimismo embutido nelas. Um ponto positivo é que elas, ao lado da Microsoft (que chegou a ultrapassar a Apple em um pregão) e da Netflix, se afastaram de polêmicas notórias que levaram Facebook e Google ao Congresso.

A companhia de Mark Zuckerberg, apesar de manter uma trajetória satisfatória nos negócios, teve o ano marcado por escândalos de uso irregular de dados de março a dezembro.

Iniciou com o caso envolvendo a consultoria política Cambridge Analytica e terminou com investigações de jornais americanos que mostram que ela beneficiou outras empresas com dados não consentidos por seus usuários.

O Google foi alvo de multas da União Europeia, na ordem € 4 bilhões (R$ 19 bilhões), e desprotegeu dados pessoais de 52 milhões de pessoas sua rede social Google+, que será encerrada em abril.

"Apesar dos escândalos, o Facebook vai bem em termos operacionais. Seu lucro será recorde, e a taxa de crescimento, uma das maiores na tecnologia. O Google provavelmente terá um horizonte tranquilo, exceto por novas multas da Europa", diz Tiago Reis, presidente da Suno Research.

Além da manutenção da pressão regulatória sobre as empresas americanas no próximo ano, o mercado estará de olho na abertura de capital de marcas como Uber e Lyft e, possivelmente, Airbnb e Pinterest.

A China será outro ponto de atenção na tecnologia em 2019, com a ascendência de marcas como Tencent, ByteDance e Alibaba.

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