Inteligência artificial faz trabalho de contador

Startups investem em tecnologias para cumprir funções repetitivas, como preencher formulários e recolher impostos

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São Paulo

Startups querem deixar para os robôs atividades como pesquisar a alíquota de imposto que deve ser paga em cada venda, organizar informações sobre entradas e saídas de recursos, preencher formulários de recolhimento de imposto e digitar dados de extratos e notas fiscais.

Com isso, esperam mudar a rotina de contadores e a relação que as empresas menores têm com esses profissionais.

A Contabilizei, de Curitiba, recebeu em janeiro R$ 75 milhões de fundos de investimento para avançar em projeto do tipo. Ela aposta em automação para atender a partir da internet 10 mil pequenas empresas com uma equipe de 25 contadores, de um total de 240 funcionários —boa parte dedicada à área de tecnologia.

O sistema da startup calcula o valor de impostos que deve ser pago e acelera o preenchimento de declarações a partir das notas fiscais emitidas digitalmente pela empresa cliente.

Vinicius Bastos, sócio da Munddo, que passou a usar tecnologia na contabilidade  
Vinicius Bastos, sócio da Munddo, que passou a usar tecnologia na contabilidade   - Gabriel Cabral/Folhapress

Vitor Torres, fundador e presidente da empresa, diz que a ideia é automatizar todo o trabalho repetitivo, que, afirma, toma a maior parte do tempo da maioria dos profissionais da área. Segundo Torres, o avanço da tecnologia irá mudar o papel do contador, passando a orientar seus clientes na gestão do negócio.

“Antes, com a quantidade de trabalho manual envolvido nas operações contábeis, sobrava menos tempo para o contador colocar sua inteligência de interpretação de dados a favor dos empresários.”

Outra empresa jovem que quer mudar dinâmicas de apuração e pagamento de impostos é a Omiexperience, , , que fornece um sistema para organizar as informações financeiras de pequenas empresas.
A companhia passou a usar inteligência artificial na emissão de notas fiscais em outubro.

No serviço da startup, quem faz uma venda para outra empresa informa o produto, seu CNPJ e o do comprador. O software analisa qual a situação em que a operação se enquadra e as regras que devem ser aplicadas, incluindo valor do imposto a ser pago e por quem deve ser recolhido.

Marcelo Lombardo, fundador da Omiexperience, diz que, com o avanço da tecnologia, não será mais preciso que o contador use seu tempo pesquisando se houve mudanças na lei e conferindo se há erros no modo como a empresa paga seus impostos.  “[Na relação tradicional] O contador ainda atua como auditor de nota fiscal, buscando erros quando o estrago já está feito.”

Vinicius Roveda, fundador da Conta Azul, também fornecedora de sistema de gestão para pequenas empresas, diz que o contador deve ser mais participativo na administração dos negócios de seus clientes conforme a tecnologia avance.

Em outubro, a companhia começou a fornecer para parte dos clientes versão de seu software que, a partir de integrações com sistemas bancários e da Receita, identifica e classifica entradas e saídas da conta da empresa e as envia em tempo real para seu contador.

“O contador passa a enxergar o que acontece na empresa do cliente em tempo real. Antecipa problemas que antes ele só veria um mês depois.”

Vinicius Bastos, sócio da Munddo, que importa kits para automação residencial, diz que a tecnologia deu mais agilidade e diminuiu os erros.

Antes de adotar sistema para automatizar o preenchimento de notas, um profissional da empresa fazia uma revisão das alíquotas dos produtos para atualizar os valores a serem lançados a cada dois meses.

Como seria possível haver mudança entre uma conferência e outra, Bastos diz que nem sempre dava para trabalhar com os percentuais corretos.

Reynaldo Lima Junior, presidente do Sescon-SP (sindicato que reúne escritórios contábeis), diz acreditar que o avanço da inteligência artificial sobre as atividades repetitivas da contabilidade é inevitável e positivo. 

“Dizem que a profissão vai acabar em dez anos. Acho que não, ela vai se tornar muito mais intelectual”, diz ele.

O escritório de contabilidade Roit, de Curitiba, decidiu aderir à tecnologia e criou, no ano passado, um sistema que lê documentos fiscais e extrai as informações mais importantes.

Antes, o escritório recebia a cada 15 dias pastas com centenas de notas para serem classificadas e terem as informações digitadas no computador.

Agora, a companhia fornece aos clientes um escâner para permitir o processo de envio das informações para o robô.

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