Contratada grávida de gêmeos, executiva foi promovida na licença maternidade

Para diretora-executiva do banco UBS, ter sido transparente durante a entrevista foi importante para ganhar confiança de novo empregador

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São Paulo

Teodora Barone, 31, combinou com o marido adiar os planos de terem filhos quando ela recebeu um convite para participar de uma entrevista de emprego no banco UBS, em fevereiro do ano passado. O que não sabia é que já estava grávida, de gêmeos.

O executivo que liderava a seleção foi o terceiro a saber da novidade. Depois de contá-la para sua mãe e seu marido, Teodoraagendou uma conversa com o futuro chefe no dia seguinte a visita ao médico.

Ela diz que o tema da gestação não foi colocado como tópico que definiria sua contratação pelo banco em nenhum momento, mas afirma que ter sido transparente fez a diferença para que a vaga de diretora que pleiteava fosse sua.

"Como meu trabalho é o de negociar assuntos críticos, sabia muito bem que não se coopera com assimetria de informação. As cartas precisam estar abertas na mesa."

Teodora começou no novo emprego em julho. Segundo ela, o desafio duplo de assumir uma nova atividade profissional enquanto esperava o nascimento dos bebês não trouxe insegurança, mas a fez ter pressa.

Teodora Barone, diretora-executiva do banco UBS, fez sua entrevista de emprego grávida de gêmeos e foi promovida durante a licença maternidade - Zé Carlos Barretta/Folhapress

"Tinha que demonstrar minha competência rápido e gerar valor para o banco antes que os bebês nascessem e, ao mesmo tempo, cuidar de mim para que meus filhos viessem ao mundo saudáveis", diz.

Na empresa, além de ser responsável por operações de fusão e aquisição e emissão de ações em setores como tecnologia, mídia, telecomunicações, educação e imobiliário, passou logo a percorrer vários departamentos da companhia para estar pronta para assumir qualquer reunião ou projeto em caso de emergência.

Porém, três meses depois de começar na nova atividade, soube que já teria de entrar de licença, antes do esperado, pois havia o risco de um parto prematuro.

Mas o trabalho não parou.

"Fazia as reuniões por telefone e apresentações via videoconferência. Como meus principais clientes já me conheciam, sabiam que embora não presente fisicamente, eu estava a par e revisando tudo o que estava acontecendo."

Teodora afirma ter seguido ativa por iniciativa sua, por entender que aquele era um momento crucial do país, que vivia eleições presidenciais.

Pedro e Victoria nasceram em outubro e Teodora tirou seis meses de licença para cuidar dos filhos. No meio desse período, veio nova surpresa, a promoção para o cargo de diretora-executiva.

Ela diz acreditar que o reconhecimento foi resultado de sua competência e de seu desejo de trazer resultados para o banco.

"Junto com o time consegui trazer projetos para o banco durante meu repouso e durante minha licença."

Segundo ela, casos como o seu são raros por dois motivos: a falta de mulheres no mercado financeiro e o machismo que permeia toda a sociedade.

Em sua experiência, esse preconceito apareceu principalmente em situações em que homens repetiam o que ela tinha acabado de dizer em reuniões, como se a ideia fosse deles (o que foi apelidado de  "mansplaining".). Para enfrentar isso, desenvolveu uma estratégia pessoal.

"Quando um homem fala por cima de mim ou repete o que eu acabei de falar, eu concordo, (como se eu não tivesse percebido, e complemento a fala dele com uma nova informação que estava já guardada no meu bolso", diz.

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