Governo Bolsonaro busca aproximação com empresários

Em 2 dias, presidente e vice se reúnem com representantes de companhias em SP

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São Paulo

Embora já estivessem organizados havia cerca de um mês, dois eventos que reuniram o empresariado com a alta cúpula do governo nesta semana em São Paulo ganharam uma nova proporção depois que foi deflagrada a crise política entre o Planalto e o Congresso na esteira da reforma da Previdência.

Na terça-feira (26), uma visita do vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), ultrapassou a capacidade do auditório da entidade, na avenida Paulista.

Chegaram mais de 700 representantes da empresas para ocupar os 456 lugares do teatro, levando a organização a ligar telões em salas anexas e até no 15º andar, no espaço reservado para as reuniões da diretoria.

Mourão discursou defendendo a reforma da Previdência e ressaltou o valor do diálogo com o setor privado.

Conforme um empresário presente, o vice-presidente chegou acompanhado de vários generais, fez um excelente discurso e passou ótima impressão.

Assumiu compromisso com a liberdade, citando três exemplos: expressão, religião e escolha. E em um afago a Bolsonaro afirmou que o presidente é um democrata.

As palavras preparado, articulado e ponderado foram as mais usadas para descrever o vice —adjetivos que não têm sido dirigidos a Bolsonaro.

Mais tarde, Mourão seguiu para um jantar informal na casa do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, para o qual foram convidados 30 empresários e executivos de peso, como André Gerdau (Grupo Gerdau), Flavio Rocha (Riachuelo), Josué Gomes da Silva (Coteminas) e David Feffer (Suzano).

A lista abrange uma série de chefes de grandes empresas como Marcelo Melchior (Nestlé), Fabio Coelho (Google Brasil), Frederico Curado (Ultra), Paulo Cesar de Souza e Silva (Embraer), entre outros.

O ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Nelson Jobim e o maestro João Carlos Martins, da orquestra do Sesi-SP, também foram chamados por Skaf, que bancou o jantar como pessoa física.

À mesa de Mourão sentaram-se, de um lado, o ex-ministro e hoje secretário da Fazenda de São Paulo, Henrique Meirelles, e de outro, o empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, fundador das concessionárias Caoa.

Embora o jantar não tivesse sido pautado para tratar da escalada retórica entre Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), uma disputa que ameaça a aprovação da reforma, o assunto dominou as rodas de conversas na noite.

Nesta quarta-feira (27), foi a vez de Bolsonaro falar diretamente com empresários.

Após cancelar um evento na Universidade Mackenzie em razão de protestos de alunos, Bolsonaro foi ao bairro do Morumbi, na casa de Elie Horn, fundador da Cyrela e um dos apoiadores de sua candidatura.

A reunião, que também já estava marcada com antecedência, foi um evento benemérito para arrecadar doações para a Unibes (União Brasileiro-Israelita de Bem-Estar Social), como parte dos projetos de filantropia desenvolvidos por Horn.

A expectativa, porém, entre os convidados era que a reunião se transformasse em um ato de apoio dos empresários mais próximos do presidente.

Dessa vez, além de Flavio Rocha, que comparecera ao jantar de Mourão, reuniram-se nomes próximos de Bolsonaro, como Sebastião Bonfim (Centauro) e Meyer Nigri (Tecnisa), além de Benjamin Steinbruch (CSN), Michael Klein (Grupo CB) e outros.

Parte dos jornalistas foi impedida de chegar à rua onde fica a casa de Horn. 

Assim como fez Mourão na Fiesp na noite anterior, Bolsonaro defendeu a reforma.

"O passar do tempo ajuda os parlamentares a entender o que é a reforma da Previdência. Eu fui parlamentar por 28 anos, eu sei das pressões. Estamos fazendo isso não é por nós, é por nossos netos", disse.

O presidente ficou no local por cerca de 40 minutos apenas. De acordo com um dos presentes, ele teve de sair porque a primeira-dama Michelle Bolsonaro teve um mal-estar.

Segundo um empresário, levantou-se um interesse natural pelos eventos diante da insegurança gerada no mercado, depois que complicou a tramitação da reforma da Previdência, com a briga pública entre Bolsonaro e Maia.

Skaf já vinha tentando trazer Mourão para um evento na entidade, mas —coincidência ou não— conseguiu uma confirmação para esta semana.

O presidente da Fiesp então alterou as datas das reuniões semanais de Fiesp e Ciesp para caber na agenda do vice.

Segundo uma pessoa com vivência na política empresarial, o afago do empresariado a Mourão e as cobranças sofridas por Bolsonaro não são nenhum tipo de golpe contra um presidente eleito com larga maioria pela população, mas sim uma "luz amarela".

Ou, nas palavras de um banqueiro, um a espécie de "hedge", pois o rumo do país está imprevisível com a briga entre Planalto e Congresso.

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